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sábado, 21 de dezembro de 2013

AGRICULTURA - Transgênicos: crescimento sem limites

Transgênicos: crescimento sem limites

Por Andrea Lazzarini Salazar*

Hoje, a soja dos brasileiros contém 50 vezes mais veneno do que em 1998. O aumento expressivo do uso de agrotóxicos é a indicação clara de que estes últimos e os transgênicos fazem parte de um mesmo modelo, onde a dominação do mercado de sementes e insumos está nas mãos de um pequeno grupo de grandes corporações.

A introdução de espécies geneticamente modificadas no Brasil tem como traço marcante a chancela oficial. Começando no governo Fernando Henrique Cardoso, ganhou vigor durante a gestão Lula com a legalização da soja contrabandeada, atingindo seu ápice com a aprovação do milho transgênico da Bayer, da Monsanto e da Syngenta – medida tomada contra o entendimento técnico da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). No lugar de definir estruturas e procedimentos de biossegurança, o Estado vem agindo no sentido de autorizar liberações sem a adequada análise de riscos ambientais e à saúde, desconsiderando impactos socioeconômicos, recusando o debate com a sociedade e evitando a transparência de suas ações.

Da aprovação da primeira Lei de Biossegurança, em 1995, até junho de 2010, sob a vigência de nova Lei, foram autorizadas 21 plantas transgênicas: 11 variedades de milho, 4 de soja e 6 de algodão, sendo 80% da Monsanto, Syngenta e Bayer, e 90,4% foram aprovadas entre 2008 e 2010.

Fica difícil compreender 19 liberações comerciais em tão curto espaço de tempo, quando mais e mais pesquisas revelam as mentiras que foram contadas para convencer agricultores e governos dos benefícios dos transgênicos. Mas parece que quanto mais evidências contumazes dos problemas associados ao uso de transgênicos surgem, mais trabalha o governo para garantir, a qualquer custo, as autorizações.

Aos fatos!

Os transgênicos aumentam o uso de agrotóxicos, ao contrário do que alegavam as empresas de biotecnologia, e, por isso (e por outras razões também), são prejudiciais ao meio ambiente e à saúde. A soja transgênica (Roundup Ready) é resistente ao herbicida Roundup, também fabricado pela Monsanto e cuja base é o glifosato1. Depois que foi autorizada no Brasil, o crescimento das vendas de glifosato foi significativo, saltando de 60 mil para mais de 110 mil toneladas do ingrediente ativo, entre 2004 e 2007, segundo a Anvisa, enquanto, no mesmo período, a área plantada de soja diminuiu cerca de 8%, de acordo com a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). O aumento do uso de glifosato também já está comprovado nos Estados Unidos.

Hoje, a soja dos brasileiros contém 50 vezes mais veneno (glifosato) do que em 1998. Naquele ano, às vésperas da pretendida liberação da soja transgênica no Brasil, só não ocorrida por decisão judicial, a Anvisa permitiu que a soja que comemos tivesse 10 vezes mais resíduo de glifosato, passando de 0,2 ppm (partes por milhão) para 2,0 ppm. Em 2004, após a autorização, virou “festa”: o órgão ampliou o limite para 10 ppm (ou seja, 50 vezes a “dose” inicial).

Além disso, outros venenos mais tóxicos são cada vez mais necessários nas plantações de soja, na medida em que as ervas daninhas já não se curvam mais ao glifosato; são estes o 2,4-D (que dá origem às dioxinas, conhecido grupo de compostos carcinogênicos e ingrediente do agente laranja usado na Guerra do Vietnã), o paraquat (associado ao aumento dos riscos de desenvolvimento de mal de Parkinson) e a atrazina (proibida na Europa). A CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) já está até mesmo analisando um pedido de liberação de soja transgênica, da empresa Dow, resistente ao 2,4-D.

Um parêntese sobre o glifosato: em 2008, a mesma Anvisa, em atitude que merece aplausos, decidiu submeter diversos princípios ativos (agrotóxicos) a reavaliação, após extensa pesquisa que revelou inúmeros impactos à saúde e/ou proibição em diversos países. O glifosato faz parte desta relação.

Contudo, o atual presidente da CTNBio, Edilson Paiva, doutor em biologia molecular e, à época, já membro da Comissão, fez uma defesa pública do princípio ativo, afirmando que “os humanos poderiam até beber [glifosato] e não morrer, porque não têm a via metabólica das plantas”.2

Mercado concentrado

O aumento expressivo do uso de agrotóxicos é a indicação clara de que estes últimos e os transgênicos fazem parte de um mesmo modelo, em que a dominação do mercado de sementes e insumos está nas mãos de um pequeno grupo de grandes corporações.
A dependência dos agricultores já é sentida. Parte deles, que, inicialmente, apoiava de maneira incondicional o uso de transgênicos, não mais esconde suas críticas e, agora, questiona a cobrança de royalties indevidos3 e preços extorsivos de insumos.

Os agricultores também têm enfrentado dificuldades para conseguir sementes convencionais, já que o mercado fica concentrado na mão de poucas empresas – Monsanto, Dupont, Syngenta e Bayer. Relatos dão conta que a oferta de grãos vem casada: para conseguir 15% de soja convencional é preciso também comprar 85% de transgênica. No caso do milho, hoje, em cada quatro novas sementes lançadas no mercado, três são transgênicas.

Para a Abrange (Associação Brasileira de Produtores de Grãos Não Geneticamente Modificados), esse cenário faz com o que o Brasil perca a vantagem comercial que tem diante de seus principais concorrentes no mercado da soja (EUA e Argentina): justamente oferecer grãos não geneticamente modificados. Reunindo mais de 30 associados, entre os quais grandes produtores, como a Amaggi, Brejeiro, Caramuru e Imcopa, a Abrange acredita que “o mercado de grãos não transgênicos seja uma realidade no Brasil e no exterior, pois vem gerando ganhos expressivos tanto para os agricultores quanto para o próprio país, e [portanto] deve ser preservado e cativado”.

Liberações às cegas

Os fatos elencados acima sugerem que o governo deveria reavaliar sua posição, submetendo a análise e a debate o que representa este modelo de agricultura, ponderando perdas, benefícios e alternativas existentes. Mas, diametralmente oposto às suas posições históricas, Lula radicalizou na defesa dos OGMs.

Após a liberação da soja da Monsanto por Medida Provisória (MP), duas vezes em 2003, quando assumiu a presidência, Lula ainda reduziu o quórum para facilitar as liberações comerciais: antes, a autorização para comercialização e consumo dependia do voto favorável de dois terços dos 27 membros da CTNBio; depois da MP 327, apenas 14 votos favoráveis passaram a ser suficientes. A partir de então, os apontamentos fundamentados de cientistas, relacionados à precariedade da análise de risco, são ignorados solenemente e as aprovações acontecem a despeito dos votos contrários (minoritários) dos ministérios da Saúde e do Meio Ambiente, além dos outros especialistas e representantes da sociedade civil.

A lógica que guia as decisões é a da biotecnologia, e não a da biossegurança. As plantas já autorizadas foram “avaliadas” com base no princípio da equivalência substancial, muito criticado no meio científico por restringir sobremaneira o escopo da avaliação. De acordo com este princípio, já apelidado de pseudocientífico, a soja transgênica Roundup Ready é equivalente à soja natural, e assim por diante.

A análise dos processos é precária. A Comissão vale-se tão somente dos estudos encaminhados (e muitas vezes produzidos) pelas próprias empresas, não publicados nem submetidos à peer review4. Dentre os transgênicos autorizados, vários contêm genes de resistência a antibiótico, cujo uso não é recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e por outros conselhos científicos, a exemplo da Comissão Europeia, como o Conselho Internacional para a Ciência (Paris), a Royal Society (Londres), o Conselho Belga de Biossegurança (Bruxelas), a Academia Nacional de Ciências (Washington DC) e o Conselho de Bioética de Nuffield (Londres). Mas isso é irrelevante para a CTNBio. Ademais, as novas evidências que surgem  e são publicadas nunca são suficientes para sensibilizar o colegiado a reavaliar suas decisões.

A atuação opaca é outra marca do colegiado. Foi preciso a Justiça intervir para que as reuniões oficiais ocorressem a portas abertas e audiências públicas passassem a existir. E a sombra que recai sobre os processos (públicos!) para os quais a Comissão nega acesso5 vai deixar de existir, por mais uma determinação judicial dada em 26 de julho deste ano.

Os conflitos de interesse são outro assunto delicado. Os membros só assinaram um tipo de “declaração de conduta” depois de uma recomendação formal do Ministério Público Federal. A opinião manifestada publicamente por uma cientista, ex-integrante da Comissão, revela um pouco mais e melhor o que é a CTNBio. Segundo Lia Giraldo da Silva Augusto, “a CTNBio está constituída por pessoas com título de doutorado, a maioria especialistas em biotecnologia e interessados diretamente no seu desenvolvimento. Há poucos especialistas em biossegurança, capazes de avaliar riscos para a saúde e para o meio ambiente”. E prossegue: “O que vemos na prática cotidiana da CTNBio são votos préconcebidos e uma série de artimanhas obscurantistas no sentido de considerar as questões de biossegurança  como dificuldades ao avanço da biotecnologia. A razão colocada em jogo na CTNBio é a racionalidade do mercado, que está protegida  por uma racionalidade científica da certeza cartesiana, em que a fragmentação do conhecimento, dominado por diversos técnicos com título de doutor, impede a priorização da biossegurança e a perspectiva da tecnologia em favor da qualidade da vida, da saúde e do meio ambiente”.

A contaminação genética, que é notoriamente um dos aspectos mais debatidos nos meios acadêmicos, para a CTNBio nem sequer é uma questão de biossegurança. Lá prevalece o entendimento de que, se a planta foi por eles considerada segura, não há problema que ocorra a contaminação, que é meramente uma questão de mercado. Às favas a biodiversidade e a preservação de sementes crioulas, o direito de consumidores e agricultores a alimentos livres de transgênicos. Tanto é, que as primeiras liberações de milho vieram sem nenhuma medida para evitar a contaminação. Mas a Justiça acatou pedido das ONGs (ANPA, AS-PTA, Idec e Terra de Direitos) e suspendeu os efeitos das liberações até que fossem criadas regras de coexistência. À determinação, a CTNBio respondeu às pressas com uma regra pífia de “isolamento do milho”.

Com as novas sementes disponíveis para os agricultores, o estado do Paraná, maior produtor do cereal, colocou seus técnicos em campo para testar a eficácia da norma. O estudo inédito comprovou, por dois métodos diferentes, que a contaminação ocorre mesmo quando a regra de isolamento é cumprida – ou seja, ela não serve. CTNBio e Ministério da Agricultura responderam dizendo que o estudo não valia, entre outras razões, porque o então governador Roberto Requião é sabidamente contrário aos transgênicos(!).

Não satisfeitos, Walter Colli, Edilson Paiva e outros três integrantes da Comissão divulgaram texto, com logomarca do Ministério da Ciência e Tecnologia, afirmando que “seria uma temeridade para o país, no século XXI, e com a agricultura intensiva como base importante do PIB, que a diversidade de qualquer planta de grande interesse econômico estivesse na dependência de agricultores que não têm a mais vaga ideia de genética”; e que “o plantio de grãos no lugar de sementes pode ser antigo, como a coivara ou o hábito de defecar nos rios e coleções de águas, mas nenhum deles é adequado nem compatível com o convívio entre cidadãos de uma sociedade moderna”, referindo-se à produção e uso próprio de sementes crioulas pelos agricultores familiares. Lembremos que, para infelicidade de alguns, a atividade é de tamanha relevância que consta de dois acordos internacionais dos quais o Brasil é parte: o de Recursos Genéticos para a Alimentação e a Agricultura, da FAO, e a Convenção sobre Diversidade Biológica, da ONU.

Merece lembrança ainda a coroação do ex-presidente da CTNBio, Walter Colli, médico que encerrou o seu mandato em 2009, propondo acabar com o monitoramento dos impactos dos transgênicos na saúde após sua introdução no mercado. Em sua opinião, o monitoramento é “lixo” e que “fez muito bem” a indústria alimentícia de não se submeter à regra e reclamar.6 A medida está prevista na lei, na Convenção de Diversidade Biológica e no Protocolo de Cartagena, e tem por objetivo acompanhar os impactos não avaliados e adotar as medidas necessárias.

Colli deu lugar a Edilson Paiva, que, alheio às fortes críticas públicas geradas pela iniciativa, criou um grupo para, possivelmente, pôr fim ao monitoramento. Mais alheio que ele, só mesmo o Conselho de Ministros, que ainda em 2008 aprovara orientação para que fossem realizados “estudos de seguimento de médio e longo prazo dos eventuais efeitos no meio ambiente e na saúde humana, dos OGM e seus derivados”, mas silenciou diante da iniciativa lamentável da CTNBio.

A ausência do Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS), composto por 11 ministros e presidido até há pouco tempo por Dilma Rousseff, revela astúcia. Deixa as liberações correrem soltas ao jogar para a CTNBio todas as atribuições (inclusive as que não lhe cabem) e o foco das atenções, esquivando-se do seu papel.

E é esta a Comissão que decide o destino dos transgênicos no Brasil. É esta Comissão que agora tem em suas mãos a decisão sobre o arroz transgênico da Bayer – que não é plantado em nenhum país e cujo agrotóxico usado (glufosinato de amônio) está com os dias contados para ser banido na Europa.

Informação desprezada

Uma última nota sobre a rotulagem de transgênicos. Para o Idec, que acompanha este assunto desde 1997 e tem como uma de suas prioridades a luta pelo direito à informação, o descumprimento da legislação que obriga a rotulagem de transgênicos por parte da indústria alimentícia, com a conivência do governo, é inaceitável – além de crime diante do Código de Defesa do Consumidor.

Paralelamente, o período de maior número de liberações e plantio de transgênicos no Brasil marca também o de iniciativas legislativas para impedir o consumidor de saber o que consome, não obstante as pesquisas de opinião pública apontarem que a esmagadora maioria dos cidadãos quer saber se o alimento é ou não transgênico.

Em manifesto desprezo à vontade dos consumidores, os deputados Luiz Carlos Heinze (PP/RS), Cândido Vacarezza (PT/SP) e a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), por meio dos Projetos de Lei 4148/98 e 5575/09 e do Projeto de Decreto Legislativo 90/2007, respectivamente, puxam a frente “anti-informação”.  As propostas buscam restringir a rotulagem para os alimentos em que for detectável a presença de OGM, omitindo a informação dos óleos e muitos outros gêneros alimentícios; excluir o símbolo “T”, que hoje identifica tais produtos, e a informação dos alimentos de origem animal; além de permitir o uso de sementes transgênicas estéreis, do que ainda cuidou Vaccareza.

Neste cenário, não dá para acreditar no presidente da CTNBio, que diz que “não existe pressão econômica”.7 A introdução de transgênicos no Brasil, como no seu “berço”, os EUA, e em outros países, é mais uma demonstração do poder das grandes corporações. Aqui, os fatos, que incluem mudança de lei, edição de medidas provisórias e outras decisões oficiais, mostram que o poder não escolhe mesmo partido: de 1995, quando a Lei de Biossegurança foi aprovada no governo FHC, para 2010, no final do governo Lula, a cavalgada rumo à liberação geral de transgênicos só tem crescido. E não adianta achar que a culpa é só da CTNBio.

*Andrea Lazzarini Salazar é advogada e consultora jurídica do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor); acompanha o assunto desde 1998.

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1. O glifosato é um herbicida não seletivo (mata qualquer tipo de planta) desenvolvido para matar ervas, principalmente perenes. É o ingrediente principal do Roundup, herbicida da Monsanto. Muitas plantas culturais geneticamente modificadas são simplesmente modificações genéticas para resistir ao glifosato. A Monsanto vende sementes dessas plantas com o marca RR (Roundup Ready).
2. Jornal Valor Econômico, 23/04/07.
3. A forma de cobrança de royalties sobre a soja da Monsanto tem sido duramente criticada.  A cobrança não é feita apenas no momento da compra da semente. Este agricultor ainda deverá pagar 2% sobre o excedente da produção estimada, se ocorrer esta situação. Além desse agricultor que fez a opção pela soja transgênica, os que cultivarem soja convencional ou orgânica também estão sujeitos a pagar royalties e multa, se sua produção tiver sido contaminada. Ao entregar sua produção para venda, o agricultor deve informar se usou ou não soja transgênica. Se não tiver utilizado, mas o teste de detecção acusar a presença de soja transgênica, o agricultor fica obrigado a pagar uma multa, além dos 2% sobre o valor da produção.
4. Revisão por pares, em que a pesquisa é submetida a avaliadores independentes capacitados.
5. Posição oficial, de acordo com Parecer Conjur/MCT 054/2008.
6. Folha de S.Paulo, 09/12/09.
7. Cidades e Soluções, Globonews, 16/06/10.


Fonte:(Envolverde/Le Monde Diplomatique Brasil) em06/09/2010




AGRICULTURA - Por um Brasil Ecológico, livre de Transgênicos & Agrotóxicos




Pesquisador compila dados do governo americano e mostra que lavouras transgênicas levaram a aumento no uso de agrotóxicos

Número 610 - 30 de novembro de 2012

Car@s Amig@s,

Em outubro último a revista científica Environmental Sciences Europe publicou a primeira pesquisa revisada por pares analisando o impacto das lavouras transgênicas sobre o uso de agrotóxicos, utilizando dados do Serviço Nacional de Estatística Agrícola (NASS, na sigla em inglês) do Departamento de Agricultura do governo dos EUA (USDA).

A pesquisa é assinada pelo Professor Charles Benbrook, da Washington State University, nos EUA. Para analisar os dados, Benbrook desenvolveu um modelo capaz de quantificar, por cultura e por ano, os impactos sobre o uso de agrotóxicos das seis maiores culturas transgênicas do país durante o período de 16 anos: milho, soja e algodão tolerantes à aplicação do herbicida glifosato; milho Bt tóxico à lagarta-do-cartucho; milho Bt tóxico à lagarta-da-raiz-do-milho; e algodão Bt tóxico a insetos da ordem Lepidoptera.

Os dados oficiais mostraram que as lavouras tolerantes à aplicação de herbicida levaram a um aumento de 239 milhões de kg no uso de herbicidas nos EUA entre 1996 e 2011, enquanto as lavouras tóxicas a insetos (Bt) reduziram a aplicação de inseticidas em 56 milhões de kg.

No cômputo geral, constatou-se um aumento no uso de agrotóxicos aplicados da ordem de 183 milhões de kg entre 1996 e 2011 (cerca de 7%). O uso geral de agrotóxicos em 2011 foi cerca de 20% maior em cada hectare plantado com uma variedade transgênica, em comparação ao uso de agrotóxicos em áreas plantadas com sementes convencionais. Especificamente sobre lavouras tolerantes a herbicidas, os números indicam que, em 2011, o volume de herbicidas aplicados foi 24% maior nas lavouras transgênicas do que nas áreas onde são plantados cultivos não transgênicos.

Em declaração publicada pelo jornal New York Times, Benbrook afirmou que “o motivo pelo qual os agricultores adotaram a tecnologia tão rapidamente foi que, nos primeiros anos, ela funcionou muito bem”. Segundo o pesquisador, os dados do USDA mostram que nos primeiros seis anos de uso comercial as lavouras transgênicas tolerantes a herbicidas ou tóxicas a insetos reduziram o uso de agrotóxicos em cerca de 2%.

Entretanto, como era previsto (e foi exaustivamente alertado), após esses primeiros anos, duas dúzias de espécies de plantas invasoras tornaram-se resistentes ao glifosato, e muitas delas estão se espalhando rapidamente, o que tem levado os agricultores a aumentar as quantidades, tanto de glifosato, como de outros herbicidas utilizados para controlar as chamadas “super-ervas-daninhas” – incluindo venenos antigos e mais tóxicos que a tecnologia de tolerância a herbicidas prometia substituir. Milhões de hectares nos EUA estão infestados com mais de uma planta invasora resistente ao glifosato, o que tem elevado o uso de herbicidas em 25% a 50%, aumentando, ao menos na mesma proporção, os custos com o controle do mato.

Para Benbrook, a magnitude do aumento no uso de herbicidas nas lavouras transgênicas anulou a redução do uso de inseticidas nas lavoras Bt nos últimos 16 anos, e isso continuará a acontecer no futuro.

Em suas conclusões, o autor da pesquisa ressalta que a realidade contraria a repetida afirmação de que as lavouras transgênicas reduzem o uso de agrotóxicos, relembrando que a solução proposta pelas indústrias de biotecnologia-sementes-agrotóxicos para responder à disseminação de ervas invasoras resistentes ao glifosato é o desenvolvimento de novas variedades transgênicas tolerantes a múltiplos herbicidas, incluindo o 2,4-D e o dicamba (para quem não se lembra, o 2,4-D era um dos componentes do Agente Laranja, desfolhante utilizado pelo exército americano na Guerra do Vietnam que provocou milhares de mortes e malformações em mais de 500 mil crianças; no Brasil, a CTNBio já autorizou o plantio experimental de soja tolerante ao 2,4-D).

Benbrook afirma que esses herbicidas antigos representam riscos ambientais e à saúde notavelmente maiores do que o glifosato. Nos EUA, o milho tolerante ao 2,4-D aguarda autorização. Segundo Benbrook, sua aprovação poderá levar a um aumento adicional de 50% no uso do herbicida nas lavouras de milho.

Com relação às lavouras tóxicas a insetos cabe ressaltar que, de acordo com dados citados no estudo, o volume de toxinas Bt produzidas por hectare por plantas de milho e algodão transgênicas excede, em quase todos os casos, o volume de inseticidas substituído pelo plantio da variedade Bt. Por exemplo, o milho Bt desenvolvido para eliminar a lagarta-da-raiz-do-milho e outros insetos próximos expressa de 0,6 a 2,8 kg de toxinas Bt por hectare, ao passo que dispensou apenas cerca de 0,2 kg de inseticida por hectare. O milho transgênico chamado SmartStax, que sintetiza três proteínas tóxicas à lagarta-do-cartucho e três proteínas tóxicas à lagarta-da-raiz-do-milho, produz cerca de 4,2 kg de toxinas Bt por hectare, 19 vezes mais que a taxa média convencional de aplicação de inseticidas em 2010.

O pesquisador alerta ainda que as lavouras de milho e algodão Bt tóxicas a insetos estão também provocando o aumento de insetos resistentes e começam a reverter a tendência de queda no uso de inseticidas. À agência de notícias Reuters, Benbrook declarou que “a relativamente recente emergência e dispersão de populações de insetos resistentes às toxinas Bt expressas no milho e no algodão transgênicos já começaram a provocar aumento no uso de inseticidas, e continuarão a fazê-lo”. Em entrevista, ele explicou que, “para que os insetos que atacam o milho e o algodão parem de desenvolver resistência à toxina Bt, agricultores que plantam variedades transgênicas estão sendo orientados a pulverizar os inseticidas que o milho e o algodão Bt foram projetados para substituir”.

Entre as conclusões da pesquisa, o autor alerta que os níveis de glifosato e de toxina Bt no ambiente, na alimentação animal e nos alimentos destinados ao consumo humano aumentaram substancialmente, criando uma miríade de novas vias de exposição. Para ele, muitas novas pesquisas serão necessárias para traduzir essa maior exposição aos venenos em riscos para os humanos, os animais e o meio ambiente.

Com informações de:

- Major US Study Shows that GM Crops Have Caused Increase in Pesticide Use - Third World Network Biosafety Information Service, 29/10/2012.

- Pesticide Use Rises as Herbicide-resistant Weeds Undermine Performance of Major GE Crops, New WSU Study Shows - Washington State University, 01/10/2012.

- Superweeds, Superpests: The Legacy of Pesticides - New York Times website, 05/10/2012.

- Pesticide use ramping up as GMO crop technology backfires: study -
Reuters, 02/10/2012.

- Summary of Major Findings and Definitions of Important Terms - “Impacts of genetically engineered crops on pesticide use in the U.S. – the first sixteen years” by Charles M. Benbrook – Washington State University, 01/10/2012.

O artigo “Impacts of genetically engineered crops on pesticide use in the U.S. – the first sixteen years” (Published in Environmental Sciences Europe, Vol. 24:24 doi:10.1186/2190-4715-24-24, 28 September 2012.) está disponível na íntegra no site da revista Environmental Sciences Europe: http://www.enveurope.com/content/pdf/2190-4715-24-24.pdf

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Neste número:

1. Associação Brasileira de Saúde Coletiva lança terceira parte de dossiê sobre agrotóxicos
2. Marco Maia e ruralistas podem votar fim da rotulagem de transgênicos
3. Governo contraria regra e aprova agrotóxico mais nocivo à saúde
4. Governo do MT diminui distância de aplicação de agrotóxicos em relação a cidades e nascentes
5. PNUMA lança relatório alertando sobre contaminação química

A alternativa agroecológica

Carta do VIII EnconASA evidencia a Política Nacional de Convivência com o Semiárido

Dica de fonte de informação:

Assista à vídeo-reportagem sobre agrotóxicos produzida pelo Ciência Hoje Online durante o 1º Seminário Agrotóxicos e Câncer, realizado pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA), no Rio de Janeiro, nos dias 7 e 8 de novembro. O vídeo dá sequência à reportagem de capa publicada na Ciência Hoje em setembro passado, que trouxe à baila a generosidade do mercado brasileiro em relação a produtos tóxicos já banidos em diversos países.

Evento:

I Encontro Anual do Fórum Estadual de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos – RJ

Data: 6 e 7 de dezembro
Local: Auditório do MPRJ: Av. Marechal Câmara, 370 – Castelo
Centro – Rio de Janeiro - RJ

Vagas limitadas. Faça sua inscrição no site do MPRJ.

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1. Associação Brasileira de Saúde Coletiva lança terceira parte de dossiê sobre agrotóxicos

Foi lançada em 16 de novembro a terceira parte do dossiê sobre agrotóxicos da Associação Brasileira de Saúde Coletiva – ABRASCO. O lançamento ocorreu durante o congresso da entidade, conhecido como Abrascão, que ocorreu em Porto Alegre, RS. As primeiras duas partes do dossiê “Um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde” foram lançadas também este ano.

“O conhecimento é o foco da Parte 3 do Dossiê Abrasco – Um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde. Depois de contemplarmos a segurança alimentar e nutricional na Parte 1, e de problematizar as inter-relações entre o modelo de desenvolvimento agrário e a sustentabilidade, no contexto da Rio+20 e da Cúpula dos Povos, na Parte 2, debruçamo-nos agora sobre aquilo que é a substância elementar de nosso trabalho na pesquisa, na educação, nos serviços de saúde, e também tema do X Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva (Porto Alegre, 2012): Ciência para a Cidadania.”

O dossiê conta com um prefácio escrito pelo intelectual português Boaventura de Souza Santos. “Gostaria de destacar que o Dossiê, em sua última etapa, constrói com ousadia o que tenho conceituado como a Ecologia de Saberes. Não basta somente reunirmos todo o conhecimento científico produzido pela ciência moderna, mas construirmos um verdadeiro diálogo entre as vozes que emergem dos territórios e que nos trazem informações que não estão nas grandes bases de dados oficiais.”

Boaventura se refere ao segundo capitulo do dossiê, que é formado por cartas escritas por diversas populações atingidas pelos agrotóxicos, e que vêm produzindo alternativas de produção agroecológica. O dossiê conta ainda com um capítulo dedicado “ao necessário e urgente exercício reflexivo sobre a Ciência Moderna – e nela a Saúde Coletiva, para analisar suas contribuições no enfrentamento da complexa questão dos agrotóxicos, identificar desafios e percorrer novos caminhos.” A última parte do documento traz indicações de políticas, pesquisas e ações que se mostraram necessárias para reverter o quadro em que nos encontramos.

A terceira parte do Dossiê, junto com as outras duas, pode ser baixada do site: http://greco.ppgi.ufrj.br/DossieVirtual/

Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, 22/11/2012.

2. Marco Maia e ruralistas podem votar fim da rotulagem de transgênicos

A proposta que acaba com a rotulagem é de autoria do deputado ruralista Luiz Carlos Heinze (PP/RS) e foi colocada na ordem do dia de votação na Câmara pelo presidente Marco Maia (PT/RS)

Manobra levou o projeto direto a votação em plenário, pulando análise das comissões

O PL proposto pelo deputado Heinze entrou na pauta do plenário em 21/11. Ele acabou não sendo votado, mas poderá voltar à pauta a qualquer momento. Vale ressaltar ainda que a proposta entrou em pauta no plenário da Câmara dos Deputados sem passar por análise de outras comissões, como manda o protocolo legislativo.

Sendo ignorado o procedimento adequado de análise nas Comissões de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio e na Comissão de Defesa do Consumidor, além da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, o projeto de lei entrou novamente em pauta com modificações em seu texto e aguarda votação no plenário.

O que diz o PL 4148/08?

A proposta elimina a informação no rótulo se não for detectável a presença do transgênico no produto final – o que exclui a maioria dos alimentos (como óleos, bolachas, margarinas, enlatados, papinhas de bebê etc.); (2) não obriga a rotulagem dos alimentos de origem animal alimentados com ração transgênica; (3) exclui o símbolo T que hoje facilita a identificação da origem transgênica do alimento (como tem se observado nos óleos de soja); e (4) não obriga a informação quanto à espécie doadora do gene.

Resumo dos principais argumentos contra o PL:

1) Fere o direito à escolha e à informação assegurados pelo Código de Defesa do Consumidor, nos artigos 6º, II e III e 31 e desrespeita a vontade dos cidadãos que já declararam que querem saber se um alimento contém ou não ingrediente transgênico (74% da população – IBOPE, 2001; 71% – IBOPE, 2002; 74% – IBOPE, 2003; e 70,6% – ISER, 2005).

2) Representa um retrocesso ao direito garantido pelo Decreto Presidencial 4.680/03 (Decreto de Rotulagem de Transgênicos) que impõe a rastreabilidade da cadeia de produção como meio de garantir a informação e a qualidade do produto (vale lembrar que a identificação da transgenia já é feita para a cobrança de royalties).

3) Impedir a informação da característica não geneticamente modificada do produto é um desrespeito ao direito dos consumidores, dos agricultores e das empresas alimentícias que optam por produzir alimentos isentos de ingredientes transgênicos e tem como única finalidade favorecer a produção de transgênicos.

4) A rotulagem de transgênicos é medida de saúde pública relevante ao permitir o monitoramento pós-introdução no mercado e pesquisas sobre os impactos na saúde.

5) Pode impactar fortemente as exportações, na medida em que é grande a rejeição às espécies transgênicas em vários países que importam alimentos do Brasil.

6) Descumpre compromissos internacionais assumidos no âmbito do Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança, Acordo Internacional ratificado por 150 países, do qual o Brasil é signatário. De acordo com o Protocolo, os países membros devem assegurar a identificação de organismos vivos modificados nas importações/exportações, destinados à alimentação humana e animal (artigo 18. 2. a).

7) Por fim, o Projeto de Lei em questão contraria manifestação da sociedade civil brasileira que recomendou ao Governo Brasileiro que durante a reunião da 6ª MOP-COP, em Hyderabad, Índia, (outubro de 2012) se posicionasse de acordo com a recomendação do Secretariado Executivo do Protocolo de Cartagena, nos moldes do informe UNEP/CBD/BS/COPMOP/6/9, a favor da utilização de tecnologias e segregação e rastreabilidade, já implementadas em países desenvolvidos, a fim de facilitar a identificação dos OGMs.

Com informações de Idec em Foco, 29/11/2012.

3. Governo contraria regra e aprova agrotóxico mais nocivo à saúde

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) contrariou procedimentos internos e aprovou, em fevereiro, a liberação de um agrotóxico mais nocivo à saúde do que outro que já estava à venda, com o mesmo princípio ativo e para o mesmo fim.

O inseticida para cana Singular BR, da Ourofino Agronegócio, passou pela avaliação da Anvisa e obteve registro no Ministério da Agricultura mesmo sendo mais tóxico do que seu produto de referência, o Regent 800 WG, da Basf, há anos no mercado.

O Singular e outros seis produtos de quatro empresas estão no centro das denúncias do ex-gerente de toxicologia da Anvisa, Luiz Cláudio Meirelles, exonerado enquanto fazia apurações internas.

A lei dos agrotóxicos, de 1989, proíbe o registro de um novo produto que seja mais tóxico do que outro já registrado para o mesmo fim. O registro é obrigatório para um defensivo ser comercializado.

O propósito da lei é proteger a saúde humana e a natureza e estimular as empresas a buscar soluções tecnológicas menos danosas.

A Anvisa disse, em nota, que esse é um processo que está sendo auditado e que, por isso, só irá se pronunciar depois das apurações.

De modo geral, porém, a agência afirmou que passou a aprovar neste ano registros de produtos mais tóxicos que os de referência. Antes, a Anvisa orientava as empresas a reformulá-los, de modo a torná-los menos nocivos.

A mudança se baseou em parecer da AGU (Advocacia-Geral da União), favorável ao pedido de uma empresa.

O parecer, de março, é posterior à aprovação do Singular BR. O inseticida está com registro válido no Ministério da Agricultura e deve ser lançado no próximo mês.

A Ourofino é a mesma empresa que, em 2011, emprestou jatinho ao então ministro da Agricultura, Wagner Rossi (PMDB). O episódio acelerou sua saída do governo. (...)

Folha de São Paulo, 29/11/2012 – via Em Pratos Limpos.

4. Governo do MT diminui distância de aplicação de agrotóxicos em relação a cidades e nascentes

Maior produtor de grãos do país, Mato Grosso é também o maior usuário de insumos agrícolas do Brasil

A produção de grandes monoculturas de exportação como a soja, o milho e o algodão está associada a um intensivo uso de agrotóxicos. Maior produtor de grãos do Brasil, Mato Grosso também é o maior usuário de insumos químicos em suas lavouras do Brasil, com média de 113 milhões de litros ao ano.

Porém, a despeito de estudos que apontam para os riscos de contaminação do lençol freático de alguns municípios e dos danos à saúde humana, de animais e de impactos no ambiente em geral, o Estado deu, em setembro, um passo atrás na questão ambiental. O Decreto 1.362, em vigor desde o dia 13 de setembro, diminui a distância de aplicação terrestre de agrotóxicos de cidades e nascentes.

As distâncias variavam entre 150 m e 300 m e passou a ser de 90 m. A medida atende aos interesses do agronegócio, um dos grandes propulsores da economia do Estado, mas é avaliada por pesquisadores e ambientalistas como um duro golpe no meio ambiente.

O texto do decreto, publicado no Diário Oficial do Estado, regulamenta a Lei 8.588 de 2006 e revoga o Decreto 2.283 de 2009. As três matérias tratam das regras para o uso, aplicação, produção, comércio e transporte de agrotóxicos.

O decreto de 2009 estabelecia distância mínima de aplicação de 300 m de cidades e mananciais de captação de água para abastecer a população; 150 m de mananciais, moradias isoladas e agrupamentos de animais; e 200 m de nascentes.

As consequências para a saúde humana do contato com agrotóxicos são devastadoras. As substâncias são cancerígenas, neurotóxicas - causam depressão e irritabilidade – e provocam má formação, além de outros problemas. Os insumos ficam acumulados no corpo e podem ser detectados no leite materno, na urina e até mesmo no sangue.

Em comunicado, o Indea-MT (Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso), informou que acompanhou os debates sobre o tema e que a legislação anterior era “praticamente inaplicável". Na nota, o instituto diz que o novo decreto traz “tranquilidade” aos produtores rurais de Mato Grosso.

Em entrevista por telefone dias após a divulgação da nota, o presidente do Indea-MT minimizou a questão. “Foi realizado um estudo técnico antes de esse decreto ser baixado pelo Governo. A aplicação já estava sendo feita com essa distância, então isso só foi regulamentado”, disse Jurandir Ribas.

Porém, ambientalistas e pesquisadores estão longe de compartilhar a mesma serenidade em relação à medida.

“O Estado está indo na contramão de tudo que está sendo feito em todo o mundo. Ao publicar um decreto como esse, cria mais um problema ambiental. O reflexo disso é que a situação, que já não é boa, vai piorar ainda mais”, critica o médico sanitarista e pesquisador Wanderley Pignati, da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso), que estuda efeitos dos agrotóxicos há 10 anos.

Pignati foi um dos responsáveis pelo estudo divulgado em 2011 que constatou a presença de agrotóxicos no leite materno de mulheres de Lucas do Rio Verde.

Ele afirma ainda que a legislação que estabelecia a distância mínima na aplicação dos agrotóxicos, “que já era pequena”, nunca foi respeitada e que o decreto vai aumentar o risco de contaminação da população.

“Realizamos estudos que revelam que o lençol freático de Campo Verde, Lucas do Rio Verde e Primavera [do Leste] está contaminado por agrotóxicos. O seja, a contaminação está além das áreas de plantio. Diminuindo ainda mais a distância da aplicação, vai aumentar o impacto”, avalia Pignati. (...)

O consumo de agrotóxicos em Lucas do Rio Verde cresceu cerca de 70%, passando de 3,65 milhões de litros em 2005 para 5,16 milhões em 2009. A quantidade de utilização de produtos extremamente tóxicos caiu 29%, mas os classificados como altamente tóxicos e pouco tóxicos cresceram 41% e 60%, respectivamente.

Em Campo Verde, o consumo de agrotóxicos subiu 20%, de 4,15 milhões de litros em 2005 para 4,92 milhões em 2009. (...)

MidiaNews, 14/10/2012.

5. PNUMA lança relatório alertando sobre contaminação química

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) lançou em setembro um relatório alertando para os perigos da contaminação química nos países em desenvolvimento. A questão agrária é uma das preocupações do Pnuma, já que, segundo a Organização Mundial da Saúde, pelo menos três milhões de pessoas são intoxicadas, anualmente, em decorrência do uso de agrotóxicos.

Ciência Hoje On-line, 22/11/2012.

A alternativa agroecológica

Carta do VIII EnconASA evidencia a Política Nacional de Convivência com o Semiárido

A Carta Política elaborada pela ASA nos cinco dias do VIII Encontro Nacional (EnconASA) – realizado na última semana (19 a 23 de novembro), na cidade de Januária, em Minas Gerais – anuncia a estratégia traçada por uma política nacional de convivência com o Semiárido, que não foi concebida em gabinetes, mas se torna real à medida que a sociedade civil ocupa espaços na concepção e implementação de políticas públicas.

“A Carta anuncia um conjunto de elementos e indicadores que gradativamente vão construindo um Semiárido viável. A nossa política é ir ocupando o Semiárido com boas experiências nas várias dimensões da proposta de convivência e a perspectiva é que estas ações sejam financiadas pelo governo”, assegura Naidison Baptista, coordenador executivo da ASA pelo estado da Bahia.

Em pleno processo de construção, esta Política é uma prova concreta da importância da atuação da sociedade civil na implementação de projetos de desenvolvimento sustentável não só para o Semiárido, como para todo o país. “Isso significa que para cumprir sua missão, o Estado não pode preterir a participação forte e ativa das organizações sociais na concepção, execução e no monitoramento de políticas públicas”, reforça um trecho do documento.

Esta Carta pauta as ações políticas da ASA e também funciona como um documento público que aponta as reivindicações da sociedade civil junto aos governos. Escrito em três blocos, o documento é iniciado contextualizando um conjunto de vitórias e conquistas alcançadas pela ASA ao longo de seus 13 anos. “Estamos chegando perto da democratização da água de beber, a implantação [de tecnologias que armazenam] da água de produção está numa crescente e executamos boas experiências de acesso à água para escolas”, elenca.

No segundo bloco, a Carta traça os desafios estruturais que instalam um cenário de injustiça, exclusão e desrespeito da população do Semiárido. “Esse desrespeito se dá por parte das mineradoras, do agronegócio e dos grandes projetos do governo que excluem as pessoas de seu ambiente sob o álibi de que são incapazes e incompetentes”, analisa Naidison.

Na terceira e última parte da Carta, a ASA diz como vai continuar sua trajetória. “Neste ponto, nós questionamos a nossa ação e descobrimos lacunas e elementos que precisam ser aperfeiçoados”, comenta o representante da rede.

Surgem aí questões cruciais para a ASA como: a defesa da aprovação de uma legislação que regule a relação entre o Estado e a sociedade civil, o resgate das sementes nativas que estão desaparecendo da região, a ampliação e qualificação do P1+2 como estratégia fundamental da articulação e também a perspectiva de ocupação dos serviços de Ater, pleiteando uma reformulação na sua proposta para que se torne permanente e agroecológica.

Além destas dimensões, a Carta cita também outros elementos que reforçam a política de convivência, como a democratização dos meios de comunicação no ambiente rural, o acesso à terra e garantia dos direitos territoriais das populações tradicionais, a auto-organização das mulheres e o acesso à água potável para a população rural nos municípios com dificuldades de acesso à água, mas que não estão incluídos no Semiárido Legal, e para as populações de pequenos conglomerados urbanos.

A Carta Política será encaminhada para a presidente Dilma Rousseff e governantes dos estados e municípios da região semiárida. Também está sendo planejado um dia de mobilização nas redes sociais para divulgação do documento com a participação das organizações que fazem parte da ASA.

Leia a Carta Política na íntegra.

AS-PTA, 30/11/2012 (da ASACOM).

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Campanha Brasil Ecológico, Livre de Transgênicos e Agrotóxicos

Este Boletim é produzido pela AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia e é de livre reprodução e circulação, desde que citada a AS-PTA como fonte.

Para os números anteriores do Boletim, clique em: http://aspta.org.br


AGRICULTURA - SAÚDE - AGROTÓXICOS - Suicídio Ligado ao Agrotóxico

Suicídio ligado ao agrotóxico

Dados analisados de um período de dez anos, no Mato Grosso do Sul, mostram que 1.355 pessoas se contaminaram de forma voluntária com substâncias químicas usadas em lavouras. Vários estudos citados pelos cientistas mostram que existe, em outro lugares do mundo, uma correlação forte entre tentativas de suicídio e uso de agrotóxicos

Entre 1992 e 2002, apenas no Estado do Mato Grosso do Sul, o Centro Integrado de Vigilância Toxicológica registrou 1.355 notificações de intoxicações. Nesse conjunto ocorreram 506 tentativas de suícidio e 139 óbitos. A causa das mortes foi a ingestão voluntária de agrotóxicos.

Conforme mostra o estudo Uso de agrotóxicos e suicídios no Estado do Mato Grosso do Sul, Brasil, do pesquisador Dario Pires e colaboradores, publicado no Cadernos de Saúde Pública, a maior parte das ocorrências registradas pela pesquisa estava relacionada com sintomas de depressão. 

Vários estudos citados pelos cientistas mostram que existe, em outro lugares do mundo, uma correlação forte entre tentativas de suicídio e uso de agrotóxicos.

No caso específico da pesquisa, a cultura do algodão, por causa da alta demanda por inseticidas, pode estar mais ligada ao problema dos suicídios do que as outras plantações. “Embora a cultura algodoeira não possa ser considerada determinante para a ocorrência de suicídios numa região, a correlação encontrada pode significar um fator de risco, no que diz respeito à exposição humana aos inseticidas, na região de Dourados”, diz o estudo, disponível na biblioteca eletrônica SciELO (Bireme/FAPESP).

Para Pires, o maior potencial de exposição a agrotóxicos dos trabalhadores rurais, nas pequenas propriedades da microrregião de Dourados, pode explicar o alto número de notificações de tentativas de suícidios e óbitos devido ao uso desses produtos. Na região, o número de tentativas de ceifar a própria vida, por causas diversas, também aumentou de forma significativa na última década.

Foram registradas 203 tentativas de suicídio em Dourados, no intervalo de dez anos, com 31 mortes. 

“Esses dados mostram a necessidade de indicar um programa de vigilância epidemiológica para a região, até agora inexistente, para melhor avaliar, comparar e quantificar esses eventos”, recomendam os pesquisadores.

Para ler o artigo na íntegra, clique aqui

Original desta matéria

Fonte;. Agência Fapesp em , 11 de abril, 2005