17 bilhões de Terras derrotam
conservadorismo científico.
A Via Láctea pode abrigar pelo menos 17 bilhões de planetas
do tamanho da Terra, com condições para manter água em estado líquido em sua
superfície.
Conservadorismo
científico
Há alguns meses, a renomada revista Nature Geoscience
causou desconforto na comunidade científica ao defender uma posição
ultraconservadora.
Em um editorial intitulado One and only Earth - Uma, e uma única Terra, em tradução
livre - a revista usou dados do telescópio espacial Kepler, que pesquisa
planetas fora do Sistema Solar, para defender uma posição tipicamente
geocêntrica, vencida séculos atrás pela própria ciência.
"Relatórios da missão Kepler aumentaram as esperanças
de encontrar um planeta como a Terra. No entanto, a nossa Terra é provavelmente
única - não apenas por causa de sua distância do Sol, mas também porque tem
coevoluído com as formas de vida que tem hospedado," diz a revista.
Muitos afirmaram que a posição da revista era a defesa do
conservadorismo científico contra a chamada Hipótese de Gaia, proposta por
James Lovelock.
De qualquer forma, menos de um ano depois do controverso
editorial, a própria equipe do telescópio espacial Kepler anunciou resultados
que, se fosse necessário, varreriam de vez para debaixo do tapete quaisquer
saudosistas geocêntricos.
Segundo os dados mais recentes, até uma em cada seis
estrelas pode ter em sua órbita um planeta do tamanho da Terra.
Com base nesse dado, os astrônomos fizeram uma extrapolação
e chegaram a uma estimativa de que podem existir nada menos do que 17 bilhões
de planetas parecidos com a Terra apenas na nossa própria galáxia, a Via Láctea.
A chance de que a Terra seja um planeta absolutamente único
dentre 17 bilhões, como defende a Nature Geoscience, é de 0,0000001%.
Para comparação, os físicos aceitaram o bóson tipo Higgs como uma
descoberta científica genuína com
uma chance de 0,0001% de estarem errados, o que é uma chance de erro três
ordens de grandeza maior.
É fato que o número 17 bilhões está repleto de incertezas,
e deverá ser recalculado muitas vezes antes que possamos ter qualquer coisa
mais próxima do que se poderia chamar de um censo planetário galáctico. Mas o
que importa aqui é a tendência apresentada pelos dados, uma tendência que foge
do "um", ou do "único", e caminha tranquilamente, sem medo,
entre o "muitos", para a diversidade e para a multiplicidade.
Ou seja, os próprios dados mostram uma vez mais, e sempre
mostrarão, que o conservadorismo - a tentativa de "conservar" tudo
como está, sobretudo o conhecimento - é incompatível com a ciência, e que, mais
dia, menos dia, cai por terra, ou se dilui pelo espaço.
Os dados mostraram mais uma vez que o conservadorismo - a
tentativa de "conservar" tudo como está, sobretudo o conhecimento - é
incompatível com a ciência, e cai por terra mais dia, menos dia.
Planetas em
trânsito
A estimativa do número de planetas parecidos com a Terra
foi anunciada durante o mesmo evento que apresentou a descoberta de vários novos planetas
na zona habitável.
O astrônomo François Fressin, do Centro Harvard-Smithsonian
para Astrofísica, queria descobrir não somente quais candidatos detectados pelo
Kepler podem não ser planetas, mas também quantos planetas podem não ser
visíveis pelo Kepler.
"Temos que corrigir duas coisas. Primeiro, a lista de
candidatos do Kepler é incompleta", disse ele em uma entrevista à BBC.
"Nós somente vemos os planetas que estão em trânsito
pelas suas estrelas hospedeiras, estrelas que por acaso têm um planeta que está
bem alinhado para que nós o vejamos. Para cada um deles, há dezenas que não
estão nessas condições", explica.
"A segunda grande correção é na lista de candidatos -
há alguns que não são planetas verdadeiros transitando sua estrela hospedeira,
são outras configurações astrofísicas", diz.
Isso pode incluir, por exemplo, estrelas binárias, nas
quais uma estrela orbita outra, bloqueando parte da luz conforme as estrelas
"transitam" umas à frente das outras.
"Nós simulamos todas as possíveis configurações em que
podíamos pensar - e descobrimos que elas poderiam representar apenas 9,5% dos
planetas Kepler, e que todo o resto são planetas genuínos", explicou
Fressin.
Um mundo de
Terras
Os resultados sugerem que 17% das estrelas hospedam um
planeta com tamanho até 25% superior ao da Terra, com órbitas fechadas que
duram apenas 85 dias ou menos - semelhante ao do planeta Mercúrio.
Isso significa que a galáxia abrigaria pelo menos 17
bilhões de planetas do tamanho da Terra.
William Borucki, um dos líderes da missão do Kepler, se
disse "encantado" com os novos resultados - apenas os resultados
concretos anunciados no mesmo evento, e não as estimativas.
"A coisa mais importante é a estatística - não
encontramos somente uma Terra, mas cem Terras, que é o que veremos com o passar
dos anos com a missão Kepler - porque ele foi desenvolvido para encontrar
várias Terras", disse.
O astrofísico brasileiro J. Ferrari da Universidade de São
Paulo, afirma que. “Os Planetas do tamanho da Terra, não podem ser observados
pelo Kepler alem dos limites de sua capacidade fora da zona habitável, isso
porque o tamanho também tem muita influencia. Tanto para o clima como para seus
habitantes. Os planetas registrados até agora, mais de duzentos, são do tamanho
de Júpiter ou mais”.
“Quanto às binárias com planetas, seria impossível
existência de vida devido o calor. Por hora devemos nos contentar no que já
existe. E cuidar muito bem do nosso. O que importa para nós, não são a
quantidade e sim a qualidade”. Completa ele. em uma entrevista à BBC.
Fonte: Jurandir Ferrari - BBC -USP