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quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

TRANSGÊNICOS - EUA - Projetos para rotular transgênicos chegam ao Congresso dos Estados Unidos

Projetos para rotular transgênicos chegam ao Congresso dos Estados Unidos

por Carey L. Biron, da IPS

Washington, Estados Unidos, 26/4/2013 – O esforço de uma década nos Estados Unidos para rotular os alimentos com ingredientes geneticamente modificados recebeu um impulso significativo esta semana, com a entrada nas duas casas do Congresso de dois projetos de lei. É a primeira vez que uma iniciativa deste tipo é apresentada no Senado em mais de dez anos, período em que o uso de organismos geneticamente modificados aumentou de forma exponencial. Caso sejam aprovados, os Estados Unidos se unirão aos 64 países no mundo que já contam com normas e leis semelhantes.
“Os norte-americanos têm direito de saber o que contêm os alimentos que ingerem, para tomarem melhores decisões em relação às suas famílias”, afirmou a senadora Bárbara Boxer, do governante Partido Democrata, após a apresentação dos dois projetos no dia 24, dos quais é defensora. Boxer também foi autora de uma proposta de característica semelhante em 2000. Na época, o projeto de lei foi uma iniciativa pessoal e não teve mais apoio. Mas a iniciativa atual já conta com apoio de nove senadores e 21 representantes, entre os quais dois do opositor Partido Republicano.
“Este projeto conta com apoio de uma ampla coalizão de grupos de consumidores, empresários, agricultores, pescadores e pais, para os quais os consumidores merecem mais, e não menos, informação sobre os alimentos que compram”, destacou Boxer. Na verdade, parece que a opinião pública está esmagadoramente a favor do novo projeto, que obrigará a Agência de Alimentos e Medicamentos (FDA) a solicitar dos fabricantes de comestíveis que rotulem seus produtos caso contenham organismos transgênicos.
A FDA, vinculada ao Departamento de Saúde, é o principal órgão regulador dos alimentos. Segundo inúmeras pesquisas realizadas nos últimos anos, mais de 90% dos consultados neste país são a favor de que a FDA exija o rótulo em alimentos com ingredientes transgênicos. Contudo, durante anos, a própria FDA rejeitou pedidos semelhantes, apesar de ter autoridade legal para determinar uma mudança dessas características. Pelo contrário, a política atual continua sendo a de que os transgênicos não são “materialmente” diferentes dos alimentos sem manipulação genética.
O fundamento por trás desta postura é que os consumidores não podem sentir fisicamente a diferença entre os dois alimentos. “Lamentavelmente, a política antiquada da FDA não acompanha as mudanças tecnológicas do século 21, que permitem uma vasta variedade de mudanças genéticas e moleculares nos alimentos, que não podem ser detectados pelos sentidos humanos”, diz uma declaração da senadora Boxer e do representante Peter DeFazio, que apresentou o projeto de lei na Câmara de Representantes.
Essa prova não é consistente com as três mil substâncias que a própria FDA já obriga a rotular. “A questão é que há muito tempo a FDA se dedica à política e não à ciência”, disse à IPS o diretor para assuntos governamentais do Centro para a Segurança Alimentar, Colin O’Neil. “Milho que produz seu próprio inseticida, um peixe que cresce duas vezes mais rápido que o normal, ou uma maçã que não apodrece em 30 dias, sabemos que são mudanças materiais e que são alimentos novos”, pontuou.
Há cerca de 15 anos, os consumidores norte-americanos comem cada vez mais transgênicos, quase sempre sem rotulagem. Vários estudos estimam que quase dois terços dos alimentos processados vendidos atualmente nos Estados Unidos contêm grãos com modificações genéticas, em especial milho e soja.
Seu uso começou nos Estados Unidos, mas se propagou a todo o mundo e agora os cultivos transgênicos ocupam mais de 10% das terras agrícolas. Em 2010, mais de 80% da soja era transgênica. Nos últimos anos, aumentou muito a preocupação da população com este assunto. Porém, o debate sobre a manipulação genética costumar ficar parado em discussões sobre o que a ciência concluiu, ou não, a respeito.
Devido em parte à necessidade de estudos de longo prazo e à relativa novidade da generalização de seu uso, os resultados das pesquisas apoiam tanto os partidários quanto os opositores da manipulação genética. De todo modo, os novos projetos de lei evitam completamente o debate científico, para se concentrar apenas em questões de informação pública e liberdade de escolha dos consumidores.
“O governo não rotula os alimentos perigosos, os retira do mercado”, disse O’Neil. Isto é, “os alimentos não precisam ser perigosos para serem rotulados”, explicou. “Quando a FDA exigiu que os alimentos irradiados fossem rotulados, por exemplo, seu argumento não girava em torno das ‘mudanças materiais’ dos alimentos, mas simplesmente em se os consumidores sentiam que o desconhecimento do fato os estava enganando”, argumentou.
Sobre o novo projeto, O’Neil disse: “É um avanço muito significativo” para o movimento a favor da rotulagem. “A indústria infundiu muito medo quando a senadora Boxer apresentou pela primeira vez (2000) seu projeto de lei, mas o diálogo mudou drasticamente desde então. Já não se trata de haver ou não rótulos, mas quando serão exigidos”, concluiu.
Além do apoio público, o novo projeto de lei conta com o apoio crescente de empresas e governos estaduais. Só este ano, cerca de 50 projetos de lei em 26 Estados pediam a rotulagem de transgênicos. Mais de cem companhias já deram seu apoio público ao novo projeto de lei federal. Outras tomaram medidas semelhantes, por exemplo, a rede Whole Foods prometeu, no começo deste mês, etiquetar todos os alimentos transgênicos que oferecer até 2018.
Sindicatos de agricultores apoiam a iniciativa devido aos obstáculos que surgiram para a exportação já que os Estados Unidos estão atrasados na matéria. Na verdade, aprovados os projetos, simplesmente será obrigatório que os produtores façam para os consumidores norte-americanos o mesmo que fazem para muitos mercados de exportação.
Envolverde/IPS - JORNALISMO & SUSTENTABILIDADE
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TRANSGÊNICOS - Greenpeace destrói plantações experimentais de trigo transgênico na Austrália

Greenpeace destrói plantações experimentais de trigo transgênico na Austrália

Ativistas da organização destruíram plantações sob alegação que agência científica australiana tinha vínculos com a Monsanto



Foto: EFE
Ativistas do Greenpeace durante ao ataque ao campo de trigo: riscos contra a saúde
Ativistas da organização Greenpeace destruíram nesta quinta-feira (14) plantações experimentais de trigo transgênico em um centro de pesquisa na Austrália, informou a imprensa local. 

Os ativistas invadiram a estação da Organização para a Pesquisa Industrial e Científica da Comunidade da Austrália (CSIRO, na sigla em inglês), em Ginninderra, próximo a Canberra, e destruíram toda a colheita do trigo transgênico experimental. O centro dedicava meio hectare à produção de trigo modificado geneticamente, no primeiro teste no exterior deste tipo de cultivo na Austrália, onde até agora não esteve autorizado. 


O ataque ocorreu depois de a CSIRO ter se recusado a fornecer mais informações sobre os experimentos que o centro foi autorizado a praticar para testar o novo trigo com humanos, informou a agência local AAP. "A única razão pela qual a CSIRO cultivou este trigo é porque foi comprado por companhias estrangeiras", disse uma ativista do Greenpeace, Laura Kelly, que exigiu que se faça público o suposto financiamento das empresas como a multinacional americana Monsanto.

O Greenpeace também expressou sua preocupação quanto ao risco que este tipo de trigo representa para a saúde, além da possibilidade de contaminar outras plantações. A Corporação de Desenvolvimento e Pesquisa de Cereais (GRDC) considera que o ataque pode atrasar em um ano este projeto, que buscava desenvolver o trigo para combater a obesidade, o diabetes e o câncer de intestino.

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TRANSGÊNICOS - EUROPA - Parlamento europeu apóia direito de países proibirem transgênicos



Países vão poder proibir cultivo por motivos ambientais, como a resistência aos pesticidas e a preservação da biodiversidade


05/07/2011 - 17.09 HS. - AGÊNCIA ESTADOselo

Legisladores da União Européia (UE) votaram pelo fortalecimento dos direitos dos países membros do bloco de proibir o cultivo de safras transgênicas em seus territórios.

A Comissão Européia, braço executivo da UE, havia apresentado uma proposta para que os países pudessem decidir suas próprias políticas para organismos geneticamente modificados (OGM), numa tentativa de resolver uma longa controvérsia. 

Conforme uma diretiva de 2001, os Estados membros seriam autorizados a proibir o cultivo de transgênicos, exceto por motivos de saúde ou de preservação ambiental, que só poderiam ser avaliados e identificados pela Autoridade Européia de Segurança Alimentar.

Mas pela emenda aprovada nesta terça-feira, os legisladores defenderam a idéia de que os países podem proibir o cultivo invocando motivos ambientais locais ou regionais, como a resistência aos pesticidas, a preservação da biodiversidade local ou a falta de informação sobre conseqüências da utilização de transgênicos. 

Os deputados desejam também que a decisão dos países possa se basear em critérios socioeconômicos, como o alto custo de manutenção da coexistência de safras tradicionais com safras transgênicas. O parlamento recordou que "os Estados membros devem tomar todas as medidas apropriadas para impedir a presença acidental de OGM em outros produtos no seu território e nas regiões fronteiriças dos Estados vizinhos". 

A proposta votada hoje pelo Parlamento Europeu ainda terá de ser negociada e aprovada pelos países membros. Países como Grécia, França, Áustria e Hungria se opõem ao cultivo de transgênicos e até à sua importação.

Mas outros, como o Reino Unido, são favoráveis. As informações são da Dow Jones e do site do Parlamento Europeu.
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TRANSGÊNICOS - Congresso dos EUA estende silenciosamente Lei de Proteção à Monsanto

Congresso dos EUA estende silenciosamente Lei de Proteção à Monsanto

Mecanismo blinda gigantes da biotecnologia de possíveis ameaças de processos legais e proíbe que o Tribunal Federal intervenha para forçar o fim da venda de transgênicos
 16/09/2013 - RT-USA
 Uma provisão orçamentária para proteger as sementes geneticamente modificadas de quaisquer litígios sobre riscos à saúde foi estendida por três meses pela Câmara dos Estados Unidos na última terça-feira (10).
Chamado de “Lei de Proteção à Monsanto” pelos seus opositores, o orçamento piloto blinda gigantes da biotecnologia como Monsanto, Cargill e outras, de quaisquer possíveis ameaças de processos legais e proíbe que o tribunal federal intervenha para forçar o fim da venda de transgênicos (OGMs - Organismos Geneticamente Modificados) mesmo se o produto tiver efeitos nocivos à saúde.
O projeto piloto da biotecnologia foi notícia pela primeira vez em março, quando foi incluído de última hora na Lei de Apropriações do Departamento de Agricultura para 2013, uma lei de financiamento de curto prazo que foi aprovada para evitar uma paralisação do governo. A atual extensão de três meses é parte da Resolução da lei de gastos FY14.
O Centro de Segurança Alimentar, um opositor feroz do projeto piloto, lançou um comunicado expressando preocupação com o fato de que essa medida, mais uma vez, evite um processo legislativo adequado, enquanto usurpa o poder de se contestar os produtos transgênicos na Justiça.
“O projeto piloto representa um ataque sem precedentes a qualquer revisão judicial nos EUA, que é um elemento essencial da lei e questiona criticamente as decisões do governo que podem ter um impacto negativo à saúde humana, ao meio ambiente ou à subsistência”, escreveram os membros do Centro.
Após o voto original em março, o presidente Barack Obama assinou o dispositivo de lei como parte de uma legislação mais ampla para evitar uma paralisação do governo. Em maio ocorreram protestos em todo o mundo contra esforços clandestinos para proteger empresas poderosas do escrutínio judicial.
“É extremamente decepcionante ver a 'Lei de Proteção à Monsanto' ser estendida na Casa”, afirmou Colin O’Neil, diretor de assuntos do governo para o Centro de Segurança Alimentar. “Centenas de milhares de cidadãos telefonaram para os seus representantes oficiais expressando sua frustração e decepção pela inclusão da 'Lei de Proteção à Monsanto' na primavera passada. Essa inclusão é um tapa na cara do povo americano e no nosso sistema judicial”, disse.
Como resultado de processos anteriores, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) é obrigado a completar relatórios de impacto ambiental [em inglês, EIS] para acessar previamente os riscos do plantio e venda de produtos transgênicos. A eficácia e amplitude para o USDA exercer essa regra em si mesma é fonte de uma séria disputa.
No passado, essas revisões foram alvo de um debate acirrado entre os grupos de defesa da segurança alimentar e a indústria da biotecnologia. Em dezembro de 2009, por exemplo, a Food Democracy Now coletou assinaturas durante o período de comentários do relatórios de impacto ambiental na tentativa de evitar a aprovação da alfafa transgênica da Monsanto, que muitos temiam que contaminariam a ração orgânica usada pelos pecuaristas de leite; e que foi aprovada sem levar em conta essas preocupações.
Esse projeto “pode passar por cima de qualquer mandato judicial precaucionário e permitir que o cultivo continue. Além disso, força o Departamento de Agricultura dos EUA a aprovar licenças imediatas para o cultivo contínuo, colocando a indústria completamente no controle ao permitir um mecanismo de 'aprovação pela porta dos fundos'”, disse o Centro de Segurança Alimentar.
Foto: Laura Huhn/CC

TRANSGÊNICOS - Legislação Mundial Regula a Rotulagem de Transgênicos

Legislação mundial regula a rotulagem de transgênicos

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A rotulagem de alimentos transgênicos é um canal de comunicação entre o produtor/fabricante e o consumidor e tem a função de garantir seu direito à informação e a livre escolha no ato da compra.

Deve estar presente em web sites e setores de atendimento ao cliente das empresas que os comercializam, e não podem conter dados que induzam o consumidor a erro, servindo de instrumento para os órgãos fiscalizadores. De acordo com Marília Nutti, pesquisadora da Embrapa, há diferenças nas rotulagens de produtos transgênicos no mundo. No Canadá, Estados Unidos, México e Argentina se rotulam somente as diferenças constantes em tais produtos.

Na União Européia, Austrália, Japão e Brasil, há o estabelecimento de limites quanto à quantidade de organismos geneticamente modificados - OGMs - nos alimentos e rações para animais.      

Limites    
No Japão o limite é de 5% para a presença não intencional de DNA geneticamente modificado, assim como na Rússia e Taiwan.

No Brasil, o Decreto 4.680, de 24 de abril de 2003, determina que todo produto com mais de 1% de matéria-prima geneticamente modificada contenha essa informação no rótulo.

A exigência é para todos os tipos de alimentos: embalados, a granel, in natura e ingredientes produzidos a partir de animais alimentados com ração contendo OGMs.

Conforme Marília, o limite de 1% não se aplica no caso das rações, pois não há como efetuar tal verificação. "É o único país do mundo a fazer tal exigência", comentou.

A Portaria 2658, do Ministério da Agricultura, instituiu um símbolo para a rotulagem de transgênicos brasileiros, caracterizado por um triângulo amarelo. "Não concordamos com essa medida, pois o triângulo determina sinal de perigo e a cor amarela, um sinal de alerta", disse.
12/07/2005

TRANSGÊNICOS - Transgênicos: uma nova semente

Transgênicos: uma nova semente

Ajar Tubino

Condenada pela história

A multinacional Dow Agrosciences, que integra a corporação Dow Chemicals, vai lançar no Brasil uma nova semente transgênica de soja, imune a três agrotóxicos – glifosato, glufosinato de amônia e o 2,4-D. Significa uma nova etapa na transgenia mundial, porque o chamado sistema Enlist ainda não foi aprovado nos Estados Unidos, onde está em análise desde 2009. Esta é uma história que envolve o último lance da agricultura industrial e o passado das corporações, marcado pela participação na produção de um veneno mundialmente conhecido, o Agente Laranja. Um passado que continua vivo na memória de milhares de vietnamitas e no corpo mal formado de seus filhos e netos. Uma tragédia lembrada todo dia 10 de agosto como o “Orange Day”.

Em novembro de 1961 o presidente John Kennedy autorizou uma operação sigilosa denominada “Ranch Hand”, uma ajuda aos agricultores. Na verdade o governo dos Estados Unidos, mesmo contra os princípios da Convenção de Genebra, que proibia o uso de químicos na guerra, mandou 23 empresas fabricarem a mistura do Agente Laranja. Entre as corporações mais conhecidas Monsanto e Dow, que na época não tinha o Agrosciences. Um parêntesis para explicar a mistura. Em outubro de 2011 publiquei um texto na Carta Maior intitulado “A Marcha dos Insensatos”, que tocava no assunto agrotóxicos e mencionava o Agente Laranja.

Logo em seguida recebi uma correspondência de uma assessoria de São Paulo, que iniciava assim:

“Meu nome é Mariana, sou assessora de imprensa da Força-Tarefa. Li o seu texto “A Marcha dos Insensatos”, publicado no dia 16 de outubro na Agência Carta Maior. Gostaria de aproveitar para apresentar um material explicativo sobre o defensivo agrícola 2,4-D, mas antes quero explicar o que é a Força-Tarefa: somos um grupo formado por representantes de quatro empresas- Atanor, Dow Agrosciences, Milenia e Nufarm...”.

Lógico que as seis páginas do material mostram que o 2,4-D é um agrotóxico do bem, assim que vou mencioná-lo. A Força-Tarefa ajudou bastante na explicação, porque mostrou qual era a composição do Agente Laranja. Ainda citando a correspondência:

- O 2,4-D tem sido erroneamente associado ao produto utilizado na guerra conhecido como “Agente Laranja”. O “Agente Laranja” nunca foi usado em agricultura e era uma mistura de 50% de 2,4,5-T Éster + 50% de 2,4-D Éster, utilizado desta forma na Guerra do Vietnã para desfolhar as florestas locais. Ficou assim conhecido porque a mistura era armazenada em tambores que possuíam uma “faixa amarela”, em sua parte externa. O problema que existia com o “Agente Laranja” naquela época se relacionava a uma impureza presente no processo de produção do 2,4,5-T chamada dioxina (TCDD). O 2,4,5-T não é mais comercializado nos dias de hoje”.

Milhares de crianças com graves deficiências
O país que agora pretende bombardear a Síria para punir o uso de armas químicas, não resolveu o seu passado. Em agosto de 2012 a Secretária de Estado, Hilary Clinton, foi ao Vietnã para inaugurar um programa de descontaminação do Agente Laranja. Mas apenas nos locais onde a Força Aérea dos EUA usava como base. Onde os tambores vazavam o veneno, ou caíam dos caminhões pelos trajetos. O índice de contaminação é 400 vezes maior nesses locais. Porém, nunca o governo dos Estados Unidos reconheceu a responsabilidade da tragédia que atingiu mais de quatro milhões de pessoas. Segundo o governo vietnamita pelo menos 500 mil crianças nascidas posteriormente apresentaram malformações congênitas e suportam uma rotina que é um pesadelo, com mãos e pés defeituosos.

Em 1984 um grupo de veteranos da guerra do Vietnã – entre 15 e 16 mil militares- recebeu US$180 milhões das corporações químicas num acordo extrajudicial. Também os filhos dos veteranos que tiveram contato com o veneno nasceram com malformações. O governo dos EUA lançou o Agente Laranja numa área de 10 milhões de hectares, que era cultivada com milho, arroz e outras culturas. Alem disso, pulverizou cerca de 20 mil quilômetros quadrados de terras altas e florestas de mangue. No livro “Transgênicos : as Sementes do Mal”, os pesquisadores Antônio Inácio Andreoli e Richard Fulls relatam que foram jogadas 366 quilos de dioxina (TCDD) no Vietnã. Em 1976, num acidente com uma fábrica química na Itália em Seveso, que virou um desastre ambiental, foi liberado 1,5kg de dioxina.

Argumento engolido
Três vietnamitas no início dos anos 2000 entraram com uma ação de indenização contra as corporações num tribunal de Nova Iorque. Em 2009, o tribunal negou o pedido, sob o seguinte argumento: não estava estabelecido o vínculo entre a dioxina e as malformações congênitas dos vietnamitas afetados. Outro problema: pela legislação americana as empresas não são responsáveis pelo envenenamento porque agiram por ordem do governo. Em 1999, o deputado federal Dr. Rosinha, do PT do Paraná, encaminhou um projeto na Câmara para proibir o uso do 2,4-D no Brasil. Em 2004, o projeto foi aprovado pelo relator da Comissão de Bem Estar Social e Família. Em função disso o 2,4-D está sendo reavaliado pela ANVISA.

Ele é classificado como um agrotóxico classe 1, extremamente perigoso, mas seu uso é difundido pelo baixo custo e usado como complemento ao glifosato, um herbicida que perdeu efeito. Nos Estados Unidos o próprio Departamento de Agricultura registra mais de 10 milhões de hectares onde plantas como buva, corda de viola,capim amargoso se tornaram resistentes. Isso é um fato também no Brasil, na Argentina. Ou seja, as corporações precisam lançar novas sementes porque o argumento de redução no uso de agrotóxicos nos cultivos transgênicos literalmente foi engolido pela terra.

Brasil vai ser cobaia comercial
Voltando ao Enlist. O Departamento de Agricultura dos EUA pretende elaborar mais dois relatórios de impacto ambiental e saúde para liberar os produtos. No Brasil, o jornal Valor Econômico que fez uma visita paga a Indianópolis, sede da Dow Agrosciences, anunciou que o colegiado da CNTbio, encarregada pela liberação de cultivos transgênicos no Brasil, vai aprovar a liberação em outubro. É interessante o momento histórico, porque a CNTbio, através de seus membros – 27, a maioria biólogos moleculares favoráveis à transgenia – sempre usa como argumento a segurança do plantio por muitos anos – caso dos Estados Unidos, onde completou duas décadas. No caso do Enlist o Brasil vai fazer o papel de cobaia comercial, já que as sementes Enlist estão sendo desenvolvidas em laboratório e em experimentos de campo há mais de uma década, mas nunca foram usadas em plantios comerciais. A Dow Agrosciences pretende pular da quinta para a terceira posição no mercado de sementes – o faturamento sairá de US$6,5 bilhões para US$12 bilhões em 2020. Um detalhe: em 2012 o mercado mundial de sementes arrecadou US$49,2 bilhões, enquanto o de agrotóxicos foi de US$47,4 bilhões. As corporações ganham dos dois lados. Além de duas sementes de soja e uma de milho Enlist, a Dow também entrou com um pedido para liberar um agrotóxico, que será uma nova versão do glifosato misturado ao 2,4-D(ácido diclorofenoxiacético).



Financiamento do BNDES
Ainda tem outra surpresa. No site do BNDES está anunciado desde julho de 2013:

“A Dow Agrosciences Sementes e Biotecnologia Brasil Ltda recebeu um financiamento de R$26,8 milhões para a implantação de um centro de pesquisa e desenvolvimento em Cravinhos (SP), corresponde a 43,6% do valor do projeto... foco em biotecnologia... desenvolverá atividade que poderão acelerar o lançamento de novas tecnologias para a agricultura brasileira, a partir do processo de melhoramento genético no segmento de sementes.”

A própria empresa já anunciou que vai inserir os genes no Brasil. Uma planta transgênica funciona de três maneiras: ou ela produz o veneno, no caso das variedades BT, ou ela tolera os herbicidas, ou então faz as duas coisas. O Enlist não foi aprovado nos Estados Unidos por uma questão óbvia: os americanos vão ter que mexer no passado, voltar a discutir a guerra do Vietnã e as consequências do Agente Laranja. Uma entidade chamada Centro para Segurança Alimentar lançou uma campanha que tem mais de 400 mil adesões contra a aprovação das variedades Enlist. Um dos argumentos é pela rápida propagação do 2,4-D no ambiente. Ele tem vida curta, diz a Força-Tarefa, mas se movimenta rápido. Tem cloro na composição, mas “é muito seguro, um dos princípios mais pesquisados no mundo”.

Não se deixe enganar
O Brasil é o segundo maior mercado de transgênicos do mundo, segundo as empresas que fazem o lobby da transgenia, o país já tem 36 milhões de hectares. Os Estados Unidos, o primeiro lugar, tem 69 milhões. Em terceiro vem a Argentina com quase 24 milhões de hectares. A China não planta transgênico, pelo menos oficialmente. No mês de agosto, o secretário Geral da Associação de Soja de Helong-Jiang, Wang Xiaoyu, lançou um petardo contra os transgênicos. Disse que as pessoas que comem óleo de soja transgênico são mais vulneráveis a desenvolver tumores e esterilidade, citando como referência os índices das províncias de Fujian e Guandong, onde o consumo é alto e os índices de câncer também.

Foi um pandemônio. A máquina trituradora das corporações quase invadiu a China, para desmentir, por falta de provas, metodologia e outras coisas do tipo. Mais polêmico ainda é o artigo da professora de economia da Universidade de Yunnan, Gu Xiulin, onde diz:

“Os alimentos transgênicos são uma faca mágica capaz de aniquilar o gênero humano e de destruir o meio ambiente... não se deixe enganar”.

Você seria um estúpido
A China compra 60% da soja comercializada no mundo. E planta 30 milhões de hectares.No Brasil é obrigatório, desde 2005, quando foi aprovada a lei da Biossegurança, onde está acentuado o “princípio da precaução”, que todo alimento que tiver mais de 1% de transgênico na sua composição precisa estar identificado com um T. Nunca emplacou. A lecitina de soja transgênica produzida no Brasil está presente em biscoitos, achocolatados, no próprio chocolate. Esse é um pesadelo que está evoluindo. Genes transgênicos espalhados pelo ambiente natural. Planta que produz veneno, que depois é transformado em alimento, que depois entra no consumo humano. Sem contar que a maioria da soja é transformada em ração para aves, suínos, bois e usada na forma de farelo. As corporações dizem que é um avanço da ciência, só não deixam pesquisar os resultados contrários. Quando surge uma pesquisa que aponte algum problema, a máquina trituradora acaba com o pesquisador, a entidade, o sujeito perde bolsa, cargo e por aí vai.

No livro “Roleta Genética”, de Jeffrey Smith, um dos maiores especialistas no assunto, tem o depoimento do Secretário de Agricultura dos Estados Unidos, Dan Glickman, no governo Bill Clinton:

“Em geral o que eu vi no lado pró-biotecnologia foi a crença de que a tecnologia era boa e que era quase imoral dizer o contrário, uma vez que ela resolveria os problemas da raça humana, alimentando os famintos e vestindo os que não tinham roupas. E havia muito dinheiro investido nisso. Se você fosse contra seria considerado um ludita, você seria um estúpido. Esse, francamente, era o lado em que estava o nosso governo. Sem pensar, nós basicamente, considerávamos apenas o lado comercial e eles, seja lá quem fosse “eles”, queriam apenas manter nossos produtos fora do mercado. Você se sentia como um alienígena, desleal, por tentar apresentar uma visão mais abrangente em relação a algumas questões levantadas. Então eu repeti a retórica que todos repetiam”.

E assim o Brasil vai ser o pioneiro no sistema Enlist,que usa o 2,4-D, a porção do bem do Agente Laranja, com financiamento do BNDES. Tudo muito seguro.


TRANSGÊNICOS: Nos EUA, sinais de cartel em sementes*

Transgênicos: Nos EUA, sinais de cartel em sementes*

Nos EUA, sinais de cartel em sementes

Tatiana Bautzer, De Washington


A Monsanto e a Pioneer Hi-Bred (subsidiária da DuPont) mantiveram reuniões entre 1995 e 1999 para controlar preços de sementes transgênicas, violando a legislação antitruste nos Estados Unidos, de acordo com reportagem publicada ontem pelo jornal "The New York Times".

As duas empresas controlam 60% do mercado de sementes de milho e soja nos EUA, que registra vendas anuais de US$ 5 bilhões. Segundo o jornal, as conversas envolveram altos executivos das duas companhias, entre eles os ex-presidentes Robert Shapiro (Monsanto) e Charles Johnson (Pioneer).

A Pioneer foi a primeira empresa a comprar a tecnologia de sementes transgênicas da Monsanto, antes de sua venda efetiva no mercado. Pelo direito, a Pioneer pagou US$ 38 milhões, num contrato que não tinha restrições em relação a preços ou condições de venda a produtores.

Só a partir das outras negociações a Monsanto incluiu a exigência de que os produtores fossem proibidos de replantar sementes transgênicas de safras anteriores e uma cláusula determinando uma "taxa de tecnologia" que é paga diretamente à companhia.

As cláusulas são defendidas pelas empresas como um exercício dos direitos de patente e de propriedade intelectual, por ter desenvolvido a tecnologia das sementes transgênicas. Segundo a legislação americana, mesmo que as empresas não tenham sido bem-sucedidas, a mera tentativa de controlar preços já viola a lei antitruste (Sherman Antitrust Act). Monsanto e Pioneer negaram ter adotado qualquer conduta ilegal.

Depois de fechar o contrato com a Pioneer, a Monsanto decidiu revê-lo e por isso manteve contatos com a empresa ao longo de vários anos. Outras duas empresas que atuam no mercado, Mycogen e Novartis Seeds, informaram ter sido pressionadas pela Monsanto para discutir preços, mas recusaram a tentativa de coordenação dos preços do varejo.

Não está claro, de acordo com o jornal americano, se está havendo uma investigação formal do governo sobre o assunto, embora haja sinais de que o Departamento de Justiça também esteja investigando a atuação da Monsanto no mercado de sementes modificadas resistentes a herbicidas, como a variedade Roundup de soja.

fonte: Jornal Valor Econômico


TRANSGÊNICOS "Questões políticas sobrepõem as científicas"

TRANSGÊNICOS

"Questões políticas sobrepõem as científicas"

A presidente da Associação Nacional de Biossegurança, Leila Macedo Oda, reclama que a burocracia brasileira entrava o desenvolvimento das pesquisas com transgênicos. Conforme a microbiologista, ex-presidente da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), a política está se sobrepondo à ciência no País. Leila tem liderado manifestações de cientistas em Brasília, pedindo mudanças no projeto de lei de biossegurança, em discussão no Congresso. Segundo ela, a legislação de biossegurança foi desvirtuada e hoje há uma série de exigências impossíveis de serem cumpridas do ponto de vista científico.

Que países se destacam nas pesquisas com transgênicos?

No que diz respeito a transgenia em plantas, certamente os Estados Unidos, Canadá, China e Cuba. Cuba ocupa hoje uma posição de destaque entre os paises latino-americanos com relação a este tipo de pesquisa. O país desenvolveu uma banana transgênica resistente a sigatoka negra, uma das pragas provocadas por fungo mais comuns em plantações de banana, que passará a ser comercializada em breve. O Brasil se destaca na área de pesquisas genômicas e proteônicas, mas infelizmente os avanços ficam parados na esfera das pesquisas, pois as questões políticas sobrepõem as científicas e a burocracia bloqueia os avanços.

Qual a situação das pesquisas com transgênicos no Brasil e o que deveria ser feito para promover seu avanço?

O Brasil conta com várias instituições dedicadas a pesquisas com transgênicos de segunda e terceira geração que visam benefícios diretos à população através do desenvolvimento de biorredutores para a produção de vacinas, de alimentos mais nutritivos, etc, e é pioneiro na área de sequenciamento de genomas. Mas como mencionei anteriormente, apesar de ocupar uma posição de destaque, sofre com o excesso de burocracia. Para que os avanços aconteçam, é muito importante tirar as discussões da esfera emocional. A biossegurança deve ser tratada em um contexto científico, e é essencial que as pesquisas envolvam processos de avaliação de risco. O órgão responsável pelas análises de segurança deveria ser composto majoritariamente por cientistas. Também deveriam fazer parte deste órgão as ONGs, responsáveis pela avaliação e ponderação dos impactos socioeconômicos. A participação do poder executivo deveria acontecer em uma segunda instância, após a emissão do diagnóstico de isenção de risco, para definir se é conveniente liberar o transgênico para comercialização e produção no país. Podemos citar como exemplo o modelo argentino. Na Argentina há uma comissão de biossegurança, a Conab, que emite o parecer sobre a segurança do novo transgênico. Apenas após a liberação pela Conab é que os políticos definem se é conveniente liberar a produção e comercialização no país. A Conab autorizou a produção de canola no país. No entanto, houve proibição na instância política, pois o principal mercado para a canola argentina é a Europa, onde a comercialização da canola transgênica é proibida.

O Brasil tem condições de competir externamente na área de biotecnologia?

Com certeza. Durante uma reunião da FAO, Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, ocorrida recentemente no Panamá, o Brasil apareceu como pioneiro nas áreas de pesquisas proteônica e genômica na América Latina e Caribe, ao lado de Cuba. No Brasil existem vários cultivares aguardando liberação. O Brasil tem condições de ocupar uma posição de destaque na América Latina e no exterior, mas para isso, a moratória de cinco anos imposta por questões jurídicas precisa cair.

A atual lei de biossegurança brasileira (Lei 8974/95) foi baseada no modelo europeu, e a Europa é um dos continentes mais resistentes aos transgênicos, isso significa que o modelo brasileiro é suficientemente seguro? Os vetos do executivo na ocasião em que a lei foi editada não desvirtuaram o texto original?

Sim, desvirtuaram. Há dois modelos regulatórios no mundo, o americano e o europeu. Nos Estados Unidos não existe uma lei que exija uma análise específica. Os transgênicos são analisados conforme seus riscos para o meio ambiente, saúde e agricultura, ou seja, não há distinção entre tecnologia e produção. O modelo europeu diferencia a tecnologia da produção. O modelo brasileiro é adequado e serviu de exemplo para vários países da América Latina. Inclusive, aprimorou o modelo europeu, mas os vetos do executivo geraram um conflito colocando sob questionamento a capacidade da CTNBio - Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, de executar sua função de avaliação de risco biológico dos OGMs, organismos geneticamente modificados.

Que papel você acredita que a nova lei de biossegurança deveria cumprir?

A primeira instância de análise de risco deve ser cientifica e os estudos devem ser feitos caso a caso para que fique comprovada a segurança para os seres humanos e o meio ambiente. E caso exista uma instância decisória posterior, ela deveria acatar a decisão da comissão científica, e levar em consideração os aspectos econômicos e políticos.

Na sua opinião, por quê o termo "transgênicos" causa tanto espanto à população?

Essa terminologia e a forma deturpada como os movimentos contrários apresentaram o assunto, levaram a formação de uma idéia pré-concebida de risco, com ênfase nos aspectos negativos. A população ficou insegura, pois não foi dado a ela o direito de escolha. O processo de socialização da informação cientifica está no início. A ciência esteve muito distante da sociedade e as campanhas contrárias suscitaram dúvidas. É necessário que haja um forte processo de esclarecimento e de socialização da informação, para que a compreensão do tema não fique comprometida. O próprio discurso da rotulagem veio distorcido. Não há como saber se o produto é seguro ou não. A função do rótulo é dar ao consumidor o direito de escolher. O rótulo será uma barreira comercial, pois a população já está com medo. Para que a população possa consumir de forma tranqüila, é preciso conscientizá-la.


Você acredita que a longo prazo os transgênicos podem trazer mais benefícios que prejuízos?

Não é possível generalizar, para cada caso haverá uma análise. As enzimas usadas na fabricação do queijo são produzidas por organismos transgênicos e vêm sendo consumidas há anos. Estão sendo pesquisados alimentos com um teor nutritivo mais acentuado que têm como objetivo dar respostas às limitações dos processos agrícolas. Não existem prejuízos se for comprovado que o transgênico é seguro, traz vantagens agrícolas e benefícios para os seres humanos e o meio ambiente.

Você defende a elaboração de um Código de Ética de Manipulação Genética para orientar o trabalho dos pesquisadores. Quais seriam os pilares deste código?

A primeira questão diz respeito às pesquisas realizadas com seres humanos, ou seja, àquelas relacionadas ao tratamento das doenças degenerativas e de células tronco. Essas pesquisas devem seguir as premissas da resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que estabelece as diretrizes e os regulamentos de pesquisas envolvendo seres humanos.
Esta Resolução incorpora os quatro referenciais básicos da bioética: autonomia, não maleficência, beneficência e justiça e visa assegurar os direitos e deveres da comunidade científica, dos sujeitos da pesquisa e do Estado. A segunda questão diz respeito às pesquisas com animais e vegetais, cujas normas devem ser orientadas pela busca de benefícios reais para a humanidade.

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TRANSGÊNICOS - RISCOS - Semente que não foi aprovada nos EUA chega ao Brasil

TRANSGÊNICOS - RISCOS
Transgênicos: semente que não foi aprovada nos EUA chega ao Brasil
A variedade de soja da Dow Agrosciences significa uma nova etapa na transgenia mundial, porque o chamado sistema Enlist ainda não foi aprovado nos Estados Unidos, onde está em análise desde 2009.


Por Najar Tubino, da Carta Maior publicado 13/09/2013 12:50, última modificação 13/09/2013 13:04


A multinacional Dow Agrosciences, que integra a corporação Dow Chemicals, vai lançar no Brasil uma nova semente transgênica de soja, imune a três agrotóxicos – glifosato, glufosinato de amônia e o 2,4-D.

Significa uma nova etapa na transgenia mundial, porque o chamado sistema Enlist ainda não foi aprovado nos Estados Unidos, onde está em análise desde 2009.

Esta é uma história que envolve o último lance da agricultura industrial e o passado das corporações, marcado pela participação na produção de um veneno mundialmente conhecido, o Agente Laranja. Um passado que continua vivo na memória de milhares de vietnamitas e no corpo mal formado de seus filhos e netos. Uma tragédia lembrada todo dia 10 de agosto como o “Orange Day”.

Em novembro de 1961 o presidente John Kennedy autorizou uma operação sigilosa denominada “Ranch Hand”, uma ajuda aos agricultores. Na verdade o governo dos Estados Unidos, mesmo contra os princípios da Convenção de Genebra, que proibia o uso de químicos na guerra, mandou 23 empresas fabricarem a mistura do Agente Laranja.

Entre as corporações mais conhecidas Monsanto e Dow, que na época não tinha o Agrosciences. Um parêntese para explicar a mistura.

Em outubro de 2011 publiquei um texto na Carta Maior intitulado “A Marcha dos Insensatos”, que tocava no assunto agrotóxicos e mencionava o Agente Laranja.

Logo em seguida recebi uma correspondência de uma assessoria de São Paulo, que iniciava assim:







“Meu nome é Mariana, sou assessora de imprensa da Força-Tarefa. Li o seu texto A Marcha dos Insensatos, publicado no dia 16 de outubro na Agência Carta Maior. Gostaria de aproveitar para apresentar um material explicativo sobre o defensivo agrícola 2,4-D, mas antes quero explicar o que é a Força-Tarefa: somos um grupo formado por representantes de quatro empresas- Atanor, Dow Agrosciences, Milenia e Nufarm...”.

Lógico que as seis páginas do material mostram que o 2,4-D é um agrotóxico do bem, assim que vou mencioná-lo. A Força-Tarefa ajudou bastante na explicação, porque mostrou qual era a composição do Agente Laranja. Ainda citando a correspondência
:

- O 2,4-D tem sido erroneamente associado ao produto utilizado na guerra conhecido como “Agente Laranja”. O “Agente Laranja” nunca foi usado em agricultura e era uma mistura de 50% de 2,4,5-T Éster + 50% de 2,4-D Éster, utilizado desta forma na Guerra do Vietnã para desfolhar as florestas locais. Ficou assim conhecido porque a mistura era armazenada em tambores que possuíam uma “faixa amarela”, em sua parte externa. O problema que existia com o “Agente Laranja” naquela época se relacionava a uma impureza presente no processo de produção do 2,4,5-T chamada dioxina (TCDD). O 2,4,5-T não é mais comercializado nos dias de hoje”.


Milhares de crianças com graves deficiências

O país que agora pretende bombardear a Síria para punir o uso de armas químicas não resolveu o seu passado.

Em agosto de 2012 a secretária de Estado, Hilary Clinton, foi ao Vietnã para inaugurar um programa de descontaminação do Agente Laranja.

Mas apenas nos locais onde a Força Aérea dos EUA usava como base. Onde os tambores vazavam o veneno, ou caíam dos caminhões pelos trajetos.

O índice de contaminação é 400 vezes maior nesses locais.

Porém, nunca o governo dos Estados Unidos reconheceu a responsabilidade da tragédia que atingiu mais de quatro milhões de pessoas.

Segundo o governo vietnamita pelo menos 500 mil crianças nascidas posteriormente apresentaram malformações congênitas e suportam uma rotina que é um pesadelo, com mãos e pés defeituosos.

Em 1984 um grupo de veteranos da guerra do Vietnã – entre 15 e 16 mil militares – recebeu US$180 milhões das corporações químicas num acordo extrajudicial. Também os filhos dos veteranos que tiveram contato com o veneno nasceram com malformações.

O governo dos EUA lançou o Agente Laranja numa área de 10 milhões de hectares, que era cultivada com milho, arroz e outras culturas. Além disso, pulverizou cerca de 20 mil quilômetros quadrados de terras altas e florestas de mangue.

No livro Transgênicos : as Sementes do Mal, os pesquisadores Antônio Inácio Andreoli e Richard Fulls relatam que foram jogadas 366 quilos de dioxina (TCDD) no Vietnã.

Em 1976, num acidente com uma fábrica química na Itália em Seveso, que virou um desastre ambiental, foi liberado 1,5kg de dioxina.


Argumento engolido

Três vietnamitas no início dos anos 2000 entraram com uma ação de indenização contra as corporações num tribunal de Nova York. Em 2009, o tribunal negou o pedido, sob o seguinte argumento: não estava estabelecido o vínculo entre a dioxina e as malformações congênitas dos vietnamitas afetados.

Outro problema: pela legislação americana as empresas não são responsáveis pelo envenenamento porque agiram por ordem do governo.

Em 1999, o deputado federal Dr. Rosinha, do PT do Paraná, encaminhou um projeto na Câmara para proibir o uso do 2,4-D no Brasil. Em 2004, o projeto foi aprovado pelo relator da Comissão de Bem Estar Social e Família. Em função disso o 2,4-D está sendo reavaliado pela Anvisa.

Ele é classificado como um agrotóxico classe 1, extremamente perigoso, mas seu uso é difundido pelo baixo custo e usado como complemento ao glifosato, um herbicida que perdeu efeito.

Nos Estados Unidos o próprio Departamento de Agricultura registra mais de 10 milhões de hectares onde plantas como buva, corda de viola, capim amargoso se tornaram resistentes. Isso é um fato, também no Brasil, na Argentina. Ou seja, as corporações precisam lançar novas sementes porque o argumento de redução no uso de agrotóxicos nos cultivos transgênicos literalmente foi engolido pela terra.
Leia reportagem completa na página da Carta Maior.