Do Estadão Conteúdo, em Genebra
05/03/201409h25
O consumo de
cocaína no Brasil mais que dobrou em menos de dez anos e já é quatro vezes
superior à média mundial. Os dados foram divulgados nesta terça-feira (4) pelo
Conselho Internacional de Controle de Narcóticos, entidade ligada à Organização
das Nações Unidas (ONU), em seu informe anual.
A entidade também
critica a liberalização do consumo de maconha no Uruguai e regiões dos EUA e
alerta: jovens sul-americanos parecem ter uma "baixa percepção do
risco" que representa o consumo de maconha.
Em 2005, a
entidade apontava que 0,7% da população entre 12 e 65 anos consumia cocaína no
Brasil. Ao fim de 2011, a taxa chegou a 1,75%. De acordo com os dados da ONU, o
consumo brasileiro é bem superior à média mundial, de 0,4% da população. A média
brasileira também supera a da América do Sul, com 1,3%, e é mesmo superior à da
América do Norte, com 1,5%.
Consumir cocaína na forma injetável vicia mais fácil?
VERDADE: embora a substância seja a mesma, a forma aspirável da cocaína causa
menos dependência, ou, ao menos, demora mais para viciar, explica o o
psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, da Unifesp: "Na forma injetável a
concentração da droga no sangue sobe rapidamente. E sempre que o
"pico" de ação da droga é maior, maior o risco de dependência"
O Brasil, segundo
o informe anual, se consolidou não apenas como rota da cocaína dos Andes para a
Europa como também passou a ser um mercado fundamental. Em 2012, as maiores
apreensões de cocaína no Brasil ocorreram a partir de carregamentos da Bolívia,
seguidos por Peru e Colômbia.
Citando o governo
brasileiro, a ONU aponta que o Brasil apreendeu em 2012 um volume recorde de
339 mil tabletes de ecstasy, cerca de 70 quilos. A média dos últimos dez anos
aponta que as apreensões são de menos de 1 quilo por ano.
Em 2012, houve
ainda 10 mil unidades de anfetamina retidas, além de 65 mil unidades de
alucinógenos, o maior volume desde 2007. O centro da produção de heroína no
mundo continua sendo o Afeganistão, onde o cultivo bateu recordes em 2013 - 39%
acima da área de 2012.
Se o consumo
brasileiro cresceu, a ONU constatou uma queda no cultivo da coca na América do
Sul em 2012. No total, 133 mil hectares foram plantados, 13% menos do que em
2011. O Peru se consolidou como líder, com 45% do total, seguido por Colômbia e
Bolívia, com 36% e 19%, respectivamente.
Na Bolívia, o
maior fornecedor brasileiro, a queda no cultivo foi de 7% - e 11 mil hectares
de coca foram erradicados. Em 2012, a Colômbia erradicou 30 mil hectares, 25%
do total. A área total de plantação chegou a 48 mil hectares, o menor nível registrado
desde 1995. "O fornecimento da cocaína sul-americana no mercado global
parece se estabilizar ou mesmo cair em comparação a 2007", indica o
informe.
Se a cocaína cai,
o confisco de "grandes quantidades de maconha" na América do Sul
"sugere um possível aumento na produção de maconha da região nos últimos
anos", segundo a ONU. A apreensão de maconha teve uma forte queda no
Brasil entre 2011 e 2012, de 174 toneladas para apenas 11,2 toneladas. Além
disso, 21,7 hectares de cultivo foram erradicados no ano.
Segundo a ONU, a
maconha continua sendo a droga mais consumida na América do Sul, por cerca de
14,9 milhões de pessoas. O número é 4,5 vezes o total dos usuários de cocaína.
Uma vez mais o Brasil é destaque. "A prevalência do abuso de maconha
aumentou significativamente na região nos últimos anos, em especial no
Brasil."
A entidade ligada
à ONU deixou clara sua preocupação diante de leis que regularizam o consumo.
"O Conselho nota com preocupação a baixa percepção de risco diante do
consumo da maconha entre a população jovem em alguns países
sul-americanos", indica, apontando para estudos que mostram que 60% dos
jovens no Uruguai consideram o risco do uso baixo. As informações são do jornal
"O Estado de S. Paulo".
http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2014/03/05/consumo-de-cocaina-no-brasil-mais-que-dobra-em-10-anos.htm