Dr. Francisco Eratóstenes da Silva
dr.francisco@yahoo.com.br
Apresentação
A intenção de preparar este trabalho surgiu quando, estudando as mais recentes
escolas e autores em Homeopatia, tais como a Homeopatia Previsível, Scholten,
Mangialavori e Rajan Sankaran, surgiram questionamentos que me levaram a retornar
à obra básica de nossa doutrina, o Organon, para fixar melhor as orientações de
Hahnemann. Lembrei do início de meus estudos em Homeopatia, quando sinceramente,
achei o Organon um pouco confuso de entender, pelos que começam o seu estudo,
talvez pela inovação, tradução ou mesmo a forma de exposição. Resolvi fazer uma
releitura de seus parágrafos, e, quando possível, tirar apenas a mensagem principal de
cada parágrafo. A idéia foi apenas de facilitar a leitura, nunca a de substituir a obra
original. Assim, alguns artigos ficaram bem diminuídos enquanto outros foram
mantidos em sua quase totalidade; mesmo assim conseguimos resumir de um total de
mais de 71.000 palavras do original, para aproximadamente pouco mais de 30.000
neste meu Organon, em Escritos Menores. Aliás, essa foi a justificativa de utilizar este
outro título de nossa literatura homeopática, para definir bem o objetivo principal do
meu trabalho. Finalizando, a disponibilização do Organon em meio eletrônico, diminui
os custos de uma obra impressa e possibilita uma integração entre o tradicional com o
tecnológico. Se o Organon for conhecido pelo maior número de pessoas possível, e os
seus ensinamentos forem aproveitados para uma melhor compreensão do binômio
saúde-doença, então terei atingido o meu objetivo nesse trabalho e maior estímulo para
produzir outros.
Médico Homeopata
.
§1. A mais alta e única missão do médico é restabelecer a saúde nos doentes, que é o que
se chama curar (*).
(*) Sua missão não é fazer idéias e hipóteses vazias sobre a essência íntima do processo
vital e as origens da doença no interior do organismo, nem explicações a respeito dos
fenômenos mórbidos e sua causa imediata, sempre oculta a nós etc.. Usa palavras não
conhecidas para os leigos e um modo abstrato de expressões de aparência muito erudita
a fim de impressionar os ignorantes. Basta desses devaneios (chamados medicina
teórica); O necessário é agir, isto é, a ajudar e curar realmente.
§2. O ideal máximo da cura é o restabelecimento rápido, suave e duradouro da saúde,
ou a remoção da doença em toda a sua extensão, da maneira mais curta, mais segura e
menos nociva, agindo por princípios facilmente compreensíveis.
§3. Se o médico percebe claramente o que há para ser curado nas doenças, isto é, em
cada caso individual de doença (conhecimento da doença, indicação), se ele também
percebe o que é curativo nos medicamentos, isto é, em cada medicamento em particular
(conhecimento das virtudes medicinais); se sabe adaptar, de acordo com princípios bem
definidos, o que é curativo nos medicamentos, ao que considerou sem dúvida patológico
no paciente; se sabe adaptá-lo, tanto a respeito da conveniência do medicamento mais
apropriado quanto ao seu modo de ação no caso de que se trata (escolha do remédio,
medicamento indicado), como a respeito da maneira exata de sua preparação e
quantidade (dose certa), e do período apropriado de sua repetição; se, finalmente,
conhece os obstáculos ao restabelecimento em cada caso, e sabe removê-los de modo que
a cura seja durável: então ele saberá agir de maneira racional e profunda, e então ele
será um verdadeiro médico.
§4. Ele é igualmente um conservador da saúde, se conhece as coisas que a perturbam,
causam e mantêm a doença, e sabe afastá-las do homem são.
§5. No auxilio da cura servem ao médico os dados detalhados da causa ocasional mais
provável da doença aguda, bem como os momentos mais significativos na história
inteira da doença crônica, para encontrar a sua causa fundamental, na maioria dos
casos devida a um miasma crônico. Ele deve considerar a constituição física do
paciente (especialmente do paciente crônico), seu caráter normal e intelectual, suas
ocupações, seu modo de vida e hábitos, suas condições sociais e domésticas, sua idade e
função sexual etc...
§6. O observador sem preconceitos, não faz argumentações metafísicas que a
experiência não possa confirmar. Ele deve considerar apenas sinais e sintomas que são
perturbações do antigo estado são do paciente, os quais este mesmo sente, as pessoas de
seu ambiente percebem e o próprio médico nele observa, Todos esses perceptíveis
representam a doença em toda a sua extensão, i.e., formam, juntos, o quadro verdadeiro
e único que se pode imaginar da doença. (*)
(*) Não compreendo, portanto, como podia vir aos médicos à idéia de procurar e querer
encontrar, à cabeceira do doente o que devia ser curado na doença, apenas no interior
escondido e desconhecido, sem cuidarem dos sintomas e dirigirem a cura de acordo com
eles; como, podia surgir essa idéia com a pretensão arrogante e ridícula, de que se pode
restabelecer, com medicamentos (desconhecidos!), as alterações do invisível interior sem
considerar atentamente os sintomas, e que a isso se chama curar completa e
racionalmente.
§7. Nas doenças, nada se pode perceber além de sinais mórbidos. Deve-se afastar a
causa que a provoque ou sustente (causa occasionalis) (*); achando-se na presença de
um possível miasma, e em circunstâncias acessórias (5), somente os sintomas devem
orientar na escolha dos meios para a cura. A totalidade dos sintomas, deve ser o
principal e único meio pelo qual a enfermidade mostra o medicamento de que necessita,
e é o único meio que determina a escolha do medicamento mais apropriado; a totalidade
(**) dos sintomas deve ser a única coisa que ele deve ver em cada caso de doença, e
afastar pela sua arte.
(*) Entende-se que todo médico inteligente afastará, primeiramente, a causa; assim, o
mal-estar em geral cessa espontaneamente. Ele removerá do quarto flores cujo perfume
forte provoca desmaio e acidentes histéricos; da córnea, o corpo estranho que causa
inflamação do olho; de um membro ferido, retirará o aparelho muito apertado que
ameaça causar gangrena, e aplicará um mais adequado; descobrirá a artéria ferida
causadora do desmaio e fará ligaduras; procurará remover, pelo vômito, bagas de
beladona ingeridas etc.; extrairá substâncias estranhas que tenham penetrado nos
orifícios do corpo, triturará o cálculo vesical, abrirá o ânus imperfurado do neonato etc.
(**) Em todas as épocas, a velha escola procurava combater, e, se possível, suprimir
nas doenças um só dos sintomas (tratamento sintomático) provocando muitos
inconvenientes. Esse procedimento foi tanto mais repreensível, porque trataram
determinado único sintoma apenas com um remédio oposto (de maneira enantiopática e
paliativa), e após curto alívio, o sintoma reaparecia pior que antes.
§8. Não se pode provar que, ao serem removidos todos os sintomas de uma enfermidade,
ainda possa restar qualquer outra coisa além da saúde. (*).
(*) Se a saúde foi recuperada, pode-se presumir, que a doença esteja ainda presente no
interior, sem com isso faltar ao bom-senso? Entretanto, o antigo chefe da velha escola,
Hufeland, o afirma com as palavras (veja "A Homeopatia", pag. 27 linha 19): "A
homeopatia pode remover os sintomas, mas a doença fica." - Afirmou-o, em parte por
desgosto pelos progressos da homeopatia, em benefício da humanidade, e em parte
porque tem ainda conceitos bem materiais da doença, que ele ainda não julga um modo
de ser do organismo alterado pela força vital doente, mas sim uma coisa material que
talvez tivesse ficado ainda em qualquer canto do interior do corpo, para, de repente, na
melhor saúde, e à vontade, irromper com a sua presença material.
§9. No estado de saúde, a força vital mantém todas as atividades em harmonia e o
espírito pode alcançar os mais altos fins da existência.
§10: O organismo, sem a força vital, não é capaz de ter sensações, funções, nem autoconservação
(*).
(*) Ele está morto e submisso apenas ao poder do mundo físico exterior; apodrece e se
dissolve novamente em seus componentes químicos.
§11. Na doença, a força vital é inicialmente afetada, de forma dinâmica (resultante de
energia) (*), permitindo ao corpo manifestar as sensações desagradáveis em forma de
sintomas. Da mesma forma age o remédio homeopático na força vital, cada um, com as
suas características específicas, e não com as de outros medicamentos. A ação é
dinâmica, não material, e quanto menor a matéria e melhor dinamizada, maior será o
seu efeito.
(*) O que é influência dinâmica - força dinâmica? Verificamos que a nossa terra, por
uma força secreta, invisível, conduz a lua em torno de si, dentro de 28 dias e algumas
horas, e que a lua levanta em marés, alternadamente, em horas fixas, os nossos mares
do norte e os abaixa novamente em horas fixas, ao refluxo (deduzindo-se alguma
diferença na lua cheia e na nova). Vemos isso e ficamos admirados, pois nossos sentidos
não percebem como tal acontece. Aparentemente, isso não acontece por meio de
invenções materiais ou realizações mecânicas, como as obras do homem. E vemos ao
nosso redor muitos outros acontecimentos, como resultado do efeito duma substância
sobre outra, sem reconhecermos um nexo perceptível entre causa e efeito. Só o homem
culto, experimentado na comparação e na abstração, é capaz de formar para si alguma
idéia supersensorial suficiente para manter distante, nos seus pensamentos, tudo que é
material ou mecânico na concepção de tais conceitos; ele chama tais efeitos de
dinâmicos, virtuais, i.e., efeitos que resultam da energia e ação puras, específicas,
absolutas, duma substância sobre outra. Assim, por exemplo, a ação dinâmica das
influências morbíficas no homem são como a força dinâmica dos medicamentos ao
princípio vital, para a restauração da saúde: não é outra coisa senão infecção, e de
nenhum modo material, de nenhum modo mecânica, como o é a força dum ímã que atrai
um pedaço de ferro ou aço. Vê-se que o pedaço de ferro é atraído por um pólo do ímã;
porém, como isso acontece não se vê. Essa força invisível do ímã não precisa, para
atrair o ferro, de nenhum meio auxiliar mecânico (material), de nenhum gancho ou
alavanca; ela atrai e age sobre o pedaço de ferro ou agulha de aço por meio de pura
força própria, imaterial, invisível, espiritual, i.e., dinamicamente, e comunica da mesma
maneira invisível, dinâmica, a agulha de aço a força magnética; a agulha de aço tornase
magnética já à distância, sem ser tocada pelo ímã, e magnetiza outras agulhas de aço
com a mesma propriedade magnética (dinamicamente) que recebeu, antes, do ímã,
precisamente como uma criança com varíola ou sarampo comunica, à criança vizinha,
sã, não tocada por ela, a varíola, ou o sarampo, de maneira invisível (dinamicamente)
i.e., infecta-a a distância, sem que qualquer material da criança infectante passe ou
possa passar àquela outra tampouco como qualquer material do pólo do ímã pudesse
chegar à agulha de aço. Uma influência puramente imaterial, específica, comunicou à
criança a varíola ou o sarampo, da mesma maneira como o ímã comunicou a
propriedade magnética à agulha vizinha. E de modo semelhante, deve-se considerar o
efeito dos medicamentos no homem vivo. As substâncias naturais que se apresentam
como medicamentos, são medicamentos desde que possuam a força (cada um uma
própria específica) de alterar o estado do homem pela influência imaterial, dinâmica
(por meio da fibra sensitiva viva) sobre o princípio vital imaterial que controla a vida.
A propriedade medicinal daquelas substâncias naturais a que chamamos de
medicamentos refere-se apenas à sua força de causar alterações no estado de vida
animal; só a esse princípio vital imaterial estende-se a sua influência (dinâmica)
imaterial alteradora do estado; assim como a vizinhança dum pólo magnético pode
comunicar ao aço só força magnética (e isso por uma espécie de contágio), mas não
outras propriedades (por exemplo, mais dureza ou ductilidade etc.). E assim, cada
substância medicinal especial altera, por uma espécie de infecção, o estado do homem
de maneira peculiar, exclusivamente sua, e não de maneira peculiar a outro
medicamento, tão certo quanto à proximidade duma criança com varíola comunicará a
uma criança sã só a varíola, e não o sarampo. Essa ação dos medicamentos sobre o
nosso estado ocorre dinamicamente, como por infecção, completamente sem
comunicação de partes materiais da substância medicamentosa. Muito mais força
curadora manifesta-se, num caso mórbido apropriado, pela menor dose dos remédios
melhor dinamizados - em que pode haver, de acordo com cálculos, apenas tão pouca
substância material que sua pequenez não pode ser imaginada, nem concebida pela
mente mais aritmética - do que por doses grandes do mesmo remédio em substância.
Aquela pequeníssima dose pode, portanto, conter, quase inteiramente, a força medicinal
imaterial pura, livremente desenvolvida, e realizar, apenas dinamicamente, tantas
ações quantas nunca podiam ser obtidas pela substância medicinal bruta, tomadas
mesmo em doses altas. Não é nos átomos corpóreos desses medicamentos altamente
dinamizados, nem na sua superfície física ou matemática (com que as forças maiores
dos medicamentos dinamizados são interpretados, como ainda bastante materiais, mas
em vão), que se encontra a força medicinal, mas é uma força medicinal, específica,
liberada da substância medicinal, que jaz invisível no glóbulo umedecido ou na sua
solução, a qual age dinamicamente sobre o organismo inteiro, já em contato com a fibra
animal viva (sem, porém, comunicar-lhe qualquer matéria, por mais atenuada que seja)
e age tanto mais fortemente quanto mais livre e imaterial ela se tornou por meio da
dinamização. (270). É tão impossível, em nossa idade, notável pela sua riqueza em
pensadores, imaginar a força dinâmica como algo de não-corpóreo, visto vermos,
diariamente, fenômenos que não se podem explicar de qualquer outro modo! Se
olharmos para algo repugnante e sentirmos vontade de vomitar, por acaso um vomitivo
material entrou em nosso estômago, que o obrigou a esse movimento peristáltico? Não
foi unicamente o efeito dinâmico do aspecto repugnante sobre a sua imaginação? E se
levantarmos os braços isso ocorre por meio dum instrumento material visível? Não é
unicamente a força dinâmica, imaterial de nossa vontade que os levanta?
§12. As doenças são o resultado de alterações na força vital (*), e sinais e sintomas
expressam, ao mesmo tempo, toda a mudança interna, isto é, toda a perturbação
mórbida do dinamismo interno e são reveladores de toda a doença; além disso, o
desaparecimento, pelo tratamento, de todos os fenômenos mórbidos e de todas as
alterações mórbidas que diferem das funções vitais no estado de saúde, necessariamente
acarreta o restabelecimento da integridade do princípio vital e, portanto, a recuperação
da saúde de todo o organismo.
(*) Como a força vital faz com que o organismo revele sintomas mórbidos, não seria
útil para o médico saber o como e o porquê (e jamais ele o saberá).
§13. Por isso, a doença (que não constitui objeto da cirurgia), é considerada pelos
alopatas como algo separado do organismo e de sua força vital animadora, e oculta em
seu interior, como se fosse algo de natureza tão sutil; isso é um absurdo (*) somente
imaginado por mentes materialistas.
(*) Material peccans!
§14. Não há nada que seja curável que não se revele através dos sintomas.
§15. O organismo é animado pela força vital e esta não existe sem o organismo,
constituindo uma unidade.
§16. A força vital só pode ser afetada por forças dinâmicas, tanto quando é agredida,
quanto quando é harmonizada pelo remédio dinâmico (*).
(*) Vide nota do 11.
§17. Na cura efetuada pela remoção da totalidade dos sinais perceptíveis da doença
remove-se ao mesmo tempo a alteração interna do princípio vital (*); é lógico que o
médico só tem de remover a totalidade dos sintomas para remover também o transtorno
mórbido da força vital, a totalidade da doença (**). Assim aniquilada a doença,
restabelece-se a saúde e é esse o mais elevado objetivo do médico que conhece o
verdadeiro escopo de sua missão, que não consiste em falatórios que soam a erudição,
mas em dar auxílio ao doente.
(*) Moléstias gravíssimas podem ser produzidas por distúrbios suficientemente sérios
da força vital resultantes da imaginação, e também curadas da mesma maneira. Um
sonho premonitório, uma fantasia supersticiosa ou a solene predição de que a morte
ocorrerá em certo dia ou certa hora, podem produzir todos os sinais de doença
incipiente e em progressão, de morte próxima ou a própria morte, na hora anunciada, o
que não ocorreria sem a produção simultânea da alteração interna (correspondente ao
estado observado externamente). Em tais casos, todos os sintomas mórbidos de morte
próxima dissipam-se por causa idêntica, por um ardil engenhoso, pela persuasão em
sentido contrário, e a saúde restabelece-se subitamente, o que não aconteceria sem a
remoção, mediante esse remédio moral, da alteração mórbida interna e externa, que
acarretou o perigo de morte.
(**) Só assim é que Deus, o Preservador da humanidade, pôde revelar Sua sabedoria e
bondade em relação à cura das doenças a que o homem está sujeito na sua vida terrena,
mostrando ao médico o que ele teria de remover nas doenças. Mas, o que pensaríamos
de Sua sabedoria e bondade, envolvesse Ele em mística obscuridade o que se deva curar
nas doenças (como o assevera a escola dominante de medicina, que afirma possuir
sobrenatural visão da natureza íntima das coisas), encerrasse e ocultasse Ele bem no
fundo e assim impossibilitasse ao homem conhecer acuradamente a doença e
conseqüentemente o impossibilitasse de curá-la?
§18. Na totalidade dos sintomas deverão ser consideradas as modalidades que os
acompanham (5); a soma desses sintomas e condições em cada caso individual de
moléstia deve ser a única indicação a nos guiar na escolha de um remédio.
§19. Os remédios tem a capacidade de modificar o estado de saúde.
§20. O poder do medicamento homeopático só pode ser descoberto pela experimentação.
§21. O princípio curativo dos medicamentos não é em si perceptível; nada pode ser
observado, a não ser o poder de causar alterações distintas no estado de saúde do corpo
humano, e especialmente do indivíduo são, e de nele excitar diversos sintomas mórbidos
definidos; os medicamentos só podem manifestar a sua capacidade curativa mediante
seu poder de alterar o estado de saúde dos homens. Os fenômenos mórbidos produzidos
pelos medicamentos no corpo sadio, são a única indicação possível de seu poder
curativo.
§22. O remédio produz um estado mórbido artificial em pessoas sadias e remove o
estado mórbido natural no enfermo. Outra forma de tratamento é com os remédios
alopáticos, cujos sintomas não têm relação patológica direta com o estado mórbido,
nem semelhante nem oposta, mas diferente dos sintomas da doença. Outras formas
como cirurgias inadequadas, drenagens, etc... utilizadas com o objetivo de imitar a
natureza, debilitam o organismo e não considera que a força vital é instintiva e nãointeligente,
por conseguinte não cura o organismo.
§23. A doença não pode ser tratada com remédios com sintomas opostos aos seus, como
se dá com o tratamento enantiopatico, antipático ou paliativo, que após alivio
transitório, retorna mais intensamente.
§24. Não resta, assim, nenhum outro método de emprego de medicamentos, a não ser o
homeopático, pelo qual procuramos, para a totalidade dos sintomas do caso de doença,
um remédio que, dentre todos os outros, tenha o poder de produzir um estado mórbido
artificial o mais semelhante ao caso de doença em questão.
§25. Todos os remédios curam, sem exceção, aquelas moléstias cujos sintomas mais se
assemelham aos seus, sem deixar de curar nenhuma.
§26. Uma afeção dinâmica mais fraca é extinta de modo permanente por outra mais
forte, quando esta última (embora de espécie diferente) seja semelhante à primeira em
suas manifestações (*).
(*) Assim se curam tanto as afecções físicas como os males morais. Como é que nas
primeiras horas da madrugada o brilhante Júpiter desaparece da vista do observador?
Por uma força semelhante, mas muito mais forte agindo no nervo ótico, o brilho do dia
que se aproxima! - Em ambientes repletos de odores fétidos, com que é que se costuma
aliviar os nervos olfativos ofendidos? Com rapé, que afeta o sentido do olfato de modo
semelhante, mas muito mais intenso! Não há música nem doces que, agindo nos nervos
de outros sentidos, possam curar este mal-estar olfativo. Como é que o soldado
destramente abafa os gritos de que está sendo punido aos ouvidos dos assistentes?
Pelas notas agudas da flauta misturadas com o rufar do tambor! E o rugido distante
do canhão do inimigo que enche de medo seu exército? Com fortes batidas do grande
tambor! Pois nem a um nem a outro serviria a distribuição de belos uniformes ou
reprimenda ao regimento. Do mesmo modo, o luto e a dor serão apagados da mente por
outra causa ainda mais forte de dor, mesmo que seja mera ficção. Os inconvenientes da
alegria exagerada são removíveis tomando-se café, que produz um estado de espírito
excessivamente alegre. Os povos como o alemão, que durante séculos e séculos
mergulharam cada vez mais fundo em apatia material e degradante servidão, devem ser
calcados ainda mais fundos no pó pelo conquistador ocidental até que sua situação se
torne intolerável; assim, sua baixa opinião de si próprios foi levada ao máximo e
removida; podem outra vez viver dignamente como homens, e assim, pela primeira vez,
erguerem suas cabeças como alemães.
§27. O poder curativo dos medicamentos depende de seus sintomas, semelhantes aos da
doença, mas superiores em força (12-26), de modo que cada caso individual de doença é
eliminado apenas por um remédio capaz de produzir no organismo humano, da maneira
mais completa e semelhante, a totalidade dos seus sintomas, que são, ao mesmo tempo,
mais fortes que a doença.
§28. Como esta lei natural de cura se manifesta em cada experiência pura e em cada
verdadeira observação no mundo, esse fato acha-se conseqüentemente firmado; pouco
importa qual seja a explicação científica de como ele ocorra.
§29. Ao ser administrado o remédio homeopático, desaparece a sensibilidade da doença
dinâmica natural (mais fraca). A doença não mais existe para o princípio vital agora
ocupado e governado somente pela afecção da doença artificial mais forte. O remédio
tendo uma ação mais curta, logo será eliminado, diferente da doença natural que é mais
longa. As curas de moléstias de muitos anos de duração, pela varíola e sarampo (que se
fazem sentir por apenas algumas semanas), são processos de caráter semelhante.
§30. O corpo humano parece ser muito mais fortemente afetado em seu estado de saúde
por meio de medicamentos (em parte, porque regulamos a dose de acordo com a nossa
vontade) do que por estímulos mórbidos naturais..
§31. Os agentes nocivos, não podem afetar morbidamente a saúde do homem,
incondicionalmente; o homem adoece apenas quando estiver suscetível, daí não
produzirem moléstias nem em todos, nem sempre. As doenças não são apenas,
perturbações mecânicas ou químicas do corpo físico, elas não dependem apenas dum
agente patogênico material: as doenças são alterações dinâmicas da vida.
§32. Os medicamentos agem de forma diferente: eles agem sempre, em todas as
circunstâncias e em todos os homens, produzindo os seus sintomas peculiares, podendo
ser percebido distintamente em cada caso.
§33. Todo organismo humano tem maior suscetibilidade de ter seu estado de saúde
perturbado por poderes medicinais, do que por agentes nocivos e miasmas infecciosos.
Em 1801, durante uma epidemia da escarlatina lisa de Sydenham, Hahnemann
utilizou a Belladonna, cuja ação semelhante e mais forte que a doença original evitou o
desenvolvimento da escarlatina nas crianças que ainda não tinham contraído a
doença.
§34. A cura de moléstias naturais ocorre pela capacidade que os medicamentos têm de
produzir uma moléstia artificial no homem são, semelhante à da moléstia natural,
porém em maior intensidade, restaurando assim a força vital alterada e extinguindo a
moléstia natural. As doenças não podem ser curadas, nem pela própria natureza nem
pela influência de nova doença diferente, por mais forte que seja, e nem tampouco pode
ser curada por tratamento médico com drogas que sejam incapazes de produzir um
estado mórbido semelhante no organismo são.
§35. Nem mesmo a natureza é capaz de remover uma doença dessemelhante, por outra
não homeopática, ainda que mais forte; tampouco o uso não-homeopático de
medicamentos, mesmo os mais fortes, é capaz de curar doença dessemelhante.
§36. Quando duas doenças não semelhantes existem ao mesmo tempo no ser humano e
forem de força igual, ou ainda, se a mais antiga for mais forte, a nova moléstia será
repelida do corpo pela anterior.
§37. Um mal crônico antigo não será curado se tratado de acordo com o método
alopático comum, isto é, com medicamentos incapazes de produzir em indivíduos sãos
um estado de saúde semelhante à doença; quando esses remédios forem enérgicos
produzirão outras doenças mais perigosas.
§38. Quando a nova doença não-semelhante for mais forte, a doença mais antiga,
sendo mais fraca, será suspensa temporariamente, até que a mais forte seja curada,
quando então a mais antiga volta a se manifestar.
§39. O uso de um tratamento alopatico agressivo, em uma doença crônica, cria uma
doença artificial dessemelhante da original, apenas suprimindo a original que sempre
retorna.
§40. Duas ou mais moléstias cronicas não semelhantes podem existir ao mesmo tempo
no organismo, cada uma delas ocupando os órgãos que mais se adaptam a elas,
formando uma moléstia mais complexa de ser tratada, pois duas moléstias não
semelhantes não podem curar-se mutuamente. Se duas doenças agudas não semelhantes
atingem o organismo, geralmente uma suspende a outra, porém, em raros casos, podem
ocorrer simultaneamente na mesma parte do organismo.
§41. As complicações produzidas pelo tratamento alopático inadequado são mais
freqüentes que as associações de moléstias naturais. O uso prolongado de drogas
alopáticas associadas à doença natural, produzem então uma doença dupla, que
dificulta ainda mais a cura.
§42. A complicação da associação de moléstias ocorre apenas quando elas não
apresentam semelhança entre si.
§43. A natureza mostra como devemos curar: na associação de duas moléstias
semelhantes, a segunda sendo mais forte que a primeira, remove-a completamente.
§44. Duas moléstias semelhantes não podem repelir-se, interromper-se mutuamente ou
mesmo existirem ao mesmo tempo, formando uma moléstia mais complexa.
§45. Duas moléstias diferentes em espécie, mas semelhantes em seus efeitos, anulam-se
quando se encontram no organismo, a mais forte vencendo a mais fraca, que por sua
semelhança de ação, afeta exatamente as mesmas partes do organismo anteriormente
afetadas pela irritação mórbida mais fraca. O princípio vital então não poderá mais
sentir a mais fraca. O princípio da vida, daí por diante, é afetado somente, e apenas
temporariamente, pelo poder morbífico novo, semelhante, contudo mais forte.
§46. Certas doenças são curadas naturalmente por outras, de forma homeopática, por
apresentarem sintomas semelhantes, pois são geralmente as mesmas, apenas com nomes
diferentes, surgindo do mesmo miasma.
§47. Nada mais poderia ensinar ao médico, de maneira mais simples e convincente que
o acima exposto, qual o tipo de medicamento que ele deveria escolher a fim de curar de
modo seguro, rápido e permanente, de acordo com o processo que se realiza na
natureza.
§48. Nem pela ação da natureza, nem pela ação medicamentosa, de efeitos não
semelhantes, pode-se realizar a cura, por mais forte que essa ação seja. Somente com um
agente semelhante em seus sintomas, e de efeito mais forte que a moléstia que queremos
curar, poderemos agir de acordo com as leis da natureza.
§49. Poderíamos conhecer mais curas homeopáticas naturais se houvessem mais
observações voltadas para esse principio de semelhança. A natureza também mostrou
poucas moléstias homeopáticas auxiliares.
§50. A natureza pode realizar curas através de doenças semelhantes, porem elas são
poucas, podem oferecer riscos e não podem ser manipuladas de forma a serem
atenuadas, como podemos conseguir com o remédio homeopático.
§51. A lei dos semelhantes torna-se óbvia em virtude dos fatos; a disponibilidade de
grande numero de substancias homeopáticas torna possível à ação em muitas doenças,
sem a agressão ao organismo observada nos outros tratamentos; após a ação
medicamentosa na força vital, não restará outra doença a ser tratada; a cura se dará
por uma transição calma, imperceptível, porem rápida, da doença ao estado de saúde.
§52. Há somente dois métodos principais de cura: o homeopático baseado na
observação da natureza seguido de experimentação pura (nunca usado
intencionalmente antes de Hahnemann) e o método heteropático ou alopático, que age
por outros princípios. Cada um se opõe ao outro, e não podem ser usados
aleatoriamente, sendo essa pratica considerada um crime à Homeopatia.
§53. A verdadeira arte de curar é baseada na lei eterna e infalível da natureza, sendo
por isso o único método correto para o tratamento suave, rapido e duradouro.
§54. O método alopático usou muitas coisas impróprias (alloea) contra as doenças, em
cada época utilizando um sistema novo de tratamento; misturando diversos remedios
em receitas a serem repetidas muitas vezes, chamava isso de Medicina Racional.
Tentou ao longo do tempo remover a matéria nociva (matéria pecans) do doente,
baseado apenas em suposições arbitrárias, fazendo uso de sedenhos, sangrias, eméticos,
purgativos, emplastros, fontanelas e cautérios. As moléstias eram consideradas
condições que reapareciam de modo mais ou menos semelhantes.
§55. Em pouco tempo o público convenceu-se de que os sofrimentos dos doentes
aumentavam com o uso de cada um desses métodos de cura, quando esses eram seguidos
à risca. Há muito tempo esses médicos alopatas teriam desaparecido, não fosse o alívio
às vezes obtido com remédios empiricamente descobertos (cuja ação satisfatória
instantânea é evidente ao paciente) e isto até certo ponto, servia para manter-lhes o
crédito.
§56. Galeno utilizou o método alopático (antipático) baseado no princípio “contraria
contrariis”. Um terceiro método de tratamento foi o da Isopatia, utilizando para curar
determinada doença o mesmo princípio contagioso que a produziu (per idem), porém
ainda assim altamente potencializado. A vacina e a doença que pretende prevenir são
somente semelhantes, não são a mesma doença, não possuem os mesmos sintomas e,
portanto não são homeopáticas. Algumas moléstias peculiares aos animais podem
fornecer remédios para moléstias humanas semelhantes, aumentando o estoque de
remédios homeopáticos. O uso da matéria morbifica humana para tratar a mesma
enfermidade não pode resultar em cura e sim agravação da moléstia.
§57. O tratamento alopático traz o alivio apenas temporário de sintomas isolados, não
da patologia completa, sendo também limitado pelo menor número de medicamentos
conhecidos em sua ação primária.
§58. Nas doenças crônicas, com o tratamento alopático de sintomas isolados, após a
melhora temporária destes, segue-se a agravação da doença em sua totalidade. O
alopata então explica a agravação pela malignidade da doença original ou pelo
surgimento de outro mal.
§59. As doenças crônicas jamais foram tratadas com remédios antagônicos, sem que
uma recaída com agravação fosse observada posteriormente, devido à ação secundaria.
§60. Para vencer a limitação do tratamento alopático utilizam-se doses crescentes do
remédio, verificando-se novas supressões passageiras, com agravação posterior ou frequentemente tornando a enfermidade incurável. Broussais combateu a mistura de
drogas em receitas e introduziu o seu sistema fisiológico através das sangrias (para ele
o sangue era a causa de seus males), uso da solução de goma-arábica (Eau de Gomme) e
jejum de fome, provocando diminuição das queixas às custa da debilidade do paciente.
§61. A grande verdade: a verdadeira arte de curar deve ser encontrada no oposto exato
do tratamento antipático, através da semelhança dos sintomas e das doses diminutas.
§62. A comparação do tratamento paliativo, antipático, bem como a eficácia do
oposto, o tratamento homeopático, é feita pelos fatos seguintes, conclusões de diversas
observações, que ninguém antes de mim havia percebido, embora sejam tão evidentes e
palpáveis, e de importância infinita para a arte de curar.
§63. Cada medicamento afeta mais ou menos a força vital e causa certa alteração na
saúde do individuo por um período mais longo ou mais curto. Essa ação inicial é
chamada AÇÃO PRIMÁRIA, e, embora tendo a participação da força vital, é mais
dependente do medicamento. A AÇÃO SECUNDÁRIA é uma REAÇÃO automática
da força vital à ação medicamentosa.
§64. Durante a ação primária, a força vital comporta-se passivamente, submetendo-se
à atuação medicamentosa, para logo em seguida reagir, produzindo exatamente o
estado oposto do medicamento (ação secundária), se houver este oposto, em grau tão
elevado e proporcional à sua energia. Se não houver o estado exatamente oposto ao da
ação primaria, a resposta da força vital será indistinta, procurando extinguir a
alteração que nela a medicação provocou.
§65. Acontece sempre da mesma forma, após a ação primária de um medicamento, que
produz em grandes doses, grande modificação na saúde de uma pessoa sadia, produz-se
o seu oposto exato (quando for possível), como ação secundária da nossa força vital.
§66. O medicamento homeopático não produzirá inicialmente uma ação secundaria no
corpo são, produz sim uma ação primária, perceptível ao observador atento. A seguir a
força vital reagirá, com uma ação secundaria necessária para a recuperação do estado
normal.
§67. Somente em casos de maior urgência, quando há perigo de vida, é aconselhável,
como medida preliminar, estimular a irritabilidade e a sensibilidade com um paliativo,
pois não há nenhuma doença a ser removida, e sim a supressão da força vital sadia.
Como exemplos temos vários antídotos de envenenamento súbitos: álcalis para ácidos
minerais, "hepar sulphuris", para venenos metálicos, café, cânfora e ipecacuanha para
envenenamento por ópio, etc. Um remédio homeopático não pode ser considerado como
escolhido erradamente por não atingir um certo numero de sintomas, menos
importantes de um caso de doença, se consegue vencer, por semelhança, os demais
sintomas, mais fortes, característicos e peculiares do caso; os demais sintomas também
serão vencidos após o término do período de ação do medicamento, sem retardarem a
cura.
§68. Após a ação homeopática eficaz, restará temporariamente certa quantidade
medicinal no organismo, mas, em virtude da diminuta dose, a força vital não
empregará grande esforço para voltar ao seu estado de normalidade.
§69. No tratamento alopático ocorre exatamente o oposto. O medicamento alopático,
assim como o homeopático, atinge exatamente o mesmo ponto afetado no organismo; o
alopático, somente como um oposto, logo deixando de ser notado pelo princípio vital,
de modo que no primeiro período da ação do remédio alopático, a força vital não
percebe nada de desagradável em qualquer dos dois (nem no sintoma da doença, nem no
do medicamento), por parecerem ambos neutralizados. Esse efeito logo desaparece
espontaneamente, deixando a moléstia continuar como estava, porém obrigando a força
vital a produzir uma condição oposta e aumentada a esse medicamento alopático,
tanto pior quanto maior forem as doses subseqüentes utilizadas. No ser humano não
podem ocorrer neutralizações permanentes de sensações antagônicas, somente será
possível a remoção mútua de sensações semelhantes.
§70. Tudo o que deve ser curado no paciente está representado em sua totalidade
sintomática. A doença só pode ser curada por medicamento que produza sintomas
semelhantes no homem são; o tratamento alopático é paliativo, e em caso de doença
crônicas é ineficaz; mesmo na natureza, uma doença não pode ser curada por outra
doença não semelhante, por mais forte que seja a doença mais nova. O terceiro método
de tratamento é o homeopático que emprega contra a totalidade sintomática de uma
doença, o remédio homeopático capaz de produzir os sintomas mais semelhantes
possíveis no homem são, quando dado em doses convenientes, pela perturbação
semelhante e mais forte do principio vital.
§71. Os três pontos para curar: determinar o que é necessário saber para realizar a
cura; como adquirir o conhecimento necessário para fazer a cura (através das
patogenesias); saber o método mais conveniente para tratar.
§69. No tratamento alopático ocorre exatamente o oposto. O medicamento alopático,
assim como o homeopático, atinge exatamente o mesmo ponto afetado no organismo; o
alopático, somente como um oposto, logo deixando de ser notado pelo princípio vital,
de modo que no primeiro período da ação do remédio alopático, a força vital não
percebe nada de desagradável em qualquer dos dois (nem no sintoma da doença, nem no
do medicamento), por parecerem ambos neutralizados. Esse efeito logo desaparece
espontaneamente, deixando a moléstia continuar como estava, porém obrigando a força
vital a produzir uma condição oposta e aumentada a esse medicamento alopático,
tanto pior quanto maior forem as doses subseqüentes utilizadas. No ser humano não
podem ocorrer neutralizações permanentes de sensações antagônicas, somente será
possível a remoção mútua de sensações semelhantes.
§70. Tudo o que deve ser curado no paciente está representado em sua totalidade
sintomática. A doença só pode ser curada por medicamento que produza sintomas
semelhantes no homem são; o tratamento alopático é paliativo, e em caso de doença
crônicas é ineficaz; mesmo na natureza, uma doença não pode ser curada por outra
doença não semelhante, por mais forte que seja a doença mais nova. O terceiro método
de tratamento é o homeopático que emprega contra a totalidade sintomática de uma
doença, o remédio homeopático capaz de produzir os sintomas mais semelhantes
possíveis no homem são, quando dado em doses convenientes, pela perturbação
semelhante e mais forte do principio vital.
§71. Os três pontos para curar: determinar o que é necessário saber para realizar a
cura; como adquirir o conhecimento necessário para fazer a cura (através das
patogenesias); saber o método mais conveniente para tratar.
§72. As doenças podem ter uma duração rápida (agudas) ou vão se desenvolvendo
lentamente, sendo o princípio vital incapaz de extingui-la (as doenças crônicas,
causadas por um princípio infeccioso chamado de miasma crônico).
§73. As doenças agudas podem atingir o homem individualmente, através de etiologias
a que estava predisposto. Na realidade, as doenças agudas são geralmente apenas uma
explosão passageira de Psora latente, que volta espontaneamente a seu estado latente
se as moléstias não foram de caráter demasiado violento e foram logo dissipadas.
Podem em certos casos atacar esporadicamente varias pessoas ao mesmo tempo
(epidemicamente), quando essas são susceptíveis. Surge febre, em cada caso de natureza
peculiar, e por terem a mesma origem, possuem um quadro clinico idêntico, que se não
forem tratados evoluem em pouco tempo para a morte ou para o restabelecimento.
Podem ser os miasmas agudos peculiares que retornam da mesma maneira e atacam as
pessoas apenas uma vez na vida ou os que reaparecem frequentemente de modo muito
semelhante. Em 1801 ocorreu uma espécie de púrpura miliaris, de natureza esporádica
e que foi tratada com Acônito; com sintomas semelhantes ocorreu a febre escarlate, de
natureza epidêmica e que foi tratada com Beladona. Depois surgiu uma febre eruptiva
onde nenhum dos dois remédios foi adequado.
§74. Entre as doenças crônicas naturais, também encontramos as artificialmente
produzidas pelo uso de remédios alopáticos, sangrias, cautérios, etc..., que enfraquecem
a força vital, ou a levam a produzir alterações internas ou externas, como
compensações para evitar a morte.
§75. O tratamento alopático é o que mais provoca doenças crônicas, e quando estas já
se encontram em estado adiantado, é praticamente impossível descobrir remédios para a
sua cura.
§76. Somente para as doenças naturais, a homeopatia pode ter benefícios; quando o
organismo foi muito agredido por tratamentos alopáticos prolongados, a própria força
vital deve remediar tais danos, devendo ser ajudada na erradicação dos miasmas
presentes.
§77. Não podem ser chamadas verdadeiramente de doenças crônicas aquelas
provocadas pelas pessoas que se expõem continuadamente a influências nocivas
evitáveis, que se habituam a abusar de líquidos, de alimentos nocivos, as que se
entregam as dissipações de muitos tipos, as que se privam por muito tempo de coisas
necessárias para o sustento da vida, ou que residem em locais insalubres,
principalmente em lugares pantanosos, as que habitam em sótãos, porões ou outras
moradias fechadas, as que se privam de exercício ou de ar puro, as que forçam o corpo
ou a mente, que vivem em constante preocupação etc. Esses estados de falta de saúde
desaparecem espontaneamente com um método de vida mais sadio, desde que não haja
latente no corpo, nenhum miasma crônico.
§78. As verdadeiras doenças crônicas naturais são as que têm origem em um miasma
crônico. Quando evoluem naturalmente ou não são combatidas pelos remédios
específicos para elas, vão sempre agravar, não importando os melhores regimes mentais
e físicos. Durante os primeiros anos de vida as doenças crônicas podem passar
despercebidas, mas com o passar dos anos e após acontecimentos adversos elas retornam
e evoluem rapidamente.
§79. Inicialmente apenas a sífilis foi conhecida como doença miasmática crônica, e a
sicose (ou mal condilomatoso), não foi reconhecida, pois se pensava que tratando as
excrescências da pele, o doente ficaria curado.
§80. (O miasma crônico da psora é incalculavelmente maior e mais importante que os
da sífilis e da sicose; enquanto a sífilis mostra-se pelo cancro venéreo e a sicose pelas
excrescências em forma de couve-flor), a psora também se revela, após o término da
infecção interna de todo o organismo, por uma erupção cutânea, que consiste, às vezes,
de pequenas vesículas acompanhadas de prurido forte e voluptuoso, com odor
característico. A Psora é a única causa fundamental de todas as demais moléstias que
recebem os mais variados nomes. Hahnemann passou 12 anos pesquisando a psora, a
qual denominou de monstro de mil cabeças, pelas suas mais diversas formas de
apresentação. Publicou suas observações no livro “As Doenças Crônicas” (5 vols.
Dresden, Arnold. 1828,1830 (2a edição, Dusseldort, Schaub)). Antes disso tratava as
doenças crônicas como males isolados e depois utilizou mais especificamente os
antipsóricos, com resultados mais completos.
§81. A passagem do agente infeccioso por gerações sucessivas, tendo encontrado nessas
gerações, circunstancias as mais variadas possíveis, permitiu compreendermos como as
doenças crônicas manifestam-se diferentemente (sintomas secundários da psora) e
foram chamadas por nomes diversos. Quando for necessário referir-se a um quadro
clínico, para se fazer entender em poucas palavras, devemos caracterizá-lo de forma
coletiva, explicando que é UM TIPO (espécie, forma) de sarampo, amigdalite, etc. O
nome da doença não deve influenciar no tratamento, que deve ser instituído de acordo
com a totalidade dos sintomas de cada indivíduo.
§82. No tratamento das doenças crônicas, devemos considerar que os sintomas vêm
evoluindo por muito tempo, o que torna mais difícil a sua identificação, diferentemente
das doenças agudas, cujos sintomas característicos tornam-se rapidamente evidentes,
necessitando de menos perguntas na consulta.
§83. Para individualizar uma doença crônica, o médico deve investigar o necessário em
cada caso, ter ausência de preconceitos, sentidos perfeitos, atenção na observação e
fidelidade no traçar o quadro da doença.
§84. O médico, no início do exame, avisa que devem falar devagar, de modo que possa
escrever as partes importantes da história clínica, escrevendo com precisão nas próprias
expressões empregadas por eles. Mantém-se calado e evita interrompê-los, a não ser que
divaguem, pois cada interrupção corta a ordem de idéias dos narradores, que não
lembrarão exatamente o que teriam dito a princípio, sem a interrupção.
O paciente então descreve a evolução de seus sofrimentos ou os que o acompanham
relatam as suas queixas ou o que nele observaram; o médico deve utiliza todos os seus
sentidos para perceber o que há de alterado no paciente.
§85. O médico abre uma nova linha a cada circunstância encontrada; os sintomas são
anotados separadamente, uns debaixo dos outros, podendo acrescentar outras coisas a
eles, que tenha sido primeiro relatado de modo vago e depois expostos de modo mais
claro.
§86. Quando os narradores terminam o que tinham a dizer, o médico retorna a cada
sintoma e obtém informações mais precisas sobre ele, lendo os sintomas na ordem em
que lhe foram relatados e procurando obter mais detalhes.
§87. Não se devem fazer perguntas ao paciente sugerindo a resposta, de modo que só
se obtenham respostas sim ou não, pois o paciente será sugestionado, resultando num
quadro falso da moléstia, e, portanto, tratamento inadequado.
§88. Quando o paciente não comentou sobre as diversas funções do corpo ou de seu
estado mental, o paciente deverá ser estimulado para que possa falar mais sobre elas,
empregando expressões gerais.
§89. Se o médico acha que ainda não obteve todas as informações necessárias, deverá
fazer perguntas mais precisas sobre as alterações encontradas, de forma a caracterizá-las.
§90. Ao final o médico deve então escrever o que ele próprio observou no paciente e
verificar o quanto disto era peculiar ao paciente em seu estado normal. Quando o
paciente estiver utilizando vários medicamentos, estes não permitirão traçar um
quadro puro de doença, pelos sintomas da droga adicionados, mas após terem sido
suspensos durante muitos dias, surgirá à forma original da doença, e são especialmente
esses sintomas originais os que o médico deve anotar. Quando a doença for de caráter
crônico, e o paciente estiver tomando medicamentos até a consulta, o médico pode
deixá-lo alguns dias sem medicação, ou no intervalo administrar-lhe algo de natureza
não-medicinal e adiar o exame mais completo dos sintomas mórbidos.
§91. Os sintomas do paciente durante uma série de medicamentos não permitem um
quadro puro de doença; os sintomas sofridos antes do uso dos medicamentos, ou após
terem sido suspensos durante muitos dias, dão à idéia verdadeira da forma original da
doença, e são especialmente esses os que o médico deve notar. Quando a doença for de
caráter crônico, e o paciente estiver tomando medicamentos até a época em que for
visitado, o médico pode muito bem deixá-lo alguns dias sem medicação, ou no intervalo
administrar-lhe algo de natureza não-medicinal e adiar para mais tarde o exame mais
completo dos sintomas mórbidos, a fim de poder apreender em sua pureza os sintomas
permanentes contaminados da afecção antiga e formar um quadro fiel da doença.
§92. Nas doenças agudas, cuja gravidade não permite a demora de atendimento,
observaremos a condição atual, embora alterada por medicamentos, e se não pudermos
discernir quais os sintomas que estiveram presentes antes do seu emprego, tomamos o
conjunto atual e obtendo-se um quadro clínico completo, utilizaremos o remédio mais
adequado.
§93. Quando uma causa for evidente, o paciente ou acompanhantes podem dar essa
informação, porém quando a mesma tem caráter desagradável, e eles não falam
espontaneamente, o médico pode deduzir guiando as suas perguntas ou tomar
informações particularmente.
§94. Nas doenças crônicas, devem ser pesquisadas as situações peculiares do paciente
como ocupação, vida familiar, dieta, etc... a fim de identificar e remover,
anormalidades que possam provocar ou manter a cronicidade da doença. Nas doenças
da mulher é muito importante avaliar condições como gravidez, esterilidade, desejo
sexual, partos, abortos, lactação, o estado de sua menstruação e as leucorreias.
§95. Nas doenças crônicas a investigação dos sintomas deve ser feita com o máximo
critério; os menores detalhes devem ser observados, pois são os mais característicos e os
que menos se assemelham ao de moléstias agudas; no entanto os pacientes ficaram tão
habituados ao seu longo sofrimento, que prestam pouca ou nenhuma atenção aos
sintomas de menor importância, não acreditando que essas variações de seu estado de
saúde possam ter alguma relação com a sua enfermidade principal.
§96. Os hipocondríacos e outros indivíduos de grande sensibilidade, descrevem os seus
sofrimentos com expressões exageradas (sintomas a serem considerados na totalidade)
para induzir o médico a lhes receitar remédios, porem não estão inventando como ocorre
com os dementes ou os que mentem voluntariamente.
§97. Alguns pacientes deixam de informar certos sintomas, achando que não são
importantes, ou os descrevem em termos vagos.
§98. Devemos escutar principalmente a descrição dos sintomas feita pelo paciente, pois
as descrições feitas pelos acompanhantes geralmente não expressam exatamente o que o
paciente sente. Em todas as doenças, e especialmente nas crônicas, devemos investigar
o caso completa e precisamente, o que requer cuidado, conhecimento da natureza
humana e muita paciência.
§99. Na investigação das doenças agudas o médico tem menos para investigar, pois as
alterações da saúde ainda estão frescas na memória do paciente e ele as relata mais
facilmente.
§100. Na investigação das doenças epidêmicas ou esporádicas, não é tão importante
saber se já existiram doenças com o mesmo nome. O médico deve analisar o quadro
puro da doença atual, como se fosse algo novo e investigá-la completamente, sem
jamais conjecturar. Deve examinar todas as suas fases, pois cada doença é, em muitos
aspectos, exclusiva, diferente das epidemias anteriores, com exceção das epidemias
contagiantes.
§101. No primeiro caso de uma epidemia, pode-se não ter um quadro completo da
doença. O exame cuidadoso dos casos seguintes poderá fornecer as informações
necessárias para a escolha do remédio adequado.
§102. O acompanhamento de diversos casos fornecerá os sintomas globais da epidemia;
os sintomas gerais ficam mais definidos e os sintomas peculiares destacam-se,
caracterizando o quadro completo da doença. A totalidade sintomática somente será
obtida com o exame dos pacientes de constituições diferentes.
§103. Os casos crônicos devem ser investigados quanto à totalidade dos sintomas, de
forma mais detalhada do que nos casos agudos. Os sintomas da doença crônica
miasmática, especialmente a Psora, serão obtidos após o exame de diversos casos
semelhantes, a fim de se achar o remédio antipsórico adequado.
§104. Quando conseguimos a totalidade sintomática de qualquer doença, teremos
completado a parte mais difícil do trabalho médico e um guia a seguir durante o
tratamento, para saber qual o efeito do medicamento e as mudanças ocorridas no
estado do paciente. Em um novo exame do paciente ele só precisará riscar da relação os
sintomas que apresentaram melhora, marcará os que permanecem e acrescentará os
novos que possam haver surgido.
§105. A segunda parte do trabalho do médico é o de conhecer o poder patogenético das
drogas, para escolher aquela droga que possua o conjunto de sintomas artificiais
semelhantes à totalidade dos sintomas das doenças naturais.
§106. Devemos conhecer todos os efeitos patogenéticos de cada um dos diversos
medicamentos (todos os sintomas e alterações mórbidas provocados no indivíduo sadio,
durante a experimentação).
§107. Ao administrarmos medicamentos nas pessoas doentes, mesmo que um de cada
vez, pouco ou nada se observará dos sintomas puros das drogas, pois as alterações a
serem esperadas no estado de saúde misturam-se com os sintomas do doente.
§108. Há apenas um meio de determinar com precisão os efeitos peculiares dos
medicamentos na saúde dos indivíduos. O modo mais natural de atingir este objetivo é
experimentalmente administrar nas pessoas sadias cada medicamento, em doses
moderadas, para determinar as mudanças, sintomas e sinais de sua influência na saúde
física e mental.
(*) Nenhum médico, que eu saiba, durante os últimos dois mil e quinhentos anos,
pensou nesse modo tão natural, tão absolutamente necessário e o único meio genuíno de
experimentar medicamentos para determinar seus efeitos puros e peculiares,
perturbando a saúde do homem, a fim de aprender o estado mórbido, que cada
medicamento é capaz de curar, exceto o grande e imortal Albrecht Von haller. Só ele, além de mim, viu a necessidade disso (vide o Prefácio da Pharmacopeia Helvet., Basil,
1771, fol., p. 12): Nempe primum incorpore sano medela tentanda est, sine peregrina
ulla miscela; odoroque et sapore ejus exploratis, exigua illius dosis ingerenda et
adomnes; quae inde contingunt, affectiones, quis pulsus, quo calor, quae respiratio,
quaenam excretiones, attendendum. Inde ad ductum phaenomenorum, in sano
obviorum, transeas ad experimenta in corpore aegroto", etc. Mais ninguém, nem um só
médico, atentou para essa valiosa sugestão, ou seguiu-a.
§109. Fui o primeiro a descobrir este caminho, que tenho seguido com uma
perseverança que só pode ser devida, e mantida, por uma perfeita convicção da grande
verdade, cheia de tantas bênçãos para a humanidade, a de que é somente pelo emprego
homeopático dos medicamentos (*) que a cura segura dos males humanos se torna
possível (**).
(*) É possível que possa haver outro método melhor, verdadeiro, de curar doenças
dinâmicas (isto é, todas as doenças não estritamente cirúrgicas) além da homeopatia.
Os que imaginam haver outros modos de curar, além desse, não puderam apreciar os
fundamentos da homeopatia, nem praticá-la com cuidado suficiente, nem puderam ler
ou ver casos de curar homeopáticas corretamente realizadas; nem, por outro lado,
puderam discernir a falta de base de todos os meios de tratamento alopático, ou seus
maus efeitos, se, com tal indiferença, considerarem a verdadeira arte de curar como
iguais aos meios danosos de tratamento, ou alegarem que os últimos são auxiliares da
homeopatia, que não podem dispensar, os meus verdadeiros seguidores, conscienciosos,
os homeopatas puros, com seu tratamento vitorioso, e quase infalível, poderiam
esclarecer essas pessoas.
(**) O primeiro fruto desse trabalho, tão perfeito quanto então podia ser, registrei-os
no Fragmenta do viribus medicamentorum positivis, sive in sano corpore humano
observatis, vol. I e II, Leipzig, 1805. Os frutos mais maduros, na Matéria Médica
Pura, vol., I e II, 3" edição, 1883; vol. III e IV, 2" edição, 1825; vol, 2'' edição 1826 e
vol. VI 2", edição 1827; e na 2", 3" e 4'' parte das Doenças Crônicas, 1828, 1830,
Dresde; 2'' edição, com uma quinta parte, Düsseldorf, 1835-1839.
§110. As lesões observadas por autores anteriores, resultantes de substâncias
medicinais ingeridas por pessoas sadias em grandes doses, por engano, ou a fim de
produzir a morte, nelas ou em outras pessoas, ou sob quaisquer outras circunstâncias,
aproximavam-se muito de minhas observações ao experimentar as mesmas substâncias
em mim próprio ou em indivíduos sãos. Nenhum desses observadores jamais sonhou que
os sintomas que registraram apenas como provas de caráter nocivo e tóxico dessas
substâncias fossem revelações seguras do poder dessas drogas, de extinguir pela cura,
sintomas semelhantes que ocorrem em moléstias naturais, que estes seus fenômenos
patológicos fossem indícios certos de sua ação curativa homeopática, e que o único meio
possível de determinar seus poderes medicinais é observar as mudanças do estado de
saúde que os medicamentos são capazes de produzir no organismo são; pois os poderes
puros, peculiares dos medicamentos disponíveis para a cura da doença não devem ser
apreendidos por especulações engenhosas apriorísticas, nem pelo cheiro, gosto ou
aparência das drogas, nem por sua análise química, nem ainda pelo emprego de diversos
deles de uma vez em uma mistura (receita), nas doenças.
§111. As observações feitas sobre os efeitos puros dos medicamentos estão de acordo
com leis fixas e eternas da natureza, proporcionando resultados dignos de confiança.
§112. As doses excessivas dos medicamentos alopáticos produzem no organismo reações
opostas das que surgiram inicialmente, não no início de sua ação, mas bem depois.
Estes sintomas, o oposto exato da ação primária (63), são a reação da força vital do
organismo, sua ação secundária (62-67). Raramente foram feitas experiências com
doses moderadas em organismos sãos; em relação às doses pequenas, absolutamente não
foram feitas nenhuma experiência anterior. No processo curativo homeopático o
organismo vivo reage tão-somente o necessário para restabelecer a saúde (67).
§113. As únicas exceções são os medicamentos narcóticos, pois eles, em sua ação
primária, removem, às vezes, a sensibilidade e sensações, às vezes a irritabilidade.
Ocorre freqüentemente que em sua ação secundária, mesmo com doses moderadas
experimentais, obtém-se uma sensibilidade maior (e uma maior irritabilidade).
§114. Com exceção dessas substâncias narcóticas, nas experiências feitas com doses
moderadas de medicamentos em organismos sãos, observamos somente sua ação
primária (os sintomas com os quais o medicamento perturba a saúde do ser humano e
desenvolve nele um estado mórbido de duração maior ou menor).
§115. Em certos medicamentos, surgem sintomas que parcialmente, ou sob certas
condições, são diretamente opostos aos outros sintomas que apareceram anterior ou
posteriormente, no entanto, não devem ser considerados como ação secundária
verdadeira, pois somente representam o estado alternante dos diversos paroxismos da
ação primária; são chamadas ações alternantes.
§116. Em muitos indivíduos os remédios produzem sintomas com maior freqüência, em
outros menos, e em apenas poucas pessoas, somente pouquíssimos sintomas são
produzidos.
§117. Os poucos indivíduo que manifestam pouquíssimos sintomas nas
experimentações patogenéticas, reagem dessa forma devido às chamadas idiossincraisas
(pessoas que apesar de sadios sob certos aspectos, possuem tendência a alterar a sua
saúde por fatores que parecem não atingir outros indivíduos): Algumas pessoas tendem
a desmaiar com o cheiro de rosas e cair em outros estados mórbidos, às vezes perigosos,
ao provarem mexilhões, caranguejos ou barbo; ao tocarem as folhas de algumas espécies
de sumagre etc. A incapacidade de produzir uma impressão em todos é apenas
aparente. São necessárias duas coisas para produzirem alterações mórbidas na saúde do
homem: a substância e a força (ou princípio vital). Nas idiossincrasias, a substância
tem a capacidade de impressionar a todos os organismos humanos, embora somente um
pequeno número deles venha a manifestar as alterações mórbidas.
§118. Cada medicamento apresenta ações específicas no organismo humano, que não
são produzidas exatamente da mesma maneira por qualquer outro medicamento
diferente. Este fato foi também percebido pelo estimável A. V. Haller, que diz
(Prefácio da sua Hist. stirp. helv.) "Latet immensa virium diversitas in iis ipsis plantis,
quarum facies externas dudum novimus, animas quasi et quodcunque caelestius
habent, nondum perspeximus".
§119. Assim como as plantas, animais e minerais têm a suas características próprias(*)
que as fazem diferentes entre sí, também cada um desses reinos diferem em seus efeitos
patogenéticos e terapêuticos(*).
(*) Quando conhecemos os efeitos de uma substancia isoladamente na saúde humana,
percebemos que não pode haver, do ponto de vista médico, outros medicamentos que
possam ser usados, um no lugar de outro.
(**) Nenhum médico em sã consciencia, pode usar no tratamento de doenças, qualquer
substância medicinal, a não ser aquela que experimentou e observou a sua ação
positiva sobre a saúde de indivíduos sãos. O verdadeiro médico não pode deixar de
fazer tal experiência, para que possa obter esse conhecimento essencial dos
medicamentos que são indispensáveis para a cura, conhecimento esse até agora
descurado pelos médicos, em todos os tempos. Até agora, os médicos têm receitado às
cegas medicamento cujo valor é desconhecido, e que jamais foram experimentados em
relação à sua ação dinâmica pura, muito variada e altamente importante, na saúde do
homem; e, além disso, misturaram diversos desses medicamentos desconhecidos que
diferiam tanto entre si, em uma única fórmula, deixando que o acaso determinasse que
efeito seria produzido no paciente.
§120. Os medicamentos devem ser cuidadosamente distinguidos uns dos outros, ou seja,
testados por meio de experiências puras e cuidadosas no organismo são, para que seus
poderes e efeitos reais sejam determinados, a fim de se obter um conhecimento exato
deles.
§121. As substâncias fortes, heróicas, podem, mesmo em pequenas doses, produzir
alterações na saúde até em pessoas robustas. As de menor poder devem ser dados em
quantidades consideravelmente maiores. Para observar a ação dos remédios mais fracos,
as pessoas em que se fazem as experiências devem ser livres de doenças, e, além disso,
delicadas, irritáveis e sensíveis.
§122. Nesses experimentos, não se devem empregar outros medicamentos a não ser os
que se conhecem perfeitamente, e os de cuja pureza, legitimidade e energia estamos
inteiramente certos.
§123. Cada um desses medicamentos deve ser tomado em estado perfeitamente simples,
e isento de artifícios; as plantas naturais devem ser na forma de sumo recentemente
extraído, misturado com um pouco de álcool para evitar que se estraguem; no caso das
substâncias vegetais exóticas, em pó, ou em tintura, são preparadas com álcool quando
frescas, e depois misturadas com um pouco de água; os sais e gomas, devem ser
dissolvidos em água antes de serem tomados. Se a planta só puder ser obtida seca, e
seus poderes forem naturalmente fracos, deve-se usar uma infusão dela, cortando a
erva em pequenos pedaços e derramando neles água fervente, de modo que se extraiam
suas partes medicinais; imediatamente após o seu preparo ela deve ser ingerida
enquanto estiver ainda quente, visto que todos os sucos vegetais e todas as infusões
aquosas de ervas, sem o acréscimo de álcool, fermentam muito rapidamente e
decompõem-se, perdendo, desse modo, todas as suas propriedades medicinais.
§124. Para estes experimentos cada substância medicinal deve ser empregada isolada e
perfeitamente pura, sem misturar-se com qualquer outra substância estranha, e sem se
ingerir nada mais de natureza medicinal no mesmo dia, nem nos dias subseqüentes,
nem durante todo o tempo em que quisermos observar os efeitos do medicamento.
§125. Durante todo o tempo do experimento, a dieta deve ser controlada
rigorosamente, puramente nutritiva e simples, destituída de coisas picantes, vegetais
verdes (*), raízes e todas as saladas e sopas de ervas (que, mesmo quando preparadas
com o maior cuidado, possuem algumas qualidades medicinais perturbadoras) devem ser
evitadas. As bebidas devem ser as mais usualmente tomadas, as menos estimulantes
quanto possível (**).
(*) Ervilhas verdes, feijões verdes franceses, batatas cozidas, e, em todos os casos,
cenouras, são permitidos, sendo os menos medicinais dos vegetais.
(**) A pessoa que está sendo submetida ao experimento não deve estar habituada a
tomar vinho, aguardente, café ou chá puro, ou deve ter se abstido do uso dessas bebidas
nocivas durante um período considerável antes da experiência, algumas das quais são
estimulantes, ao passo que outras são medicinais.
§126. A pessoa que está provando o medicamento deve ser digna de toda a confiança e
conscienciosa; durante todo o tempo da experiência deve evitar trabalho físico ou
mental excessivo, qualquer forma de dissipação ou paixões perturbadoras; não deverá
ter afazeres urgentes para distrair-lhe a atenção; deve devotar-se a auto-observação
cuidadosa e não se perturbar enquanto estiver assim ocupada; seu organismo deve
estar, no que é para si, um bom estado de saúde; e deve possuir um mínimo de
inteligência para exprimir e descrever suas sensações em termos precisos.
§127. Os medicamentos devem ser experimentados tanto em pessoas do sexo masculino
como nas de sexo feminino, a fim de revelarem as alterações que produzem na esfera
sexual.
§128. As observações mais recentes têm demonstrado que as substâncias medicinais,
quando tomadas em estado bruto pelo experimentador, não apresentam todos os seus
poderes que estão ocultos; o mesmo não ocorre quando são grandemente diluídas,
soluções essas que são potencializadas mediante trituração e agitação adequadas; por
meio dessas simples manipulações, os poderes que, em seu estado bruto, estavam
ocultos, serão trazidos à atividade em grau muito elevado. Assim consideramos que é
melhor investigar os poderes mesmo das substâncias julgadas fracas, e o plano que
adotamos consiste em dar-se ao experimentador, em jejum, de quatro a seis glóbulos por
dia, da trigésima potência de tal substância, umedecidas com um pouco de água ou
dissolvidas em uma quantidade maior ou menor de água, e misturadas, prosseguindo-se
durante vários dias.
§129. Se os efeitos resultantes de tal dose forem apenas fracos, devem-se tomar mais
uns glóbulos todos os dias, até que se tornem mais claros e fortes as alterações de saúde
mais visíveis, pois nem todas as pessoas são afetadas no mesmo grau por um mesmo
medicamento; ao contrário, há uma grande diversidade nisso, de maneira que, às vezes,
um indivíduo aparentemente débil pode ser pouco ou nada afetado por doses
moderadas de um medicamento que se sabe ser de grande poder, ao passo que é
fortemente afetado por outros muito mais fracos. E, por outro lado, há pessoas muito
robustas que experimentam sintomas mórbidos de grande intensidade em conseqüência
de um medicamento aparentemente fraco, e apenas sintomas ligeiros em resultado de
medicamentos mais fortes. Assim, como isto não se pode saber com antecedência, é
aconselhável iniciar sempre com uma dose muito pequena da droga, e, quando convier,
aumentar a dose de dia para dia.
§130. Se no início a primeira dose administrada tiver sido suficientemente forte,
ganha-se a vantagem de que o experimentador aprenda a ordem de sucessão dos
sintomas e possa anotar com precisão o período em que cada um ocorreu, o que é de
grande valia para se ter um conhecimento do gênio do medicamento, pois então a ordem
das ações primárias, bem como a das ações alternantes, é observada de forma mais
precisa. Mesmo uma dose moderada, muitas vezes, é suficiente para o experimento,
desde que o experimentador seja adotado de sensibilidade bastante delicada, e preste a
devida atenção as suas sensações. A duração da ação de uma droga só pode ser
determinada comparando-se diversos experimentos.
§131. Quando for necessário dar o medicamento por vários dias seguidos em doses
crescentes, para experiência, aprenderemos com isso os diversos estados mórbidos que
este medicamento é capaz de produzir de modo geral, mas não descobrimos sua ordem
de sucessão; a dose subseqüente, muitas vezes, elimina um ou outro dos sintomas
causados pela dose anterior ou desenvolve um estado oposto; tais sintomas devem ser
registrados entre parênteses, para ressaltar sua ambigüidade, até que experiências
subseqüentes, mais puras, mostrem se não há uma reação no organismo ou uma ação
secundária, ou mesmo uma ação alternante desse medicamento.
§132. Quando o objetivo for apenas determinar os sintomas propriamente ditos,
especialmente os de uma substância medicinal fraca, sem relação à ordem de seqüência
dos fenômenos ou à ação da droga, então o melhor é administrar a substancia durante
diversos dias seguidos, aumentando-se a dose dia a dia. Desse modo a ação de um
medicamento desconhecido, mesmo que seja de natureza muito fraca, será revelada,
principalmente se experimentada em pessoas sensíveis.
§133. Ao experimentar qualquer sensação particular em virtude do medicamento, é
necessário assumir diversas posições enquanto ela perdurar, e observar se, movendo a
parte afetada, caminhando pelo quarto ou ao ar livre, levantando-se, ou deitando-se, o
sintoma aumenta, diminui ou desaparece, e se retorna ao tomar outra vez a posição em
que primeiro se observou; se é alterado ao comer, beber, falar, tossir, espirrar, ou
mediante outra ação do organismo, bem como observar a que hora do dia ou da noite
ocorre geralmente, de forma mais aguda, pelo que se tornará mais patente o que for
mais peculiar e característico em cada sintoma.
§134. Todas as influências externas, e principalmente os medicamentos, possuem a
propriedade de produzir na saúde uma espécie de alteração peculiar; porém, nem todos
os sintomas peculiares a um medicamento aparecem em uma só pessoa, nem de uma vez,
nem no mesmo experimento, sendo que alguns ocorrem em uma pessoa, ao mesmo
tempo, e em outras, num segundo ou terceiro experimento; em outra pessoa aparecem
alguns outros sintomas, mas de tal maneira que provavelmente alguns dos fenômenos
são observados na quarta, oitava ou décima pessoa, os quais já haviam aparecido na
segunda, sexta ou nona, e assim por diante; além disso, podem não repetir-se na mesma
hora.
§135. A totalidade dos sintomas que um medicamento é capaz de produzir só pode ser
completada mediante numerosas observações em pessoas adequadas de ambos os sexos e
diferentes constituições. Só podemos ter certeza de que um medicamento foi
inteiramente experimentado em relação a seus poderes puros de alterar a saúde do
homem, quando os experimentadores posteriores pouco podem notar de novo em sua
ação, e quase sempre verificarem os mesmos sintomas já observados pelos outros.
§136. Um medicamento quando é experimentado em pessoas sadias, pode não
manifestar em uma pessoa todas as alterações da saúde que é capaz de causar. Estas
manifestações irão ocorrer quando for administrado a diversos indivíduos, devido a
suas diferentes constituições físicas e mentais; existe no medicamento a tendência de
excitar esses sintomas em todos os seres humanos, de acordo com lei eterna e imutável
da natureza: todos os efeitos são desenvolvidos, em todos os indivíduos, se for
administrado quando estiverem com um estado mórbido que apresente sintomas
semelhantes, mesmo em dose muito pequena, quando homeopaticamente escolhido,
produzindo no paciente um estado artificial muito semelhante à doença natural, que
rápida e permanentemente (homeopaticamente) o cura de sua doença original.
§137. Quanto mais moderadas forem as doses de medicamento empregadas nas
experimentações, dentro de certos limites, e se procuramos facilitar a observação pela
escolha de uma pessoa amante da verdade, moderada, de sentimentos delicados e que
possa dispensar o máximo de atenção às sensações que experimenta, mais distintamente
se desenvolvem os efeitos primários, e somente os que valem a pena serem conhecidos e
ocorrem sem qualquer mistura de efeitos secundários. Quando doses excessivas são
empregadas, surgem, ao mesmo tempo, diversos efeitos secundários e também os efeitos
primários vêm em tal confusão, e com tal impetuosidade, que nada pode ser observado
com precisão; considere também o perigo que os acompanha.
§138. Todas as alterações na saúde do experimentador, durante a ação de um
medicamento (desde que satisfeitas as condições acima (124-127), derivam somente do
medicamento, e devem ser anotadas como pertencendo a ele, muito embora com grande
antecedência o experimentador tenha observado a ocorrência de fenômenos semelhantes
em si próprio. Seu reaparecimento durante a experiência com o medicamento
demonstra que esse indivíduo é especialmente predisposto a ter os sintomas nele
despertados. Os sintomas não surgem espontaneamente enquanto o medicamento que
tomou está exercendo influência na saúde de todo o organismo, sendo, porém,
produzidos pelo medicamento.
§139. Quando o médico não realiza em si próprio a experimentação, mas o faz em outra
pessoa, esta deve anotar com precisão as alterações na sua saúde no momento de sua
ocorrência, mencionando, após a ingestão da droga, o tempo em que cada sintoma
surgiu, e, se perdurar por um tempo considerável, o período de sua duração. O médico
revê o relatório na presença do experimentador após o término do experimentado ou, se
o experimento durar muitos dias, ele o faz todos os dias, enquanto estiver tudo fresco
em sua memória, a fim de inquiri-lo a respeito da natureza exata de cada uma das
circunstâncias, e de anotar os detalhes mais precisos assim obtidos, ou de efetuar as
alterações que o experimentador sugerir (*).
(*) Aquele que revela ao mundo médico os resultados de tais experimentos torna-se
assim responsável pela integridade do experimentador e pelas suas declarações, o que é
justo, pois o bem-estar da humanidade sofredora acha-se aqui em jogo.
§140. Quando a pessoa não pode escrever, ela deve informar diariamente ao médico
todas as alterações na sua saúde e essa informação é anotada como autêntica. A
narração da pessoa deve ser voluntária, não deverá admitir-se nada conjectural nem
obterem-se respostas sugeridas por perguntas, tudo devendo ser estabelecido com o
cuidado que aconselhei acima (84-99).
§141. Os melhores experimentos são os que o médico realiza em sí mesmo, quando ele é
saudável, sensível, cuidadoso e sem preconceitos, pois ele saberá com a maior segurança
as coisas que experimentou em si mesmo (*).
(*) Os experimentos feitos pelo médico em si têm para ele outras vantagens: as
alterações no seu estado de saúde tornam-se para ele um fato indiscutível; melhora a
compreensão de suas próprias sensações, seu modo de pensar, e sua disposição (o
fundamento da verdadeira sabedoria), treinando para ser um bom observador, pois as
observações que fazemos em terceiros não são tão interessantes quanto as que fazemos
em nós próprios (aqueles que observam terceiros devem sempre temer que o
experimentador não sentiu exatamente o que disse, ou que não descreveu suas sensações
com as expressões apropriadas), fica sempre em dúvida se foi ou não enganado, pelo
menos até certo ponto. Esses obstáculos ao conhecimento da verdade, que não podem
ser jamais inteiramente vencidos, cessam inteiramente quando fazemos os experimentos
em nós mesmos. Aquele que realiza esses experimentos em si sabe com certeza o que
sentiu, e cada experimento é um novo incentivo para que investigue os poderes de
outros remédios. O médico torna-se mais prático na arte de observar. Não imagine que
essas ligeiras indisposições causadas pela patogenesia, podem ser prejudiciais à saúde.
A experiência tem demonstrado o contrário, que o organismo do experimentador tornase,
em virtude desses freqüentes ataques à sua saúde, ainda mais apto a repelir todas as
influências externas danosas à sua constituição física e ele se tornará mais saudável,
como a experiência o tem demonstrado.
§142. Distinguir os sintomas (*) do medicamento dos da doença primitiva,
especialmente das doenças crônicas, que permanecem com freqüências inalteradas, é
assunto que pertence a mais elevada arte do julgamento, e deve ser deixado
exclusivamente para os mestres da observação.
(*) Sintomas esses que, durante todo o curso da moléstia, tenham sido observados
somente muito antes, ou nunca antes, conseqüentemente doenças novas, pertencentes
ao medicamento.
§143. Quando tivermos feito as patogenesias de diversos medicamentos, formaremos
uma Matéria Médica confiável (*), um livro da natureza onde se encontra o registro da
ação de medicamentos.
(*) Se confiamos a patogenesia para pessoas desconhecidas e que são pagas por esse
trabalho, os resultados não serão sempre confiáveis, podendo comprometer o trabalho
anterior feito pelos médicos homeopatas.
§144. Deveremos excluir da matéria médica obtida dessa forma tudo quando for
conjectura; tudo deve ser a linguagem pura da natureza, cuidadosa e honestamente
interrogada.
§145. Conhecendo um maior numero de patogenesias com precisão, poderemos descobrir
um remédio homeopático, para cada um dos estados mórbidos infinitamente numerosos
existentes na natureza (*). Restam apenas algumas doenças, para as quais não se pode
encontrar, entre os até agora experimentados (**), um remédio homeopático
razoavelmente adequado.
(*) Primeiramente (há cerca de quarenta anos), eu era o único que havia tornado a
experimentação dos poderes puros dos medicamentos a mais importante de minhas
ocupações. Desde então, tenho sido auxiliado nisso por alguns jovens observadores, que
realizaram experimentos em si próprios, e em cujas observações fiz revisões de caráter
crítico; após isto, alguns outros realizaram certos trabalhos dessa espécie. Mas o que
não poderemos realizar, quando muitíssimos observadores precisos e dignos de
confiança tiverem prestado os seus serviços, assim enriquecendo esta, a única e
verdadeira matéria médica, mediante cuidadosas experiências em si mesmos? - A arte de
curar aproximar-se-á, então em certeza, das ciências matemáticas.
(**) Vide a segunda nota dos 109.
§146. O verdadeiro médico empregará medicamentos que foram experimentados em
indivíduos sãos.
§147. Nas patogenesias encontraremos a maior semelhança à totalidade dos sintomas
de uma determinada doença natural, e esse remédio será o mais adequado, o mais
homeopaticamente certo para a doença.
§148. A doença natural nunca deve ser considerada como matéria nociva situada em
algum ponto interno ou externo do homem (11-13), mas sim como algo produzido por
um agente nocivo imaterial que, como uma espécie de infecção (nota do 11), produz
perturbações no princípio vital, traduzidas pelos sintomas da doença; quando o agente
nocivo for removido pelo remédio homeopático, o qual excede em energia a doença
natural semelhante (33, 279), mesmo nas doses mínimas, então perde-se a influência do
agente nocivo original sobre o princípio vital e a saúde voltará. Se a doença natural
for aguda então a recuperação será em poucas horas. Quando for uma doença crônica,
ela cederá um pouco mais tarde, com todos os sinais de desconforto, mediante o uso de
diversas doses do mesmo medicamento, mais potencializado, ou após a seleção
cuidadosa (*) de um ou outro remédio homeopático mais semelhante; o restabelecimento
ocorrerá em transições imperceptíveis, freqüentemente rápidas e o princípio vital será
novamente libertado, capaz de continuar a vida do organismo, em pleno gozo da saúde.
(*) A busca laboriosa da seleção do medicamento homeopático mais conveniente para
cada estado mórbido, é um trabalho que apesar da existência de livros que tentam
facilita-lo, ainda requer o estudo das próprias fontes originais, além de uma grande
dose de critério e força da vontade. Aqueles que não são verdadeiros homeopatas e
empregam remédios de forma e aparência homeopáticas, o fazem de qualquer maneira
(quidquid in buccam venit), e quando o remédio inadequado não propicia alívio
imediato, em vez de porem a culpa em sua ignorância e relaxamento, atribuem-na à
homeopatia, acusando-a de grande imperfeição Eles compensam a ineficiência do
medicamento, que mal chega a ser semi-homeopático, mediante o emprego de meios
alopáticos, que para eles são muito mais práticos, uma ou mais dúzias de sanguessugas
aplicadas nas partes afetadas e inócuas sangrias, num máximo de oito onças, e assim
por diante; se o paciente se restabelecer eles exaltam essas virtudes, alegando que não
tivesse sido isso o paciente não teria se restabelecido. Se o paciente morrer procuram
consolar os amigos dizendo que "eles próprios são testemunhas de que todos os meios
concebíveis haviam sido empregados para tentar a cura do falecido." Quem os chamaria
de médicos homeopatas? A sua recompensa será ser tratado da mesma maneira quando
adoecerem.
§149. As doenças crônicas e principalmente as complicadas, necessitam para a sua
cura, um tempo proporcionalmente maior. Quando a doença crônica é associada com a
discrasia medicinal crônica provocada pela não-arte alopática, é necessário um tempo
ainda maior para a sua cura, sendo muitas vezes mesmo incurável, em conseqüência de
roubo vergonhoso do vigor e líquidos vitais do paciente (sangrias, purgativos, etc.) ou
pelo uso prolongado de grandes doses de medicamentos de ação violenta, administrados
com base em teorias vazias e errôneas de sua pseudo-utilidade, também na prescrição de
banhos minerais inadequados etc.
§150. Quando o paciente apresenta sintomas insignificantes e recentes, o médico não
deve considerar isto como uma doença plenamente desenvolvida que necessite
assistência médica séria. Uma ligeira alteração na dieta e regime é geralmente
suficiente para terminar tal indisposição.
§151. Quando o paciente apresentar alguns sintomas violentos, a investigação
mostrará outros sintomas que, embora mais ligeiros, darão um quadro completo da
enfermidade.
§152. Tanto quanto pior for uma doença aguda, mais numerosos e intensos serão os
sintoma e poderemos encontrar um medicamento adequado para ela, se houver um
número suficiente de remédios conhecidos.
§153. Na busca do remédio específico homeopático deve-se ter em mente
exclusivamente os sinais e sintomas (*) da doença que forem mais fortes, singulares,
incomuns e peculiares (característicos), pois é principalmente e quase que só estes que
utilizaremos na relação dos sintomas do medicamento a ser escolhido. Os sintomas mais
gerais e indefinidos como perda de apetite, dor de cabeça, debilidade, sono inquieto,
sensação de desconforto, etc., não são os mais importantes, quando são de caráter vago
e indefinido, se não puderem ser descritos com mais detalhes, pois sintomas da
natureza assim geralmente são observados em quase todas as doenças, e em quase todos
os medicamentos.
(*) O Dr. Voa Bonninghausen, pela publicação dos sintomas característicos de
medicamentos homeopáticos, em seu repertório, prestou um grande serviço à
homeopatia, bem como o Dr. G. H. G. jahr, em seu manual dos principais sintomas,
agora editado pela terceira vez sob o título: "Grand Manuel".
§154. O medicamento homeopático específico para uma determinada doença é aquele
que, na patogenesia, apresentar em sua relação de sintomas característicos, o maior
número e semelhança de sintomas dessa doença, e se não for de duração muito longa,
será geralmente removida e extinta com a primeira dose, sem qualquer perturbação
considerável.
§155. Somente os sintomas do medicamento que correspondem aos sintomas da doença,
são chamados a agir, os primeiros ocupando o lugar dos segundos (mais fracos) nas
sensações do principio vital removendo-os em seguida; os outros sintomas do
medicamento homeopático, que amiúde são muito numerosos, não sendo de forma
alguma aplicáveis ao caso da doença em questão, não desempenham qualquer papel. O
paciente, melhorando de hora em hora, não os sente, porque a dose pequeníssima
necessária para o uso homeopático é demasiadamente fraca para produzir os outros
sintomas do medicamento que não são homeopáticos ao caso, nas partes do corpo que se
acham livres de doença, conseqüentemente só os sintomas homeopáticos podem agir nas
partes do organismo que já se acham muito irritadas e excitadas, de modo que o
princípio vital doente possa reagir somente a uma doença medicinal semelhante,
embora mais forte, pelo que se extingue a doença original.
§156. Não há quase nenhum medicamento homeopático por mais adequadamente
escolhido que não produza, em pacientes muito irritáveis e sensíveis, pelo menos algum
sintoma novo e ligeiro, enquanto perdurar o seu efeito, pois é quase impossível que o
medicamento e a doença cubram sintomaticamente um ao outro. Em circunstâncias
normais esta diferença sem importância será facilmente eliminada pela atividade
potencial (autocracia) do organismo, e não é perceptível por pacientes que não sejam
excessivamente delicados; o restabelecimento prossegue, apesar disso, em direção ao fim
almejado da cura perfeita, se não for disso impedido pela ação de influências
medicinais heterogêneas sobre o paciente, por erros de regime, ou pela excitação das
paixões.
§157. O remédio homeopaticamente selecionado remove suavemente a doença aguda
sem manifestar seus outros sintomas não homeopáticos (sem produzir novos e sérios
distúrbios); geralmente durante a primeira ou nas primeiras horas, pode ocorrer um
ligeiro agravamento dos sintomas, quando a dose não tiver sido suficientemente
pequena; nos casos em que a dose tenha sido um tanto excessiva, a agravação pode
durar muitas horas. O remédio tem tanta semelhança com a moléstia original que
parece ao doente ser uma agravação de sua própria doença. Na realidade é uma doença
medicinal extremamente semelhante, que excede um pouco a doença original em
intensidade.
§158. Uma ligeira agravação homeopática durante as primeiras horas é um excelente
prognóstico de que a doença aguda cederá à primeira dose, pois a doença medicinal deve
ser naturalmente, um tanto mais forte que a moléstia a ser curada, se desejar vencer
esta última, assim como uma doença natural pode remover uma outra semelhante a ela
somente quando for mais forte que a última (43-48).
§159. Quanto menor a dose do medicamento homeopático no tratamento de moléstias
agudas, tanto menor e mais curto é o incremento aparente da moléstia durante as
primeiras horas.
§160. A dose do medicamento homeopático, mesmo muito pequena, pode tratar a
doença natural semelhante não complicada, e que não tenha sofrido uma duração longa
(249 nota); se a dose não for a menor possível, durante a primeira hora após a sua
ingestão, produzirá uma agravação homeopática (*).
(*) Esta exaltação dos sintomas medicinais sobre os sintomas da doença que lhe são
análogos, o que parece uma agravação, foi também observada por outros médicos,
quando, acidentalmente, empregaram um remédio homeopático. Quando um paciente
que sofre de sarna se queixa de um aumento da erupção após a aplicação de enxofre,
seu médico, que desconhece a causa disso, consola-o com a certeza de que a sarna deve
sair adequadamente antes de poder ser curada; ele não sabe, contudo, que isto é uma
erupção causada pelo enxofre, que toma a aparência de uma exasperação da sarna.
"A erupção facial que foi curada pela viola tricolor, foi por ela agravada no começo de
sua ação", segundo nos relata Leroy (Heilk. Für Mútter, p. 406), mas ele não sabia que
a agravação aparente era devida a uma dose um tanto excessiva do medicamento, que
neste caso era de certo modo homeopática. Segundo Lysons (Med. Transact. Vol. ii,
Londres, 1772), "a casca do olmeiro cura com toda certeza as doenças de pele as quais
pioram no comêço de sua ação". Não tivesse ele dado essa casca nas doses monstruosas
(habitualmente empregadas na medicina alopática), mas nas doses pequeninas
necessárias quando o remédio apresenta semelhança, de sintomas, isto é, quando
empregado homeopàticamente, teria realizado uma cura sem verificar, ou quase sem
verificar este aumento aparente do mal (agravação homeopática).
§161. A agravação homeopática (ação primária do medicamento homeopático) parece
aumentar um pouco os sintomas da moléstia original nas primeiras horas, sendo isto
certamente verdadeiro nas moléstias mais agudas; nos casos em que os medicamentos de
ação demorada tenham que combater uma moléstia mais cronica, não deve aparecer tal
aumento de sintomas, e não aparece se o medicamento for dado na dose adequada,
pequena, e gradativamente maior, cada uma modificada (*) com renovada dinamização
(247). Tal aumento dos sintomas originais de uma doença crônica pode aparecer
somente ao término do tratamento, quando a cura tiver sido feita ou por se fazer.
(*) Se as doses do medicamento melhor dinamizado (270) forem bastante pequenas, e se
a dose de cada vez for modificada por meio de sacolejos, então, devem-se repetir
medicamentos, de efeitos demorados, em breves intervalos mesmo em doenças crônicas.
§162. Em virtude de conhecermos apenas um número moderado de medicamentos e das
suas ações verdadeiras e puras, apenas uma parte dos sintomas da moléstia sob
tratamento será encontrada na relação de sintomas da patogenesia, mesmo assim podese
empregar este medicamento imperfeito, à falta de um mais preciso.
§163. Em relação à situação anteriormente descrita, não podemos esperar uma cura
completa e normal, pois surgirão alguns sintomas acidentais que não podiam ser antes
observados na moléstia, sintomas esses que são acessórios do medicamento não
perfeitamente adequado. Isto não impede que uma parte considerável da moléstia (os
sintomas da doença que lembram os do remédio) seja erradicada por este remédio,
estabelecendo um começo satisfatório da cura, mesmo com esses sintomas acessórios que
são, contudo, sempre moderados quando a dose do medicamento for suficientemente
pequena.
§164. O pequeno número de sintomas presentes nos medicamentos melhores escolhidos
não é obstáculo para a cura, no caso desses sintomas serem de caráter incomum,
característicos da doença; nessas circunstâncias ocorre a cura sem qualquer distúrbios
particulares.
§165. Quando não houver nenhum sintoma que se assemelhe com precisão aos sintomas
característicos do caso da doença, e se o medicamento corresponde à doença apenas nos
estados gerais, vagamente descritos, indefinidos (náuseas, debilidade, dor de cabeça, e
assim por diante), e se não houver entre os medicamentos conhecidos nenhum mais
homeopaticamente apropriado, nesse caso o médico não pode se comprometer a obter
qualquer resultado favorável imediato com o emprego deste medicamento não homeopático.
§166. A situação anteriormente descrita é mais difícil de acontecer devido ao grande
número de medicamentos, cujos efeitos puros já são conhecidos. Os efeitos danosos deles
resultantes, quando ocorrem, diminuem sempre que um medicamento posterior, de
maior semelhança, puder ser escolhido.
§167. Quando se usa medicamento não totalmente homeopático, nas doenças agudas, e
surgem sintomas acessórios de certa importância, não permitiremos que essa primeira
dose esgote a sua ação, nem exporemos o paciente a toda a duração da ação do
medicamento. Deveremos avaliar outra vez o estado mórbido em sua condição já
alterada e acrescentarmos ao restante dos sintomas originais, os novas desenvolvidos,
traçando um outro quadro da moléstia.
§168. Se com uma simples dose do medicamento, análogo ao estado mórbido atual, não
curarmos totalmente a doença, poderemos fazer com que ela progrida
consideravelmente no caminho da cura. E se nesse caso, nem este medicamento for o
suficiente para realizar o restabelecimento do estado de saúde, examinaremos por
diversas vezes o estado mórbido que ainda restar, escolhendo outro medicamento
homeopático que lhe seja tão adequado quanto possível, até devolvermos ao paciente
sua perfeita saúde.
§169. Quando na primeira seleção de um medicamento, descobrimos que a totalidade
dos sintomas da doença não é completamente coberta pelos sintomas de um só
medicamento (pelo número insuficiente de medicamentos conhecidos) e dois deles
competem pela preferência de serem os adequados, sendo um mais homeopaticamente
adequado para uma parte, e o outro para outra parte dos sintomas, não é aconselhável,
após o emprego do mais adequado dos dois remédios, administrar o outro sem novo
exame, e muito menos dar ambos ao mesmo tempo (*), pois o medicamento que parecia
ser o segundo em preferência poderia não o ser, por haverem ocorrido certas alterações
naquele ínterim. Neste caso, um medicamento homeopático mais adequado deve ser
escolhido em lugar do segundo, para a segunda série de sintomas, à medida que
surgirem em novo exame.
(*) Em nenhum caso, dar ambos juntos (273).
§170. Em todos os casos em que ocorra uma alteração do estado mórbido, a série
restante de sintomas então presente deverá ser investigada, e (sem se prestar atenção ao
medicamento que primeiro pareceu ser a segunda escolha no que se refere à adequação)
será escolheido outro medicamento homeopático, tão apropriado quando possível, ao
novo estado atual. Se acontecer, o que é muito raro, que o medicamento que primeiro
parecia ser o segundo em escolha pareça ainda adaptar-se bem para o estado mórbido
restante, tanto mais será digno de confiança, e merecerá ser empregado de preferência.
§171. As doenças crônicas não-venéreas, surgindo da Psora, freqüentemente necessitam
de diversos remédios antipsóricos, e cada um que se sucede, deve ser homeopàticamente
escolhido, de acordo com o grupo de sintomas que restam após o término da ação do
remédio anterior.
§172. A dificuldade para a cura surge pelos poucos sintomas que restam, motivando
cuidadosa atenção, considerando que o arsenal de remédios homeopáticos conhecidos é
ainda incompleto.
§173. As doenças que parecem ter apenas alguns sintomas são menos suscetíveis de
cura, sendo chamadas parciais (oligossintomáticas), porque apresentam apenas um ou
dois sintomas principais, que ocultam todos os outros. Pertencem, principalmente, à
classe das doenças crônicas.
§174. O sintoma principal pode ser tanto uma queixa interna (por exemplo, uma dor de
cabeça de muitos anos, uma diarréia prolongada, uma cardialgia antiga, etc.), ou outra
de natureza mais externa, sendo então denominada de doença local.
§175. Frequentemente se atribui à falta de discernimento do observador, o fato de não
haver descoberto todos os sintomas realmente presentes nas doenças oligossintomática
da primeira espécie.
§176. Após o exame inicial mais cuidadoso de algumas doenças (84-98), poderemos
encontrar apenas um ou dois sintomas sérios e violentos, enquanto que outros não são
notados.
§177. Para se resolver com sucesso um caso assim, que ocorre muito raramente, devemos
escolher o medicamento primeiramente guiados por estes poucos sintomas.
§178. Algumas vezes esse procedimento será o suficiente para a cura, com maior
probabilidade, quando os primeiros sintomas mórbidos são muito fortes, incomuns e
característicos.
§179. Com maior freqüência, o medicamento que foi escolhido em primeiro lugar, em tal
caso, só será útil parcialmente, isto é, não será exatamente adequado, pois não havia
um número considerável de sintomas para orientar uma escolha precisa.
§180. Neste caso, o medicamento que não é perfeitamente homeopático, irá, em sua
ação na doença (162, e seguintes), produzir sintomas acessórios, e diversos fenômenos
de sua própria série de sintomas misturam-se com o estado de saúde do paciente, que
são ao mesmo tempo, sintomas da própria doença, embora não tenham, até então,
jamais ou raramente sido percebidos; alguns sintomas que o paciente não havia
anteriormente experimentado aparecem, ou outros, que havia percebido apenas
vagamente, tornam-se mais pronunciados.
§181. Os fenômenos acessórios e novos sintomas dessa doença que surgiu agora, são
devidos ao medicamento que se acabou de empregar, devem a sua origem a eles (*).
Temos que considerar toda a coleção de sintomas agora perceptíveis como pertencentes
à própria doença, como o estado atual existente, e dirigir o nosso tratamento
subseqüente de acordo com ele.
(*) Quando não foram causados por um erro importante no regime, uma emoção
violenta, ou uma desordem tumultuosa no organismo, como a ocorrência ou cessação de
regras, concepção, parto etc.
§182. A seleção imperfeita do medicamento, que nesse caso foi quase inevitável, devido
ao número muito limitado de sintomas presentes, serve para completar a série de
sintomas da moléstia, e assim facilita a descoberta de um segundo medicamento
homeopático mais precisamente adequado.
§183. Sempre que a dose do primeiro medicamento cessar seu efeito benéfico (se os
sintomas recentemente desenvolvidos, pela sua gravidade, não pedem auxílio mais
rápido, pela diminuta dose do medicamento homeopático, e nas doenças mais crônicas,
é excessivamente raro), deve se realizar um novo exame do mal, e como ele se
apresentar, escolher um segundo medicamento homeopático de acordo com ele, que
deverá servir exatamente ao estado atual, podendo-se encontrar, então, um que seja
ainda mais apropriado, pois o grupo de sintomas tornou-se maior e mais completo (*).
(*) Nas doenças crônicas (mais raramente, porém com certa freqüência das doenças
agudas) o paciente-se sente muito doente, embora os seus sintomas sejam muitos vagos,
de modo que este estado pode ser atribuído mais ao estado de amortecimento dos
nervos, que não permite que as dores e sofrimentos do paciente sejam claramente
percebidos, este torpor da sensibilidade interna é removido pelo ópio, e em sua ação
secundária os sintomas do mal ficam claros.
§184. Quando cada nova dose de medicamento tiver esgotado a sua ação, não sendo
mais adequados e úteis, os sintomas ainda remanescentes devem ser anotados e deve-se
procurar outro medicamento homeopático, tão conveniente quanto possível, para o
grupo de sintomas agora observado, e assim por diante, até se haver completado a cura.
§185. As doenças parciais (oligossintomáticas, chamadas doenças locais) seriam
entendidas como os sofrimentos que ocorrem nas partes externas do corpo, com a idéia
predominante de que somente essas partes eram afetadas, que o resto do corpo não
participava da doença, doutrina esta que é absurda e teórica, que tem conduzido a
tratamento médico deveras desastroso.
§186. As doenças locais, surgidas recentemente, apresentando apenas uma lesão
externa, à primeira vista ainda parecem merecer o nome de doenças locais e a lesão, por
ser muito pequena, não pareceria ser de grande importância. Quando as doenças de
causa externa são graves todo o organismo sofre, podendo ocorrer febre, etc., o
tratamento de tais doenças poderia ser relegado à cirurgia, no entanto isto só será
correto se as partes afetadas requeiram ajuda mecânica, por exemplo, pela redução das
luxações, por meio da sutura dos lábios de uma ferida, mediante pressão mecânica para
estancar o fluxo de sangue de artérias abertas, pela extração de matéria estranha que
penetrou nas partes vivas, fazendo-se uma abertura em uma cavidade do organismo
para remover alguma substância irritante ou para obter a evacuação de efusões ou
depósitos de fluidos, trazendo em aposição as extremidades partidas de um osso
fraturado e retendo-as em contato correto mediante uma ligadura apropriada, etc.
Quando é necessária a ação da força vital, como sempre ocorre, para a tarefa de sarar,
como por exemplo, quando a febre violenta resultante de grandes contusões, músculos,
tendões e vasos sangüíneos lacerados, ou quando a dor externa de áreas escaldadas ou
queimadas precisa ser homeopaticamente vencida, então os serviços do médico dinâmico
e sua valiosa homeopatia se fazem necessários.
§187. As alterações que podem surgir nas partes externas e não são resultantes de
qualquer lesão externa, ou mesmo as que tenham apenas uma pequena ferida externa
como sua causa imediata, são produzidas de maneira inteiramente diferente: sua fonte
situa-se em algum mal interno. Considerá-los como meras afecções locais e ao mesmo
tempo, tratá-las somente, ou quase somente cirurgicamente, com aplicações tópicas ou
outros remédios semelhantes, como têm feito a velha escola desde as eras mais remotas,
é tão absurdo quando pernicioso em seus resultados.
§188. Estas afecções foram consideradas meramente tópicas, doenças locais, como se
fossem males exclusivamente limitados às partes em que o organismo pouco ou nada
participou (*).
(*) Um dos maiores e mais perniciosos disparates da velha escola.
§189. Nenhuma doença externa (aquelas não produzidas por alguma lesão externa
séria) pode surgir, persistir ou mesmo desenvolver-se sem alguma causa interna e sem a
participação de todo o organismo, que fica assim totalmente atingido, pois as partes do
organismo encontram-se intimamente ligadas para formar um todo indivisível em
sensações e funções. Não pode, por exemplo, ocorrer erupção nos lábios ou panarício,
sem que haja, simultaneamente, uma perturbação interna.
§190. Todo o verdadeiro tratamento médico de uma doença externa, como concebida
acima, deve ser dirigido contra o todo, e realizar a cura da doença geral mediante
medicamentos internos, se desejar que o tratamento seja correto.
§191. A experiência mostra em todos os casos, que todo medicamento interno,
imediatamente após a sua ingestão, causa alterações importantes na saúde geral do
paciente, e principalmente nas partes externas afetadas, mesmo na chamada doença
local, que afeta as partes mais externas. A alteração que o medicamento provoca é
salutar, favorecendo o restabelecimento da saúde de todo o corpo, juntamente com o
desaparecimento da afecção externa (sem a ajuda de qualquer medicamento externo)
desde que o remédio interno dirigido ao estado geral tenha sido adequadamente
escolhido, no sentido homeopático.
§192. Conseguiremos o melhor resultado, se juntamente com as alterações locais,
investigarmos os demais sintomas observáveis na saúde do doente, e que tenham sido
notados antes, quando não se haviam empregado medicamentos, formando um quadro
completo da doença.
§193. O medicamento empregado apenas internamente, frequentemente cura, com uma
só dose, tanto a afecção interna como a local, se a afecção for de origem recente, o que
prova que a afecção local dependia da doença do resto do organismo, e que deveria ser
considerada como parte inseparável do todo, como um dos sintomas mais consideráveis
e marcantes de toda a doença.
§194. Não é necessário esfregar ou aplicar um medicamento externamente (muito
embora seja o específico em virtude de sua homeopaticidade), nas doenças locais
agudas, nem nas crônicas, mesmo que o remédio seja administrado internamente, ao
mesmo tempo. A doenças tópicas cedem, com toda a certeza, aos remédios internos
homeopaticamente adaptados ao estado de saúde presente no exterior e no interior, e
geralmente sem qualquer outro auxílio; mas se estas doenças não cedem completamente
a eles, e se ainda resta, na parte afetada e no estado geral, não obstante um regime
adequado, um resquício de doença que a força vital não consegue vencer, então o mal
agudo foi (como ocorre com certa freqüência) um produto da Psora, que até então jazia
latente no interior, mas que agora irrompeu, e acha-se a ponto de desenvolver-se em
doenças crônicas visível.
§195. Para realizar uma cura radical em tais casos, que não são de modo nenhum raros,
após haver passado a fase aguda, deve-se, então, dirigir um tratamento antipsórico
adequado (como afirmei em meu trabalho sobre Doenças Crônicas) contra os sintomas
que ainda restam e contra o estado mórbido a que o paciente se achava sujeito. Nas
doenças crônicas locais que não são de caráter evidentemente venéreo, o tratamento
interno antipsórico é, além disso, essencial (*).
(*) Conforme indiquei no meu livro sobre Doenças Crônicas.
§196. Poderiamos pensar que a cura seria apressada associando medicação interna e
tópica.
§197. Essa forma de tratar é inadmissível, pois os sintomas locais, originados da Psora
e especialmente, os que se originam no miasma da sífilis ou da sicose (*), podem ser
eliminados precocemente pela aplicação tópica, parecendo que o tratamento foi eficaz,
no entanto os demais sintomas internos, originados dos miasmas da Sífilis ou da Sicose
permanecem, dificultando ou impossibilitando a cura.
(*) Erupção de sarna, cancro, condiloma, recentes.
§198. O uso isolado de medicamentos tópicos, nos sintomas locais de doenças crônicas
miasmáticas, que são poderosos para a cura, quando administrados internamente, é
inadmissível, pois se o sinal local da doença crônica só for removido localmente, e de
forma parcial, o tratamento interno, indispensável para o restabelecimento completo da
saúde, continuará a ser falho: o sintoma principal (a afecção local) desaparecerá,
restando apenas os outros sintomas, menos perceptíveis, menos constantes e
persistentes que a afecção local, e freqüentemente não são suficientemente peculiares,
característicos para mostrar, após isto, um quadro claro da doença.
§199. Se o remédio perfeitamente homeopático para a doença não tiver ainda sido
descoberto (*), ao tempo em que os sintomas locais foram destruídos por remédio
corrosivo ou secante externo, ou pela lanceta, então o caso torna-se mais difícil, pela
falta de definição e inconstância dos sintomas restantes.
(*) Como ocorreu antes de meu tempo com os remédios para a moléstia condilomatosa (e
os remédios antipsóricos).
§200. Se o sinal local ainda estivesse presente para orientar o tratamento interno, o
remédio para toda a doença poderia ter sido descoberto, e, se o fosse, a persistência da
afecção local durante o seu emprego interno teria mostrado que a cura não se havia
ainda completado; mas, se curada no seu lugar, isto constituiria prova convincente de
que a doença foi inteiramente erradicada, produzindo-se a desejada cura de toda a
doença.
§201. A força vital do homem, quando afetada por doença crônica, não tem a
capacidade de, por si só, livrar-se da doença completamente, e por isso, adota o
mecanismo de desenvolver um sintoma em alguma parte externa, com o objetivo de
causar e manter em estado de doença essa parte, que não é indispensável para a vida
humana; ela pode assim, silenciar a doença interna, que, de outro modo, ameaçaria
aniquilar os órgãos vitais, causando o falecimento do paciente, e podendo, desse modo,
transferir a doença interna para a afecção local mantendo-o lá. Dessa forma, a
presença da afecção local silencia por certo tempo, a doença interna, embora sem poder
curá-la ou diminuí-la grandemente (*). A afecção local nunca é mais que uma parte da
doença geral: é uma parte dela aumentada em uma só direção pela força vital orgânica,
e transferida para uma parte do organismo menos perigosa (externa), a fim de suavizar
a doença interna. Entretanto, enquanto o sintoma local silencia a doença interna, a
força vital não cura a doença, que vai aumentando gradativamente (a natureza se vê
obrigada a aumentar e agravar cada vez mais o sintoma local, a fim de que possa
funcionar como substituto para o mal interno que aumentou, podendo ainda mantê-lo
sob controle). Úlceras antigas nas pernas pioram quando a Psora não se cura, o cancro
aumenta enquanto a sífilis interna permanece sem cura, os condilomas aumentam e
crescem enquanto a sicose não for curada, tornando-se assim cada vez mais difícil de
curar o enfermo, à medida que a doença interna se alastra com o passar do tempo.
(*) Os exutórios dos clínicos da velha escola fazem algo semelhante; úlceras artificiais
nas partes externas silenciam alguns males crônicos internos, por muito pouco tempo
(enquanto causam uma irritação dolorosa à qual o organismo doente não está
acostumado, sem poder curá-las), mas por outro lado, enfraquecem ou destroem a saúde
geral, em grau muito maior que a natureza das metástases realizadas pela força vital
instintiva.
§202. Se o médico da escola antiga destruísse o sintoma local pela aplicação tópica de
remédios externos, supondo que assim curaria toda a doença, a natureza compensaria a
sua ausência, despertando os outros sintomas que já existiam em estado latente,
juntamente com a afecção local e aumentaria a doença interna. Costuma-se dizer,
embora incorretamente, que a afecção local foi recolhida para o organismo, ou para os
nervos, devido aos remédios externos.
§203. Todo tratamento externo de sintomas locais, cuja finalidade é removê-los da
superfície do organismo, enquanto a doença interna miasmática permanece incurada,
como, por exemplo, removendo da pele uma erupção psórica mediante diversos tipos de
ungüentos, queimando o cancro com cáusticos ou destruindo os condilomas pela
lanceta, ligadura ou cauterização é um modo pernicioso de tratamento e tem sido a
maior fonte de todas as doenças crônicas já designadas ou ainda por designar de que se
queixa a humanidade; é uma das práticas mais criminosas de que se pode culpar o
mundo médico, e, contudo, tem sido a geralmente adotada e ensinada nas cátedras
como a única (*).
(*) Pois quaisquer medicamentos que venham a ser dados, internamente, ao mesmo
tempo, servirão apenas para agravar o mal, já que esses remédios não terão poderes
específicos de curar toda a doença, porém atacarão o organismo, enfraquecendo-o, e,
além disso, infligirão nele outros males crônicos medicinais.
§204. A s doenças crônicas que dependem de um modo de vida pouco saudável (77),
bem como as inúmeras moléstias medicinais (74) causadas pelo tratamento irracional,
muitas vezes são de caráter apenas trivial. A maior parte do restante dos males
crônicos resulta do desenvolvimento dos três miasmas crônicos: sífilis interna, sicose
interna, sendo principalmente, e em proporção infinitamente maior, da Psora interna.
Cada um destes miasmas já estavam presentes em todo o organismo, havendo surgido
antes mesmo do aparecimento do sintoma primário de cada um deles (no caso da Psora,
a erupção como casca de ferida (sarna); na sífilis, o cancro ou a bouba, e na sicose, os
condilomas), que impede sua eclosão; e esses males miasmáticos crônicos, privados de
seu sintoma local, pela poderosa natureza, mais cedo ou mais tarde irão se desenvolver
e irromper, e assim produzir toda a sorte de males, o número incrível de males crônicos
que têm assolado a humanidade por milhares de anos, sendo que nenhum deles teria
vindo a existir se os médicos tivessem se esforçado de maneira racional para curar
radicalmente e extinguir no organismo esses três miasmas, sem empregar remédios locais
para seus sintomas externos correspondentes, contando, somente com os remédios
internos homeopáticos adequados para cada um deles (Vide nota do 282).
§205. O médico homeopata não deve tratar sintomas externos de miasmas crônicos ou
das afecções secundárias que resultem de seu desenvolvimento, pelo uso de remédios
locais, nem por meio dos agentes externos que agem dinamicamente (*), nem dos que
agem mecanicamente. Ele cura o grande miasma, desaparecendo conjuntamente seus
sintomas primários e secundários (salvo em alguns casos de sicose inveterada); esse não
era o método seguido pelos médicos da velha escola; o médico homeopata então descobre
que os sintomas primários (**) já foram destruídos mediante remédios externos, e que
ele agora tem que tratar dos secundários, isto é, as afecções resultantes da irrupção e
desenvolvimento dos miasmas que lhe são peculiares, principalmente dos males crônicos
que evoluíram da Psora interna, cujo tratamento interno, na medida em que o médico
pode elucidar, em diversos anos de reflexão, observação e experiência, procurei indicar
em minha obra sobre Doenças Crônicas, à qual deve o leitor se reportar.
(*) Não posso aconselhar, por exemplo, a extirpação local do chamado câncer dos lábios
e face (o produto da Psora desenvolvida em alto grau, muitas vezes em conjunção com
a sífilis), mediante a pomada arsenical do Irmão Cosme, não somente por ser
excessivamente doloroso, e muitas vezes falho, porém mais pela razão de que, se este
remédio dinâmico conseguisse realmente livrar a parte afetada do organismo, a úlcera
maligna, a moléstia básica não seria assim diminuída de forma alguma, sendo
necessário que a força vital transfira o campo de operação da grande moléstia interna
para alguma parte mais importante (como ocorre em todos os casos de metástase), e a
conseqüência é a cegueira, surdez, loucura, asma sufocante, hidropisia, apoplexia, etc.
Mas esta liberação local ambígua da parte afetada, da úlcera maligna, pelo remédio
arsenical tópico, só encontra, êxito, finalmente, nos casos em que a úlcera não tenha
ainda atingido um tamanho relativamente grande, e quando a força vital ainda é
bastante enérgica; mas é justamente assim, nestas circunstâncias, que a cura completa
interna de toda a doença original é, igualmente, ainda praticável. O resultado é o
mesmo sem a cura prévia do miasma interno, quando o câncer da face ou seio é
removido apenas pela lanceta, e quando tumores enquistados são removidos; algo pior
sobrevém, ou, de qualquer modo, acelera-se a morte. Isto tem acontecido vezes sem
conta, mas a velha escola prossegue em sua cegueira, do mesmo modo, em cada caso que
se repete, com os mesmos resultados desastrosos.
(**) Erupção de sarna, cancro (bouba), condilomas.
§206. Antes de iniciar o tratamento de moléstia crônica, é necessário investigar com o
maior cuidado (*) se o paciente teve alguma infecção venérea (ou infecção com
gonorréia condilomatosa), pois nesse caso o tratamento deve ser orientado apenas em
sua direção, quando somente os sinais de sífilis (ou da moléstia condilomatosa, que é
mais rara) acham- se presentes, mas esta moléstia, hoje em dia, é muito raramente,
encontrada em separado. Se tal infecção tiver ocorrido antes, isso deve também ser
tomado em consideração no tratamento dos casos em que a Psora está presente, porque
então esta última moléstia acha-se complicada com a primeira, como sempre ocorre
quando os sintomas não são puros, pois quando o médico crê que se depara com um caso
de antiga moléstia venérea, sempre, ou quase sempre, ele tem que tratar uma afecção
sifilítica, acompanhada geralmente (complicada) com Psora, pois a discrasia interna da
sarna (a Psora) é a mais freqüente causa fundamental de doenças crônicas. Em certos
casos, ambos os miasmas podem, também, se complicar com sicose, em organismos
crônicamente afetados, ou, como ocorre com maior freqüência, é a Psora a única causa
fundamental de todas as outras doenças crônicas (sejam quais forem os nomes que se
lhes dêem), que, além disso, acham-se tão freqüentemente combinadas, aumentadas e
desfiguradas de modo terrível, pela imperícia alopática.
(*) Em investigações desta natureza, não devemos deixar nos enganar pelo que dizem
os pacientes ou os seus familiares, que freqüentemente atribuem a causa de males
crônicos, mesmo os mais graves, a um resfriado, por haverem se molhado, bebido água
fria com o corpo quente há alguns anos atrás, ou a um susto, luxação ou vexação, às
vezes mesmo a feitiços etc. Essas causas são por demais insignificantes para
desenvolver uma moléstia crônica em um corpo são, de forma a mantê-la durante anos,
e a agravá-la de ano para ano, como sucede com todas as doenças crônicas resultantes
da Psora em grau desenvolvido. Causas de caráter muito mais importante que estas
influências nocivas mencionadas acima, encontram a sua raiz no início e avanço de
uma doença séria de longa duração; as causas indicadas só poderiam despertar o
miasma crônico latente.
§207. Após saber das doenças anteriores, deveremos procurar saber quais os
tratamentos alopáticos recebidos, os medicamentos usados e quais banhos minerais
tomaram, para compreender a doença desde o seu estado original, e, quando possível,
corrigir em parte estas alterações artificiais perniciosas, ou permitir- lhe evitar o
emprego de medicamentos que já haviam sido impropriamente empregados.
§208. Aspectos como a idade do paciente, seu modo de vida, dieta, profissão, relações
sociais, e outros devem ser levadas em consideração, a fim de verificar se tais coisas
contribuíram para aumentar seu mal ou até que ponto puderam favorecer ou retardar o
tratamento. Da mesma forma, sua disposição física e mental devem ser observadas, a
fim de se saber se isto apresenta qualquer obstáculo ao tratamento, ou se requer que
seja dirigido, estimulado ou modificado.
§209. Após as etapas anteriores, em diversas conversas com o paciente, o médico pode
obter um quadro tão completo quanto possível de sua doença e escolher os sintomas
mais marcantes e característicos. Então ele escolhe o primeiro remédio (antipsórico ou
qualquer outro) que guarde a maior semelhança sintomática para iniciar o tratamento,
e assim por diante.
§210. A Psora se refere a quase todas as moléstias que chamei acima de parciais
[oligossintomáticas], as quais parecem ser mais difíceis de curar em virtude desta
parcialidade. Pertencem a este grupo as chamadas doenças mentais. Contudo, não
chegam a constituir uma classe de doença marcadamente separada de todas as outras,
já que nas demais moléstias físicas, também a disposição mental sempre se altera (*); e
em todos os casos de moléstias que devemos curar, a disposição do paciente deve receber
atenção especial, bem como a totalidade dos sintomas, a fim de podermos obter o
quadro preciso da doença, para, a partir dele, podermos tratá-la homeopaticamente com
sucesso.
(*) Por exemplo, quantas vezes não nos encontramos diante de pacientes, que estão de
humor dócil e pacífico, embora tenham sofrido durante anos doenças muito dolorosas,
tanto que o médico vê-se forçado a estimar e condoer-se do doente! Porém, se o médico
restabelece a saúde do paciente, como freqüentemente ocorre na clínica homeopática,
muitas vezes ele se espanta pela terrível alteração de seu estado de ânimo.
Freqüentemente testemunha caso de ingratidão, crueldade, refinada maldade, bem
como as piores tendências degradantes para a humanidade, que constituíam,
exatamente, características do paciente antes de adoecer. Os que eram pacientes
quando sãos, tornam-se às vezes obstinados, violentos, apressados ou mesmo
intolerantes e caprichosos, ou impacientes e prepotentes quando adoecem; os que eram
castos e tímidos, muitas vezes tornam-se luxuriosos e despudorados. Uma pessoa de
mente clara freqüentemente fica com o intelecto embotado, enquanto uma em
circunstâncias normais tem a mente fraca, torna-se mais prudente e pensativa; e uma
pessoa lenta em tomar decisões, às vezes, adquire grande presença de espírito e rapidez
de decisão, etc.
§211. O estado de espírito do paciente muitas vezes determina a escolha do remédio
homeopático, em virtude de ser um sintoma decididamente característico, que não pode,
de maneira nenhuma, permanecer oculto ao médico que seja um observador preciso.
§212. Não há no mundo, substância medicinal enérgica que não altere de modo muito
fácil de observar o estado físico e mental do indivíduo são que a experimente, e cada
medicamento o faz de modo diverso.
§213. Jamais poderemos curar homeopaticamente, se não observarmos, em cada caso de
doença, mesmo nas agudas, juntamente com os outros sintomas, os relativos às
mudanças no estado mental e moral, e se não escolhermos, dentre os medicamentos,
uma potência patogenética que além da semelhança de outros sintomas aos da moléstia,
seja também capaz de produzir um estado semelhante moral e mental (*).
(*) Assim, o Aconitum raramente ou nunca produzirá uma cura rápida ou permanente
em um paciente de espírito calmo, quieto e uniforme, e tampouco servirá a Nux vomica
nos casos em que seu caráter for suave e fleumático; Pulsatilla, quando for alegre, vivo
ou obstinado, ou Ignatia, quando for imperturbável ou pouco susceptível de se assustar
ou envergonhar.
§214. As instruções que tenho a dar com relação à cura das doenças mentais limitam-se
a pouquíssimos comentários, visto serem curáveis da mesma maneira que todas as
outras moléstias.
§215. Quase todas as chamadas doenças mentais e emocionais nada mais são que males
físicos em que o sintoma de perturbação mental e emocional aumenta, ao passo que os
sintomas físicos declinam, até que, por fim, atinge sua maior parcialidade, quase como
se fosse um mal local no sutil órgão invisível da mente ou do caráter.
§216. Não são raros os casos em que a doença física que ameaça ser fatal (uma afecção
pulmonar, a deterioração de algum outro órgão importante, ou qualquer outra moléstia
de caráter agudo, como por exemplo, febre puerperal etc.) se transforme em loucura, em
uma espécie de melancolia ou em mania, e os sintomas físicos perdem todo o seu perigo
ou melhoram ao ponto de quase chegarem a uma cura perfeita, ou então reduzem-se a
tal grau que sua obscura presença só pode ser descoberta mediante observação por um
médico dotado de perseverança e penetração. Desta forma, tornam-se uma doença
local, parcial [oligossintomática], em que o sintoma do distúrbio mental, que era
primeiramente apenas ligeiro, aumenta o ponto de se tornar o sintoma principal, e em
grande parte ocupa o lugar dos sintomas físicos, cuja intensidade vence de forma
paliativa, de modo que, em breve, as afecções dos órgãos físicos maiores serão,
transferidas para as áreas espirituais, mentais e emocionais, que o anatomista ainda
não alcançou, e jamais virá a alcançar com sua lanceta.
§217. Nestas doenças devemos ter todo o cuidado de conhecer todos os fenômenos,
tanto os sintomas físicos, como, e principalmente os relativos ao do estado de espírito e
disposição, peculiares e sempre predominantes, a fim de descobrirmos um remédio que
apresente, com a maior semelhança possível, sintomas físicos e um estado mental e
emocional compatíveis.
§218. A esta coleção de sintomas pertence, em primeiro lugar, a descrição exata de
todos os fenômenos da doença física, que já existiam antes de degenerar em um
aumento parcial do sintoma psíquico e tornar-se uma doença mental e emocional. Esta
descrição pode ser conhecida através do relatório dos acompanhantes do paciente.
§219. Uma comparação destes sintomas prévios da doença física, com os traços dos que
ainda restam, embora se tenham tornado menos perceptíveis (mas que mesmo agora, às
vezes, se tornam proeminentes, quando ocorre um intervalo de lucidez e um alívio
passageiro do mal psíquico), servirá para demonstrar que ainda se acham presentes,
embora obscurecidos.
§220. Se acrescentarmos a isto o estado de espírito (*) e de disposição observados com
exatidão pelos amigos do paciente e pelo próprio médico, obteremos o quadro completo
da doença. Se o mau psíquico já tiver atingido certa duração, deve-se encontrar um
medicamento capaz de produzir sintomas marcantemente semelhantes, e, de modo
especial, uma perturbação mental e análoga.
(*) Que geralmente muda em períodos, por exemplo: a alguns dias de terrível mania ou
raiva, seguem-se outros de tristeza profunda, silenciosa, etc., retornando apenas em
certos meses do ano.
§221. Quando a insanidade mental ou mania (causada, por exemplo, devido a susto,
ofensa vexatória, abuso de bebidas alcoólicas, etc.), ocorrer como doença aguda no
paciente que era calmo (embora quase sempre surja em virtude de alguma Psora
interna), ela não deve ser imediatamente tratada com antipsóricos, e sim inicialmente
com medicamentos homeopáticos não antipsóricos (*), para tratá-la a ponto de
permitir que a Psora reverta temporariamente ao seu antigo estado latente, em que o
paciente parece estar muito bem.
(*) Por exemplo: acônito, beladona, estramônio, hiosciamus, mercúrio, etc.
§222. Mesmo quando o paciente se restabeleceu de uma doença aguda mental ou
emocional, pelo uso desses medicamentos não antipsóricos, não deve pensar que ele foi
curado, pelo contrário, deve-se agir como presteza tentando libertá-lo completamente
da psora (*) por meio de tratamento antipsórico prolongado, pois a mesma tornou-se
agora outra vez latente, mas acha-se apta a irromper novamente; e se isto for feito, não
se deve temer outro ataque semelhante, se ele seguir fielmente a dieta e o regime que lhe
foram prescritos.
(*) É raro ocorrer que uma doença mental ou moral de longa duração cesse
espontaneamente (pois a discrasia interna transfere-se novamente para os órgãos
físicos menos nobres), como nos poucos casos que ocorrem em que um antigo internado
no manicômio recebeu alta por estar aparentemente curado. Além disso, até agora todos
os hospícios têm continuado lotados, de modo que a multidão de outros alienados que
buscam admissão em tais instituições mal poderiam encontrar lugar nelas e não ser que
algum dos internados na casa morresse. Nos hospícios, ninguém é realmente
permanentemente curado! Uma prova convincente (entre muitas outras) de tal
nulidade da arte não curativa até agora praticada, a ridiculamente honrada pelo
orgulho dos alopatas com o título de medicina racional. Por outro lado, quantas vezes
já não pôde a verdadeira arte de curar, a genuína, a pura homeopatia, recuperar esses
desgraçados para a posse de sua saúde mental e corporal e devolvê- los a seus amigos e
ao mundo.
§223. Quando não é feito o tratamento antipsórico (assim como o anti-sifilítico),
poderemos com certeza esperar que uma causa muito mais fraca que acarretou o
primeiro ataque de loucura, provoque novo ataque, mais severo e duradouro, durante o
qual a Psora irá dedenvolver-se geralmente, de modo completo e se transforma ou em
perturbação mental periódica, ou em distúrbio continuado, o que é então mais difícil de
se curar com antipsóricos.
§224. Se a doença mental não estiver plenamente desenvolvida, se não houver certeza
se realmente surgiu de doença corporal, ou ainda se resultou de falhas de educação,
maus costumes, moral corrupta negligência de espírito superstição ou ignorância, a
orientação de tratamento será: se a doença tiver origem de uma ou outra dessas causas,
poderá diminuir por exortações amistosas e sensatas, consolos, conselhos sérios e
sensatos; ao passo que uma verdadeira doença mental e moral, que dependa de mau
físico, será rapidamente agravada por este método: o melancólico se tornará ainda mais
triste, choroso, inconsolável e reservado, o louco furioso se tornará ainda mais
exasperado, e o louco que fala consigo mesmo piorará ainda mais (*).
(*) Parece que a mente nestes casos, sente ainda com maior inquietude e tristeza a
verdade destas advertências e age sobre o corpo como se desejasse restaurar a harmonia
perdida, mas o corpo, por meio dessas moléstias, reage nos órgãos da mente e nos que
governam o estado de espírito e os colocam em desordem ainda maior por uma
transferência nova de seus sentimentos para eles.
§225. Algumas doenças emocionais que não se desenvolveram apenas partindo de
moléstias corporais e de modo inverso, estando o organismo ligeiramente indisposto,
originam-se e se mantêm em virtude de causas emocionais, como ansiedade prolongada,
preocupações, ofensas e insultos, pesares, erros morais, e a ocorrência freqüente de
grande medo e susto. Esse tipo de distúrbio emocional pode destruir a saúde do
organismo, muitas vezes em alto grau.
§226. Apenas essas doenças emocionais recentes, que foram inicialmente causadas e
posteriormente mantidas pela mente, e antes de terem invadido gradualmente todo o
corpo, podem, mediante remédios psíquicos, como provas de confiança, conselhos
amigos, recomendações sensatas, e, muitas vezes, mediante simulações bem disfarçadas,
ser rapidamente transformadas em um estado mental sadio e, com dieta e regimes
apropriados, ser transformada em sanidade corporal.
§227. A causa fundamental nestes casos é também o miasma interno que não atingiu
ainda o seu pleno desenvolvimento, e como medida de segurança, o doente
aparentemente curado deve ser submetido a um tratamento antipsórico radical,
(também anti-sifilítico), para não cair outra vez em semelhante estado de doença
mental.
§228. As doenças mentais e emocionais resultantes de doenças corporais só podem ser
curadas por medicamento homeopático antipsórico, conjugado com um modo de vida
regular; deveremos observar um comportamento psíquico apropriado para com o
paciente, por parte dos que o cercam e do médico. À loucura furiosa devemos opor
energia calma e fria, resolução firme; às lamentações tristes e chorosas, muda
comiseração, mediante expressões e gestos; a falatórios sem nexo, um silêncio não de
todo desatencioso; a uma conduta desgostosa e abominável e conversa de caráter
semelhante, desatenção total. Devemos somente tentar impedir a destruição dos objetos
ao redor do paciente, sem reprová-lo por sua conduta, e tudo deve estar disposto de
modo a impedir a necessidade de quaisquer castigos e torturas corporais (*). Isto é
muito mais fácil realizar, visto que, na administração do medicamento (o único caso em
que se justifica o uso de violência no sistema homeopático), as pequenas doses do
remédio adequado jamais ofendem o paladar, podendo, portanto, serem dadas ao
paciente sem que ele o saiba, em sua bebida, de modo que qualquer coação se torna
desnecessária.
(*) Não podemos deixar de surpreender-nos ante a dureza de coração e indiscrição dos
médicos e muitos estabelecimentos para pacientes desta espécie, que, sem tentar
descobrir o verdadeiro e único modo eficaz de curar tais doenças, que é o meio
homeopático medicinal (antipsórico), contentam-se em torturar esses seres mais
desgraçados, com castigos violentos e outros tormentos dolorosos. Por tal prática
inconsciente e revoltante, eles se rebaixam ao nível dos carrascos em função de seus
deveres, e somente em criminosos, ao passo em que os primeiros, pela humilhante
consciência de sua inutilidade como médicos, parecem dar vazão à suposta
incurabilidade das doenças mentais em forma de brutalidade para com os inocentes
sofredores, que só merecem piedade, pois são esses médicos por demais ignorantes para
serem de alguma utilidade, e por demais indolentes para adotarem um modo criterioso
de tratamento.
§229. Por outro lado, contradições, ânsia em dar explicações, correções e admoestações
rudes, bem como ceder e demonstrar fraqueza nas atitudes são impróprias com tais
pacientes; são igualmente modos perniciosos de tratar doenças mentais e emocionais.
Mas tais pacientes exasperam-se principalmente e queixam-se ainda mais quando
notam que há fraude, enganos e truques que podem notar. O médico e o enfermeiro
devem sempre fingir que os doentes estão no gozo completo das faculdades mentais. Se
possível todas as influências perturbadoras de seus sentidos e emoções devem ser
removidas; não há diversões para seus espíritos enuviados, não há distrações salutares,
meios de instrução, efeitos suavizantes causados por conversa, livros, entre outras
coisas, para a alma que sofre no corpo doente, não há fortalecimento para ela que não
seja a cura; é somente quando a saúde corporal melhora que raiam outra vez a
tranqüilidade e o conforto em suas mentes (*).
(*) O tratamento dos loucos furiosos e dos melancólicos só se pode realizar em uma
instituição especial para seu tratamento, mas não dentro do círculo familiar do
paciente.
§230. Se o remédio antipsórico escolhido para cada caso de doença mental ou emocional
for homeopaticamente adequado para o quadro fielmente traçado da doença, e se
houver um número suficiente dessa espécie de medicamento que sejam conhecidos
quanto a seus efeitos puros, a busca do remédio homeopático adequado é feita com a
maior facilidade, visto que o estado mental e emocional, que constitui o principal
sintoma de notar em tal paciente, é tão inequivocamente perceptível, que em breve darse-
á uma melhora tão grande, o que não poderia ser conseguido obrigando-se, por meio
de violência, ao paciente até matá-lo, que tome doses muito repetidas de todos os
outros medicamentos inadequados (alopáticos). Com efeito, posso confiantemente
afirmar, devido à minha grande experiência, que a vasta superioridade do sistema
homeopático sobre todos os outros métodos imagináveis de tratamento não é revelada
de forma mais triunfante que nas doenças mentais de longa duração, as quais
geralmente originam-se de males corporais, ou desenvolveram-se juntamente com estes.
§231. As doenças intermitentes merecem consideração especial, bem como as que
retornam em certos períodos (como o grande número de febres intermitentes, e as
afecções aparentemente não febris, que retornam intervaladamente como as febres
intermitentes), assim como as em que certos estados mórbidos se alternam a intervalos
incertos, com estados mórbidos de espécie diferente.
§232. As doenças alternantes são numerosas (*), mas todas pertencem à classe de
enfermidades crônicas; são geralmente uma manifestação de Psora desenvolvida, às
vezes, mas raramente complicadas com o miasma sifilítico, e, portanto podem, no
primeiro caso, ser curadas com remédios antipsóricos; no último caso, contudo,
alternam- se com anti-sifilíticos, como recomendei em minha obra sobre Doenças
crônicas.
(*) Dois ou três estados podem se alternar. No caso de duas doenças que se alternam,
como em certas dores que podem ocorrer persistentemente nas pernas e outras partes,
imediatamente após o desaparecimento de uma espécie de oftalmia, que mais tarde
aparece, logo que a dor nos membros tiver se extinguido momentaneamente; convulsões
e espasmos podem se alternar imediatamente com qualquer outra afecção do organismo
ou de parte deste; no caso de três estados se alternarem como numa indisposição
comum, com períodos de aumento aparente de saúde e exaltação incomum dos poderes
físicos e mentais (ex: alegria extravagante, atividade extraordinária do organismo,
excesso de bem-estar, apetite voraz, e, de modo muito inesperado, tristeza e melancolia,
disposição emocional hipocondríaca intolerável), perturbações de várias funções vitais,
como digestão e o sono aparecem, e tão repentinamente, dão lugar às perturbações
moderadas usuais, bem como a diversos outros estados alternantes. Quando surge o
novo estado, não há, muitas vezes, vestígio do estado anterior; em outros casos
somente restam vestígios ligeiros; quando ocorre o outro estado, poucos sintomas do
estado precedente permanecem no aparecimento e durante a continuação do segundo.
Por vezes, os estados mórbidos alternantes são de natureza bem oposta, como, por
exemplo, a melancolia que se alterna periodicamente com insanidade alegria ou frenesi.
§233. As moléstias periódicas típicas são aquelas em que um estado mórbido de caráter
invariável retorna em períodos mais ou menos iguais, enquanto o paciente está,
aparentemente, gozando de perfeita saúde, e cessam em um período igualmente mais ou
menos fixo; isto se observa nos estados mórbidos aparentemente não febris que surgem
e desaparecem de modo periódico, bem nos de caráter febril, quais sejam, as inúmeras
variedades de febres intermitentes.
§234. As doenças aparentemente não febris, típicas, que voltam periodicamente,
observadas em um só paciente de cada vez (geralmente não ocorrem esporadicamente ou
em epidemias) sempre pertencem às doenças crônicas, principalmente às puramente
psóricas, e só muito raramente se complicam com sífilis e, às vezes é necessário
empregar como remédio intermediário, uma pequena dose de solução potencializada de
casca de cinchona, a fim de extinguir inteiramente o seu tipo intermitente.
§235. Nas febres intermitentes (*) que ocorrem de modo esporádico ou epidêmico (não
as endemicamente situadas em zonas pantanosas), freqüentemente encontramos cada
crise composta igualmente de dois estados opostos alternantes (frio, calor - calor, frio),
e, mais freqüentemente, ainda, de três (frio, calor, transpiração). Portanto, o remédio
escolhido para eles, (comuns, não antipsóricos) devem ser (e os desta classe são os mais
eficazes) capazes de produzir no organismo são dois (ou todos os três) estados
alternantes semelhantes, ou devem então corresponder por semelhança de sintomas, na
forma mais homeopática possível, ao estado alternante mais forte, marcado e mais
peculiar (ou ao estágio de frio, ou ao de calor, ou ao de transpiração, cada um com os
seus sintomas secundários, conforme um ou outro estágio alternante for o mais forte e
peculiar); mas os sintomas da saúde do paciente durante os intervalos em que não tem
febre devem constituir a melhor indicação para o remédio homeopático mais apropriado
(**).
(*) A patologia até agora em voga, que ainda está no estágio da influência irracional,
reconhece apenas uma única febre intermitente, a qual é, igualmente, denominada febre
de frio, sem admitir variedades, a não ser as constituídas pelos diferentes intervalos em
que ocorrem as crises, cotidiana, terçã, quartã, etc. Mas há diferenças muito maiores
entre elas de que as marcadas pelos períodos de sua freqüência; há variedades
incontáveis dessas febres, algumas das quais não podem jamais ser denominadas febres
de frio, pois suas crises consistem apenas em calor; outras, além disso, caracterizam-se
somente pelo frio, com ou sem transpiração subseqüente; há ainda outras que
apresentam resfriamento superficial geral, com sensação de calor por parte do paciente,
ou enquanto o corpo está frio externamente, o paciente sente frio; outras, ainda, em
que uma crise consiste inteiramente em calafrio, ou simples frialdade, seguidos de
intervalos normais, ao passo que o outro consiste meramente em calor, seguido, ou não,
de transpiração; outros há, ainda, em que primeiro vem à sensação de calor, e depois
que esta passar uma crise de frio; há as em que após uma fase de frio ou calor surge
apirexia, e então a transpiração vem como uma segunda crise, por vezes durante horas
de frio; há também os casos em que não vem qualquer transpiração, e, outrossim, outros
em que toda a crise consiste apenas em transpiração abundante, sem qualquer sensação
de frio ou de calor, ou em que a transpiração só ocorre durante a fase de calor; e há,
ainda, outras diferenças sem conta, especialmente quanto aos sintomas secundários,
como dor de cabeça de tipo peculiar, mau gosto na boca, náusea, vômitos, diarréia,
falta ou excesso de sede, dores peculiares no corpo ou nos membros, sono perturbado,
delírios, alterações de humor, espasmos, etc., durante, ou após os períodos de frio, de
calor e de transpiração e inúmeras outras variedades. Todas estas são evidentemente
febres intermitentes de espécies muito diferentes, cada uma delas, como era de esperar,
naturalmente, requerendo tratamento (homeopático) especial. Deve se admitir que
quase todas podem ser suprimidas mediante doses enormes de casca de quina e sua
preparação farmacêutica, o sulfato de quinino; isto é, sua faculdade de retornar
periodicamente (seu tipo) pode ser extinto por ele, mas os pacientes que sofreram de
febres intermitentes para as quais a cinchona não é adequada, como ocorre com todas
as febres intermitentes que assolam países inteiros e mesmo distritos montanhosos, não
recuperam a saúde pela extinção do tipo de febre. Não! Ao contrário, agora adoecem de
outro modo, e, o que é pior, de modo mais grave ainda do que antes; são afetados por
discrasias peculiares, crônicas, da casca de cinchona, e dificilmente podem se
restabelecer mesmo com tratamento prolongado pelo verdadeiro sistema medicina, e
mesmo assim, isto é o que se chama curar!
(**) O Conselheiro de Estado, Barão Von Bonninghausen, que tem prestado mais
serviços ao nosso sistema benéfico de medicina que qualquer outro de meus discípulos,
elucidou da melhor forma esta questão, que requer tanto cuidado, e facilitou a escolha
do remédio eficiente para as várias epidemias de febre, em sua obra intitulada
Versucheiner homoopathischen Therapie der Wechselfieber, (Ensaio de uma
terapêutica homeopática das febres intermitentes) 1833, Münster bei Regensberg.
§236. O momento mais eficaz e propício para dar o medicamento nestes casos é
imediatamente ao término da crise, ou logo após, assim que o paciente tiver se
recuperado de seus efeitos; terá então tempo de realizar todas as alterações no
organismo, necessárias para o restabelecimento da saúde, sem qualquer distúrbio sério
ou comoção violenta, ao passo que a ação de um medicamento, por mais
especificamente apropriado que seja se dado imediatamente antes da crise, coincide com
o retorno natural da doença e causa uma reação tal no organismo que um ataque desta
natureza produz, no mínimo, uma grande perda de força, se não acarretar perigo de
vida (*). Mas se o remédio for dado imediatamente após o fim da crise, isto é, no
momento em que começou o período apirético, e bastante tempo antes do início da nova
crise, então a força vital do organismo está nas melhores condições possíveis para se
deixar ser suavemente alterada pelo remédio, e assim recuperar seu estado de saúde.
(*) Isto se observa nos casos fatais, não raros, em que uma dose moderada de ópio dada
durante o período de frio rapidamente produz a morte dos pacientes.
§237. Mas se a fase de apirexia for muito curta, como ocorre em algumas febres muito
graves, ou se for perturbada por alguns sofrimentos posteriores da crise anterior, a dose
do medicamento homeopático deve ser administrada quando a transpiração começa a
ceder, ou quando os outros fenômenos subseqüentes do término da crise começam a
diminuir.
§238. Geralmente o medicamento empregado uma única vez impede que voltem os
ataques e restitui a saúde, mas, na maioria dos casos, deve se dar outra dose após cada
crise. Melhor ainda, quando o caráter dos sintomas não houver se alterado, doses do
mesmo medicamento administradas de acordo com a mais recente descoberta de
repetição de doses (v. nota do 270), podem ser dadas sem dificuldade, dinamizando-se
cada dose sucessiva (agitando-se de 10 a 12 vezes o frasco que contém a substância
medicinal). Contudo, surgem, às vezes, casos, embora raros, em que a febre intermitente
retorna após diversos dias em que o paciente sentiu bem-estar. Este retorno da mesma
febre após um intervalo de saúde só é possível quando o princípio nocivo que primeiro
originou a febre está, ainda, agindo no convalescente, como é o caso nas regiões
pantanosas. Neste caso a cura permanente só poderá, muitas vezes, realizar-se quando
o paciente se afastar desta causa, (procurando um lugar montanhoso, se a causa for
uma febre dos pântanos).
§239. Como quase todo medicamento causa, em sua ação pura, uma febre especial
peculiar, e mesmo uma espécie de febre intermitente com seus estados alternantes,
poderemos encontrar medicamentos homeopáticos para todas as numerosas variedades
de febres intermitentes naturais, e, para um grande número de tais febres, mesmo na
quantidade razoável de medicamentos já experimentados no indivíduo são.
§240. Mas se o remédio, que se verifica ser o específico homeopático para uma epidemia
de febre intermitente, não efetuar uma cura perfeita em um ou outro paciente, se não
for a influência pantanosa que estiver impedindo a cura, então é sempre o miasma
psórico latente que a obsta, e neste caso devem se empregar medicamentos antipsóricos
até se obter alívio completo.
§241. As epidemias de febre intermitente, sob condições em que nenhuma é endêmica,
são da natureza das doenças crônicas, compostas de uma única crise aguda; cada
epidemia é de caráter peculiar, uniforme, comum a todos os indivíduos atacados, e
quando este caráter se encontra na totalidade dos sintomas comuns a todos, leva-nos à
descoberta do remédio (específico) homeopático adequado para todos os casos, que é
quase universalmente utilizável nos pacientes de saúde mediana antes da epidemia,
isto é, que não sofriam crônicamente de Psora desenvolvida.
§242. Se as primeiras crises de uma epidemia de febre intermitente, permanecerem
incuradas, ou se os pacientes tiverem sido enfraquecidos mediante tratamento alopático
inadequado, então a Psora inerente que infelizmente existe em tantas pessoas, embora
em estado latente, desenvolve-se, assume a forma de febre intermitente, e, com todas as
aparências da febre intermitente epidêmica, continua o seus cursos como se fosse à
epidêmica, de modo que o medicamento, que teria sido útil nas primeiras crises
(raramente um remédio antipsórico), não é mais conveniente e não tem mais utilidade.
Temos, neste caso, de tratar apenas uma febre intermitente psórica, e esta geralmente é
vencida com doses mínimas e pouco repetidas de enxofre, ou de Hepar sulphuris, em
alta potência.
§243. Nas febres intermitentes que atacam uma pessoa isolada, que não reside em
região pantanosa, deve-se em primeiro lugar, como no caso de males agudos em geral,
utilizar por alguns dias, outra classe de medicamentos (não antipsóricos); mas, se,
apesar disso, demorar-se a cura, sabemos que nos defrontamos com a Psora que está a
ponto de desenvolver- se, e só remédios antipsóricos podem efetuar cura radical.
§244. As febres intermitentes de forma endêmica em regiões pantanosas e lugares
sujeitos a inundações dão um grande trabalho aos médicos da velha escola. O homem
pode, em sua mocidade, habituar-se mesmo a lugares pantanosos e conservar-se em
perfeita saúde, desde que mantenha um regime impecável e seu organismo não se
submeta a subnutrição, fadiga ou práticas perniciosas. As febres intermitentes que lá
são endêmicas no máximo atacá-lo-iam quando de sua chegada em tal região, mas uma
ou duas doses diminutas de uma solução altamente potencializada de casaca de
cinchona, juntamente com um modo de vida regular, poderão restabelecer a sua saúde.
Os indivíduos que, apesar de fazerem bastante exercício físico, e seguirem um sistema
sadio de ocupação intelectual e regime corporal, não se curaram da febre intermitente
dos pântanos com uma ou poucas destas doses pequeníssimas de cinchona, nestas
pessoas, a Psora, esforçando-se para desenvolver-se, sempre se acha por trás da doença,
e sua febre intermitente não pode ser curada no lugar pantanoso sem tratamento
antipsórico (*). Ocorre, às vezes, que quando esses pacientes mudam-se sem demora do
local pantanoso para um lugar fresco e montanhoso, segue-se um restabelecimento
aparente (a febre os abandona) se não tiverem sido por demais atacados pela doença,
isto é, se a Psora não tiver se desenvolvido plenamente nelas, podendo,
conseqüentemente, retornar ao seu estado latente; contudo, jamais recuperarão saúde
perfeita sem tratamento antipsórico.
(*) Doses grandes, e freqüentemente repetidas, de casca de cinchona bem como os
remédios cinchônicos concentrados com o sulfato de quinina, têm, certamente, o poder
de livrar os doentes das crises periódicas da febre palustre; mas os enganados quanto a
sua cura, permanecem doentes de outro modo, freqüentemente com uma intoxicação
incurável de China (v. 276, nota).
§245. Tendo observado os cuidados a serem tomados durante o tratamento
homeopático nas diversas doenças, estudaremos os medicamentos e seu modo de
emprego, bem como o regime a ser seguido durante o seu uso.
§246. A melhora progressiva durante o tratamento é uma condição que, enquanto
perdurar, orienta para não fazer qualquer repetição na administração do medicamento,
pois todo o bem que o medicamento continua a fazer, apressa-se agora para o seu êxito.
Isto não é raro em condições agudas. Nas mais crônicas, às vezes, uma única dose de
um remédio homeopático produzirá, melhora gradual, lenta e progressiva em 40, 50, 60,
100 dias. Isso ocorre mais raramente, mas deve ser de grande importância para o
médico e para o paciente que, sendo possível, se reduza tal período à metade, uma
quarta parte, ou mesmo menos ainda, de modo que se obtenha uma cura rápida. Isso
pode ser obtido nas seguintes condições: em primeiro lugar, se o remédio escolhido for
inteiramente homeopático; em segundo lugar, se é altamente potencializado, diluído em
água e dado em pequenas doses, em intervalos definidos, para a realização mais breve
da cura, mas com o cuidado de que o grau de dinamização de cada dose seja um pouco
diferente da imediatamente anterior e seguinte, de forma que o princípio vital deve ser
alterado, provocando doença medicinal semelhante, e não seja levado a produzir
reações desagradáveis como sempre acontece (*) com doses não modificadas e repetidas
com grande rapidez.
(*) O que disse na quinta edição do Organon, em longa nota deste parágrafo, para
impedir estas reações indesejáveis de energia vital, foi tudo o que pude, com a
experiência que tinha então. Mas durante os últimos quatro ou cinco anos, todas estas
dificuldades foram vencidas por mim pelo meu método alterado, mais aperfeiçoado. O
remédio agora pode ser dado diariamente por meses a fio, se necessário, assim, após
haver usado durante uma ou duas semanas a dose mais fraca de potência, no
tratamento de doenças, crônicas, passa-se, para potências mais elevadas (iniciando-se
de acordo com o novo processo de dinamização, com o uso das potências mais altas).
§247. Não é prático repetir a mesma dose inalterada (*) de um medicamento. O
princípio vital não aceita tais doses inalteradas sem resistência, isto é, que outros
sintomas do remédio se manifestem, a não ser os semelhantes à doença a ser curada,
porque a primeira dose já realizou a alteração esperada no princípio vital, e uma
segunda dose inalterada, toda semelhante dinamicamente, não poderá mais, assim,
encontrar as mesmas condições da força vital. O paciente pode realmente adoecer de
outro modo ao receber outra dose não modificada, pois agora os sintomas do remédio
dado permanecem ativos, não tendo sido homeopáticos ao mal original, daí não se
poder realizar progresso em direção à cura, apenas uma verdadeira agravação do estado
do paciente. Mas se a dose seguinte for um pouco mais diferente de cada vez, isto é, um
pouco mais potencializada (269-270), então o princípio vital pode ser alterado sem
dificuldade pelo mesmo medicamento (diminuída a sensação da doença natural) e assim
aproximar-se a cura.
(*) Não devemos, mesmo com o remédio homeopático melhor escolhido, por exemplo, um
glóbulo da mesma potência que primeiro foi benéfica, deixar que o paciente tome uma
segunda ou terceira dose ingerida sem líquido. Da mesma forma, se o remédio foi
dissolvido em água e a primeira dose se revelou benéfica, uma segunda ou terceira dose,
ainda menor, do frasco que se acha imóvel, mesmo em intervalos de alguns dias, já não
mais seria benéfica, mesmo se a preparação primitiva tenha sido potencializada
agitando-se dez vezes, ou como sugeri mais tarde, apenas duas vezes, a fim de evitar
esta desvantagem. Porém, se modificarmos cada dose em seu grau de dinamização, não
haverá prejuízo na repetição mais freqüente das doses, mesmo que o medicamento fique
altamente potencializado devido a muitas sucussões.
§248. Com essa finalidade, potencializaremos outra vez a solução medicinal cada vez,
antes de ser tomada (*), com, 8, 10, 12 sacudidelas do frasco, da qual damos ao
paciente uma, ou progressivamente, diversas doses de colher das de chá, em doenças de
longa duração, todo dia, ou cada dois dias; nas doenças agudas, de duas em duas horas,
ou, até, de seis em seis, e, em casos muito urgentes, de hora em hora, ou com maior
freqüência. Assim, nas doenças crônicas, cada medicamento homeopático corretamente
escolhido, mesmo que sua ação seja de efeito prolongado, pode ser repetido diariamente
durante meses com êxito cada vez maior. Se a solução terminar (em 7 e 8 dias ou 14 e
15 dias), deve-se acrescentar à próxima solução do mesmo medicamento, se este ainda
for indicado, um ou (embora raramente) diversos glóbulos de potência mais elevada,
com a qual prosseguimos por tanto tempo quanto for necessário ao paciente, para
experimentar uma melhora contínua, sem encontrar nenhuma perturbação que não
tenha jamais sentido em sua vida. Pois, se tal acontecer, se o restante da doença surgir
em um grupo de sintomas modificados, outro medicamento mais homeopaticamente
semelhante deve ser escolhido, em lugar do último e administrado nas mesmas doses
repetidas, lembrando-se, de modificar a solução de cada dose com vigorosas sacudidas,
mudando, assim, seu grau de potência e aumentando-a um pouco. Por outro lado, caso
sobrevenham, durante a repetição quase diária do medicamento homeopático adequado,
perto do fim do tratamento de um mau crônico, as chamadas agravações homeopáticas
(161) com as quais o restante dos sintomas mórbidos parecem aumentar um pouco outra
vez (a doença medicinal, semelhante à original, agora se manifesta isoladamente),
então, neste caso, as doses devem ser ainda mais reduzidas e repetidas em intervalos
mais longos, ou mesmo suspensas durante vários dias, a fim de se verificar se a
convalescença ainda necessitará mais ajuda medicinal. Os sintomas aparentes,
medicamentosos, causados pelo excesso de medicamento homeopático logo
desaparecerão, retornando a saúde. Se usar apenas um recipiente, por exemplo, uma
dracma de álcool diluído, no tratamento, em que se coloca e dissolve mediante
sacudidas, um glóbulo do remédio que se deve usar por aspiração nasal cada dois, três
ou quatro dias, também este deve ser bem agitado de oito a dez vezes antes de aspirar.
(*) Feita em 40, 30, 20, 15 ou 8 colheres de sopa de água à qual se acrescenta um pouco
de álcool ou um pedaço de carvão de lenha para preservá-la. Se empregar carvão,
suspende-se o mesmo por um fio no recipiente, tirando-se ao se agitar. A solução do
glóbulo medicinal (e raramente é necessário usar mais de um glóbulo) de um remédio
inteiramente potencializado em grande quantidade de água é dispensável, se fizer uma
solução de apenas 7 a 8 colheres de sopa de água, e após se haver agitado o recipiente
adequadamente, tirar-se deste uma colher de sopa da solução colocando-se em um copo
de água (contendo cerca de 7 ou 8 colheres de sopa), agitar-se adequadamente, dando,
então, uma dose ao paciente. Se este se mostrar excessivamente agitado e sensível,
pode-se colocar mais uma colher de sopa desta solução, em um segundo copo de água,
mexendo-se bem, podendo-se dar em doses de colher das de chá (ou dar-se mais). Há
pacientes de sensibilidade tal que podem necessitar um terceiro ou quarto copo,
preparado de modo semelhante. Deve-se preparar cada copo assim fresco todos os dias.
O glóbulo da alta potência é melhor esmagado com alguns grãos de açúcar de leite que o
paciente pode colocar no recipiente, sendo dissolvido na quantidade de água necessária.
Podia quase dizer que o remédio homeopático melhor escolhido poderia remover melhor
da força vital a perturbação mórbida, e nas doenças crônicas, extingui-la somente se
aplicado em diversas formas diferentes.
§249. Se o medicamento durante o seu efeito, produzir sintomas novos e perturbadores,
não pertencentes à moléstia a ser curada, não será capaz de realizar verdadeira
melhora (*) e não pode ser considerado homeopaticamente selecionado; se a agravação
for considerável, deverá ser parcialmente neutralizado, com a maior brevidade, com um
antídoto antes de se dar o segundo medicamento escolhido com mais exatidão quanto à
semelhança de ação; se os sintomas perturbadores não forem muito violentos, o próximo
medicamento deve ser dado imediatamente, a fim de substituir o inadequadamente
escolhido (**).
(*) A dose do medicamento homeopático especialmente adequado quase não pode ser
preparada tão pequena para produzir uma melhora sensível na doença para a qual é
apropriado (161-279); agiríamos imprudente e nocivamente se, quando não houvesse
melhora, ou houvesse muito pequena, sobreviesse uma piora, repetíssemos ou mesmo
aumentássemos a dose do mesmo medicamento, como se faz no velho sistema, na
esperança de que não foi eficaz devido à sua pequenez (dose fraca demais). Cada
agravação pelo aparecimento de novos sintomas, quando nada ocorreu de desfavorável
no regime físico ou mental, invariavelmente prova que o medicamento antes dado foi
inadequado, mas jamais indica que a dose foi fraca demais.
(**) O médico bem-informado e prudente jamais se verá em situação de precisar dar um
antídoto, se começar a dar o medicamento escolhido na menor dose possível. Uma dose
semelhante de um remédio melhor escolhido servirá plenamente para normalizar o
estado do paciente.
250. Quando o médico investiga com precisão o estado da doença, e evidenciar, nos
casos urgentes, após passarem-se apenas seis, oito ou doze horas, que fez uma escolha
má do medicamento, e que o estado do paciente está perceptivelmente piorando, pela
ocorrência de novos sintomas, ele deve corrigir o erro, escolhendo um medicamento
homeopático que não seja apenas toleravelmente adequado, mas o mais apropriado
possível para o estado da doença que está tratando (167).
§251. Há alguns medicamentos (como Ignatia, Bryonia e Rhus, e, às vezes, a
Belladonna) cujo poder consiste principalmente em ações alternantes, uma espécie de
sintomas de ação primária que são em parte opostos entre si. Caso o médico julgue que
não houve melhora, mesmo após uma escolha medicamentosa adequada, na maioria dos
casos atingirá logo seu objetivo, se der, nos males agudos, mesmo dentro de poucas
horas, nova dose, igualmente pequena, do mesmo remédio (*).
(*) Como descrevi com maiores detalhes na introdução à "Ignatia" (no segundo volume
da Matéria Médica Pura).
§252. Quando considerar, nas doenças crônicas, que o remédio homeopático melhor
escolhido não acarreta uma melhora, é isto sinal de que a causa que mantém o mal
ainda persiste, e de que há alguma circunstância no modo de vida do paciente, ou na
situação em que se encontra que deve ser removida a fim de que possa realizar-se uma
cura permanente.
§253. Entre os sinais, especialmente nas doenças agudas, poderá haver ligeira melhora
ou agravação, o qual não é perceptível a todos, porém o estado de espírito e todo o
comportamento do paciente serão a orientação. No caso de melhora, por menor que seja,
observa-se maior conforto, calma e despreocupação, melhor humor, uma espécie de
retorno ao normal. No caso de agravação, por menor que seja, observamos o contrário;
tensão, desconforto de espírito, da mente, observáveis na atitude geral, nos menores
gestos e ações, que podem facilmente ser percebidos mediante observação cuidadosa,
mas não podem ser descritos com palavras (*).
(*) Os sinais de melhora do humor ou da mente só podem ser esperados depois de algum
tempo da ação medicamentosa; uma dose desnecessariamente grande, mesmo do remédio
homeopático mais conveniente, age de modo excessivamente violento, e produz primeiro
uma perturbação física e mental muito grande e duradoura para permitir-nos verificar
logo as melhoras do estado destas últimas; sem falar das outras desvantagens
sobrevindas pelo emprego de doses muito fortes (276). Devo observar aqui que esta
regra tão essencial é principalmente transgredida por presunçosos novatos em
homeopatia, e por médicos da velha escola, convertidos para a homeopatia. Por antigos
preconceitos, essas pessoas abominam as diluições mais baixas de medicamentos, e
deixam de experimentar as grandes vantagens que milhares de experiências têm
demonstrado ser o mais salutar; não podem obter tudo o que a homeopatia é capaz de
realizar, daí não poderem ser considerados seus adeptos.
§254. Os sintomas novos ou mais desenvolvidos, ou, ao contrário, a diminuição dos
primitivos sem qualquer acréscimo de outros, logo dissipará todas as dúvidas da mente
do clínico observador e atento, em relação à agravação ou melhora, embora haja entre
os pacientes, aqueles que são incapazes de informar sobre esta melhora ou agravação,
ou não querem confessar.
§255. Ao seguirmos todos os sintomas enumerados em nossas notas sobre a doença,
poderemos observar que não surgiram novos sintomas e que nenhum dos velhos
sintomas se agravou. Se tal for o caso, e se já se observou melhora física e mental, o
remédio deve ter produzido uma diminuição positiva na doença, ou, se não houver se
passado tempo suficiente para tal, isso breve ocorrerá. Se ainda, a melhora tardar
excessivamente, deve-se a algum erro de conduta por parte do paciente, ou a outras
circunstâncias perturbadoras.
§256. No caso do paciente mencionar sintomas novos de importância (sinais de que o
medicamento escolhido não foi estritamente homeopático), embora ele, de boa fé, nos
assegure que se sente melhor (como não é raro nos casos de tuberculose com lesões
exsudativas), não devemos acreditar nessas afirmativas, mas considerar seu estado
como se achando mais grave, o que logo se tornará evidente.
§257. O médico atento terá o cuidado de evitar tornar favoritos certos remédios que
tantas vezes teve oportunidade de usar com bons resultados. Se o fizer, certos remédios
de emprego mais raro, que teriam sido homeopaticamente mais adequados,
freqüentemente serão omitidos.
§258. O médico cuidadoso, não desprezará devido a pouca confiança, o uso dos
medicamentos que foram em certas ocasiões empregados com maus resultados, por
escolha errada, nem evitará seu emprego por outros motivos (desatentos), como, por
exemplo, o de que não foram homeopáticos para o caso que teve que tratar; só merece
preferência aquele medicamento que corresponde com maior exatidão, por semelhança, à
totalidade dos sintomas característicos, e que não devem interferir na sua escolha,
preconceitos mesquinhos.
§259. Considerando a pequenez da dose no tratamento homeopático, podemos
facilmente compreender que durante o tratamento, tudo o que possa ter qualquer ação
medicinal deve ser removido da dieta e do regime, a fim que a pequena dose não seja
perturbada por qualquer estimulante (*) medicinal estranho.
(*) Os tons mais suaves de uma flauta distante na calada da noite inspiraria a um
coração com sentimentos elevados, dissolvendo-o em êxtase religioso, porém serão
inaudíveis e impotentes em meio a gritos discordantes e ruídos diurnos.
§260. A investigação de obstáculos à cura será mais necessária no caso de pacientes de
males crônicos, pois seus males são geralmente agravados por tais influências nocivas e
outros erros causadores de moléstias, na dieta e regime, que freqüentemente passam
despercebidos (*).
(**) Café, chá da índia e de outras ervas, cerveja preparada com substâncias vegetais
medicinais inadequadas ao estado do paciente; os chamados licores finos feitos com
aromáticos medicinais; ponches de quaisquer espécies; chocolate aromático; águas
aromáticas e perfumes de diversas espécies, flores muito perfumadas no quarto; pós e
essências dentais e sachets perfumados, pratos e molhos altamente condimentados,
bolos e gelados condimentados; vegetais medicinais crus em sopas; pratos de ervas,
raízes e talos de plantas que possuem propriedades medicinais, aspargos longos e
pontas verdes, lúpulo; aipo, cebola, queijos velhos e carnes em estado de decomposição
(como carne e gordura de porco, pato e ganso, ou vitela muito nova ou carnes azedas),
devem certamente ser negados aos pacientes, pois estes devem evitar quaisquer excessos
na alimentação, no uso de açúcar e sal, bem como bebidas espirituosas não diluídas em
água, quartos quentes, roupas de lã diretamente sobre a pele, vida sedentária em
recintos fechados, ou abuso de exercícios passivos (como equitação, dirigir carruagens,
exercitar-se em balanços), amamentação prolongada, sestas prolongadas, ficar acordado
até tarde da noite, falta de limpeza, práticas anormais, excitação causada pela leitura
de livros obscenos, ler deitado, onanismo ou relações sexuais imperfeitas ou suprimidas
de modo a evitar concepção, ataques de ira, pesar ou mortificações, paixão pelos jogos,
esforço demasiado da mente ou do corpo, especialmente após as refeições, morar em
lugares pantanosos, quartos úmidos, levar vida de penúria, etc. Todas estas coisas
devem, tanto quanto possível, ser evitadas ou removidas, a fim de que não de impeça
ou impossibilite a cura. Alguns de meus discípulos parecem aumentar sem necessidade
as dificuldades da dieta dos pacientes proibindo-lhes o uso de muitas outras coisas
toleravelmente indiferentes, o que não é recomendável.
§261. O regime mais apropriado, durante o emprego de medicamentos nos males
crônicos consiste na remoção de tais obstáculos à cura, e, quando necessário, em dar o
inverso: recreação moral e intelectual, exercício ativo do ar livre em quase todas as
estações (diariamente: passeios, trabalho manual ligeiro), alimentos e bebidas não
medicinais adequadas e nutritivas, etc.
§262. Nas doenças agudas, exceto em casos de alienação mental, o sentido aguçado da
faculdade preservadora da vida, determina de modo tão claro e preciso, que o médico só
tem que pedir que os amigos e auxiliares não ponham obstáculos à frente desta voz da
natureza, recusando qualquer coisa que o paciente deseja no que respeita a alimento, ou
tentando persuadi-lo a ingerir algo prejudicial.
§263. O desejo do paciente que sofre de mal agudo, por um alimento ou bebida, é de
ingerir coisas que lhe dêem alívio paliativo; a rigor não são de caráter medicinal,
servindo apenas para satisfazer um desejo. Os pequenos obstáculos que a satisfação
deste desejo, em bases moderadas, poderia oferecer, à cura radical da doença (*), serão
amplamente compensados e vencidos pelo poder do remédio homeopaticamente
adequado, bem como pela satisfação resultante de tomar o que tanto queria. Do mesmo
modo, nos males agudos, a temperatura do quarto, e o calor ou frescor das cobertas
devem estar exatamente de acordo com o desejo do paciente. Ele deve estar a salvo de
quaisquer preocupações e emoções excitantes.
(*) Isto, no entanto, é raro. Assim, por exemplo, nas doenças inflamatórias, em que o
acônito é tão indispensável, e cuja ação seria destruída pela ingestão de vegetais
ácidos, o desejo do paciente é quase sempre de água pura e fria, apenas.
§264. O verdadeiro médico deve ter em mão medicamentos os mais legítimos e mais
ativos, de modo a contar com a sua força curativa; deve saber ele mesmo julgar de sua
legitimidade.
§265. Deve ser para ele uma questão de consciência estar sempre plenamente
convencido de que o paciente toma o medicamento adequado, devendo dar ao paciente o
medicamento corretamente preparado, aliás, por suas próprias mãos (*).
(*) Para chegar a manter este importante princípio fundamental de minha doutrina,
suportei muitas perseguições desde o início de sua descoberta.
§266. As substâncias pertencentes aos reinos animal e vegetal possuem suas qualidades
medicinais em seu estado mais perfeito quando em estado cru (*).
(*) Todas as substâncias animais e vegetais cruas têm um poder medicinal maior ou
menor, sendo capazes de alterar a saúde do homem, cada uma de sua maneira peculiar.
As plantas e animais empregados como alimento pelas nações esclarecidas têm esta
vantagem sobre todas as outras, a de que contêm um maior número de constituintes
nutritivos; em relação aos seus poderes medicinais, quando ingeridas cruas, serão
diminuídos pelos processos culinários a que são submetidas ao serem cozidas para uso
doméstico, espremendo-se seus sucos perniciosos (como ocorre com a raiz de mandioca,
da América do Sul), pela fermentação da farinha de cereais e da massa de farinha para
fazer-se pão, chucrute preparado sem vinagre e pepinos em conserva), defumado, e pela
ação do calor (fervendo, assando ou tostando), pelo que as partes medicinais de muitas
destas substâncias são em parte destruídas e esgotadas. Acrescentando-se sal
(salmoura) e vinagre (molhos, saladas) as substâncias animais e vegetais certamente
perdem muito de suas qualidades medicinais indesejáveis, embora resultem outras
desvantagens. Mesmo as plantas que possuem em maior dose poderes medicinais,
perdem-se em todo ou em parte pelos processos seguintes: mediante dissecação perfeita,
todas as raízes das diversas espécies de íris, de cocleária, das diferentes espécies de
árum, e de peônias, perdem quase toda a sua virtude medicinal; o suco das plantas de
maior virulência muitas vezes torna-se uma massa inerte, semelhante ao piche, em
virtude do calor empregado ao preparo dos extratos ordinários; apenas deixando-se
ficar algum tempo, o suco espremido das plantas mais mortais torna-se muito fraco
(mesmo a uma temperatura atmosférica moderada, sofre, em pouco tempo, a
fermentação alcoólica, perdendo, assim, grande parte de seu poder medicinal, e
imediatamente depois da fermentação pútrida e ácida, pela qual perde todas as suas
propriedades medicinais peculiares; a fécula que é, então, depositada, se bem lavada, é
inócua, como a goma comum. Pela transudação que ocorre quando um grande número
de plantas verdes se acham superpostas, perde-se a maior parte de suas propriedades
medicinais.
§267. Tomamos conhecimento dos poderes das plantas indígenas e das que podem ser
obtidas frescas, de forma mais completa e certa, misturando seu suco recém extraído,
imediatamente, com partes iguais de álcool de força suficiente para queimar em uma
lâmpada. Depois que isto permaneceu por um dia e uma noite em um frasco bem
arrolhado, havendo-se depositado as matérias fibrosas e albuminosas, o líquido claro
que fica por cima é decantado para uso medicinal (*). Toda a fermentação do suco
vegetal será então impedida pelo álcool com ele misturado, e todo o poder medicinal do
suco vegetal é assim retido (perfeito e inalterável) para sempre mantendo-se a
preparação em frasco bem arrolhados e lacrados com cera para impedir a evaporação, e
mantê-lo protegido da luz solar (**).
(*) Buchholz (Taschenb. F. Scheidek. U. Apoth. a. d. J., 1815, Weimar, Abth. I vi)
garante a seus leitores (e seu revisor no Leipziger Literaturzeitung, 1816, No. 82, não
o contradiz) que para este excelente modo de preparar medicamentos damos graças à
campanha da Rússia, da qual foi (em 1812) importado para a Alemanha (1813). De
acordo com a nobre prática de muitos alemães, de serem injustos para com seus próprios
compatriotas, ele oculta o fato de que esta descoberta e todas aquelas instruções, que
cita em minhas próprias palavras, da primeira edição do Organon de Medicina
Racional, 230 e nota, procedem de mim, e que fui eu quem primeiro publicou-as ao
mundo dois anos antes da campanha da Rússia (o Organon saiu em 1810). Certas
pessoas atribuíram a origem de uma descoberta antes aos desertos da Ásia do que a
algum alemão a quem caiba a honra. O tempora! O mares! Certamente já se empregou o
álcool alguma vez antes desta para se misturar com sucos vegetais, por exemplo, para
preservá-los por algum tempo antes de fazer seus extratos, mas jamais para administrálos
nessa forma.
(**) Embora partes iguais de álcool e suco recentemente espremido sejam geralmente a
proporção mais adequada para permitir a deposição das matérias fibrosas e
albuminosas, requer-se, contudo, para plantas que contenham muito muco grosso (por
exemplo, Symphytum officinale, Viola tricolor, etc.,), ou excesso de albumina (por
exemplo, Aethusa, Solanum nígrum, etc.), uma proporção dupla de álcool para esse fim.
Plantas muito deficientes em suco, como Oleander, Buxus, Taxus, Ledum, Sabina,
etc..., devem primeiramente ser socadas até se tornarem uma pasta fina, sendo então
mexidas com uma dose dupla de álcool, de modo que o suco possa se combinar com ele, e
sendo extraído com álcool, possa ser espremido; estes últimos podem também, quando
secos, ser trazidos a uma milionésima trituração com açúcar de leite, sendo, então,
ainda mais diluídos e potencializados (v. 271).
§268. As outras plantas, cascas, sementes e raízes exóticas, que não podem ser obtidas
frescas, jamais serão empregadas pelo médico pulverizadas, confiando que estejam
aptas para uso; este deverá primeiro certificar-se de sua genuinidade em seu estado cru,
antes de fazer delas qualquer uso medicinal (*).
(*) A fim de preservá-las no estado pulverizado, a precaução, até agora geralmente
omitida pelos farmacêuticos, é necessária, já que, negligenciadas, não podem ser
preservadas sem se alterarem, mesmo em frascos bem fechados. As substâncias ainda
inteiras, cruas, embora perfeitamente secas, ainda contêm como condição indispensável
de sua contextura, certa quantidade de umidade, que realmente não impede que a droga
não pulverizada permaneça tão seca quanto é necessário para preservá-la de sofrer
alteração, mas que é demasiada para o estado de finamente pulverizada. A substância
animal ou vegetal que em seu estado integral achava-se perfeitamente seca dá,
portanto, quando finamente pulverizada, um pó um tanto seco, que, sem se estragar e
mofar rapidamente, não pode ainda ser preservado em frascos fechados, sem que antes
se elimine esta umidade supérflua. Isto se consegue melhor espalhando-se o pó em um
pires de estanho de bordas levantadas, que flutua em um vaso cheio de água fervente
(isto é, em banho-maria), e mexendo-se, e secando-se a tal ponto, que todas as suas
pequenas partes não mais se agrupam em blocos, mas qual areia seca e fina, facilmente
separam-se, transformando-se logo em pó. Neste estado de secura os pós finos podem
ser guardados para sempre inalterados em frascos bem fechados e selados, com todos os
seus poderes medicinais originais completos, inalteráveis, sem mofar ou bichar; e são
melhor preservados quando os frascos são protegidos contra a luz do dia (em caixas,
estantes, caixotes cobertos). Se não forem encerradas em vasos impermeáveis, nem
preservadas do acesso da luz do sol e do dia, todas as substâncias animais e vegetais,
com o tempo, perdem gradativamente, cada vez mais, seu poder medicinal, o que ocorre
mesmo em seu estado integral, mas ainda mais se pulverizadas.
§269. O método homeopático desenvolveu, a um grau até agora nunca visto, os poderes
medicinais das substâncias cruas, mediante um processo que lhe é peculiar, e que até
agora jamais foi tentado, obtendo grande eficácia (*1), mesmo os que, no estado cru,
não dão provas da menor ação medicamentosa sobre o corpo humano. Esta mudança
nas qualidades dos corpos naturais desenvolve os poderes dinâmicos (11), latentes, até
agora despercebidos, como se estivessem adormecidos (*2), ocultos, que afetam o
princípio vital, e alteram o bem-estar da vida animal (*3). A mudança é obtida por
ação mecânica nas suas menores partículas, esfregando e sacudindo (com o acréscimo de
uma substância indiferente sêca ou líquida, separam-se uma da outra). Este processo
chama-se dinamização (desenvolvimento do poder medicinal) e os produtos são
dinamizações (*4) ou potências, em graus diversos.
(*1) Muito antes desta minha descoberta, a experiência havia mostrado várias
mudanças que poderiam ser realizadas em diversas substâncias naturais, por meio de
fricção, por exemplo, temperatura média ou elevada, fogo, desenvolvimento de odor em
corpos inodoros, magnetização do aço, e assim por diante. Mas todas estas
propriedades produzidas por fricção relacionavam-se apenas a coisas físicas e
inanimadas, enquanto que há uma lei da natureza, pela qual as mudanças fisiológicas
e patogenéticas ocorrem no organismo vivo, por meio de forças capazes de alterar a
matéria crua das drogas, mesmo nas que jamais mostraram propriedades medicinais.
Isto é produzido triturando-se e agitando-se, mas desde que se empregue, em certas
proporções, um veículo indiferente. Esta maravilhosa lei física, especialmente,
fisiopatogênica da natureza, não havia sido descoberta antes do meu tempo. Não é de
admirar, portanto, que os estudantes atuais da natureza e médicos (que até agora a
desconhecem), não podem ter fé nos poderes mágicos curativos das doses mínimas de
medicamentos preparados de acordo com as regras homeopáticas (dinamizadas).
(*2) O mesmo se verifica numa barra de ferro ou aço em que um vestígio adormecido da
força magnética oculta não pode ser reconhecido em seu interior. Ambas, após serem
terminadas na forja, erguem-se, repelem o pólo norte de uma agulha magnética com a
extremidade inferior e atraem o pólo sul, ao passo que a extremidade superior
apresenta-se como o pólo sul da agulha magnética. Mas isto é apenas uma força
latente; nem mesmo as partículas mais finas de ferro podem ser atraídas
magneticamente, ou seguras a cada uma das extremidades de tal barra. Só depois que
esta barra de aço for dinamizada, esfregando-se com uma lima cega em apenas uma
direção, tornar-se-á ela um verdadeiro e poderoso ímã ativo, capaz de atrair ferro e aço
e, por simples contato comunica a outra barra de aço, mesmo a certa distância, força
magnética, o que se dá em grau tanto maior quanto mais se esfregar. Do mesmo modo,
triturar uma substância medicinal e sacudir sua solução (dinamização,
potencialização) desenvolve seus poderes medicinais ocultos em seu interior,
manifestando-os cada vez mais, por assim dizer, espiritualizando a própria substância
material.
(*3) Por causa disto, referem-se apenas ao aumento e desenvolvimento maior de seus
poderes para causar alterações na saúde de animais e homens, se estas substâncias
naturais, forem aproximadas à fibra sensitiva viva ou trazidas em contato com ela
(mediante ingestão e olfação). Assim como uma barra magnética, principalmente se sua
força aumentada (dinamizada) pode mostrar poder magnético somente em uma agulha
de aço que esteja próxima ou em contato com ela. O aço propriamente dito permanece
inalterado em suas propriedades químicas e físicas remanescentes e não pode produzir
alterações em outros metais (como, por exemplo, bronze), e tampouco os medicamentos
dinamizados podem produzir efeitos em coisas inanimadas.
(*4) Ouvimos todo dia que as potências medicinais homeopáticas são chamadas de
meras diluições, quando são o contrário, um verdadeiro aumento das substâncias
naturais, que trazem à luz e revelam os poderes medicinais específicos ocultos que
convêm, sendo despertados esfregando-se e sacudindo-se. O auxílio de um meio de
atenuação não medicinal escolhido, é apenas uma condição secundária. A mera
diluição, por exemplo, a solução de um grão de sal em água; o grão de sal desaparecerá
com a diluição em água demasiada, e jamais desenvolverá poder medicinal que,
mediante nossa dinamização bem preparada, é elevado a um poder maravilhoso.
§270. Para se obter a melhor maneira desse desenvolvimento da potência, uma pequena
parte da substância a ser dinamizada, por exemplo, um grão, é triturado três horas com
três vezes cem grãos de açúcar de leite, de acordo com o método descrito abaixo (*1) até
a milionésima parte em forma pulverizada. Por motivos que damos abaixo, um grão
desse pó é dissolvido em 500 gotas de uma mistura de uma parte de álcool para quatro
de água destilada, da qual se põe uma gota em um frasco (*2). Feito isso, bate-se 100
vezes o frasco com uma mão contra um corpo dura, porém elástico (*3). Este é o
medicamento no primeiro grau de dinamização com o qual se pode umedecer (*4)
pequenos glóbulos de açúcar (*5) e espalhá-los sobre papel de filtro a fim de secar,
guardando-se em um frasco com o sinal (I) do grau de potência. Só se toma um desses
glóbulos (*6) para dinamização posterior, colocando-se em um segundo frasco (com
uma gota de água a fim de dissolvê-lo) e então em 100 gôtas de álcool de boa qualidade
e dinamizado da mesma forma com 100 sucussões violentas. Com esse líquido medicinal
alcoólico os glóbulos são novamente umedecidos, espalhados sobre papel de filtro e
secos ràpidamente, postos em frascos bem fechado e protegido do calor e da luz solar,
recebendo o sinal (II) da segunda potência. Seguindo desse modo, o processo até
alcançar a vigésima nona. Então, com 100 gotas de álcool mediante 100 sucussões,
forma-se um líquido alcoólico medicinal com o qual se dá o trigésimo grau de
dinamização aos glóbulos de açúcar secos devidamente umedecidos. Mediante essa
manipulação de drogas em estado bruto produzem-se preparações que só assim
alcançam a capacidade plena de afetar as partes atingidas do organismo doente. Desse
modo, mediante uma simples afecção de enfermidade semelhante artificial, a influência
da doença natural no princípio vital encerrado no interior do organismo é
neutralizada. Por meio desse processo mecânico, desde que realizado regularmente de
acordo com a técnica descrita acima, opera-se uma mudança na droga que em estado
bruto apresenta-se apenas como material, às vezes como matéria não medicinal; mas
por meio de uma dinamização cada vez maior, é alterada e sutilizada, enfim, como um
poder medicinal (*7), que, por si só, não cai em nossos sentidos, mas para o qual o
glóbulo medicinalmente preparado, seco, ainda mais quando dissolvido em água, tornase
o veículo, e assim manifesta o poder curativo dessa força invisível, no organismo
doente. (*8) Uma terça parte de cem grãos de açúcar de leite é colocada num recipiente
de porcelana vidrada, cujo fundo tornou-se áspero esfregando- se com areia fina e
úmida. Sobre este pó, coloca-se um grão de droga pulverizada a ser triturada (uma gota
de mercúrio, petróleo, etc.) O açúcar de leite empregado para a dinamização deve ser de
qualidade tão pura que se cristaliza de modo que venha a nós em forma de longas
barras. Por um momento, o medicamento e o pó são misturados com uma espátula de
porcelana e vigorosamente triturados, de seis a sete minutos, no recipiente cujo fundo
se tornou áspero, sendo então a massa raspada do fundo do recipiente durante três ou
quatro minutos, de modo a torná-la homogênea. Após isto, tritura-se do mesmo modo
de seis a sete minutos, sem se acrescentar nada mais, e novamente raspando-se de três a
quatro minutos, o que aderiu ao recipiente. A segunda terça parte do açúcar de leite é
agora acrescentada e misturada com a espátula, e outra vez triturada de seis a sete
minutos, ao que se segue a raspagem durante três ou quatro minutos, e a trituração,
sem mais nada se acrescentar, durante seis ou sete minutos. A última terça parte de
açúcar de leite é então acrescentada, misturada com a espátula e triturada, como antes,
seis ou sete minutos, unindo-se com o maior cuidado, raspando-se. O pó assim
preparado é posto em um frasco, arrolhando-se bem, protegido da luz solar direta, ao
qual se dá o nome da substância do primeiro produto, marcado 100. A fim de elevar
esse produto a 10.000, um grão do produto em pó /100 é misturado com a terça parte
de 100 grãos de açúcar de leite pulverizado, procedendo-se então como antes, mas cada
terça parte deve ser cuidadosamente triturada duas vezes, cada vez de modo completo,
durante seis ou sete minutos, raspando-se três ou quatro minutos antes da segunda e
última terça parte de açúcar de leite serem acrescentadas. Depois de cada terça parte,
procede-se da mesma maneira. Quando se houver terminado, o pó é colocado em um
frasco bem arrolhado e rotulado /10.000. Se, agora, acrescentar-se, da mesma maneira,
um grão deste último pó, e se se prepara do mesmo modo obter-se-á o milionésimo, isto
é, cada grão conterá um milionésimo da substância original. Portanto, tal trituração
dos três graus requer seis vezes de seis a sete minutos para triturar, e seis vezes de três
a quatro minutos para raspar, portanto, uma hora para cada grau. Depois de uma hora
dessa trituração do primeiro grau, cada grão conterá 1/100; do segundo 1/10.000; e no
terceiro 1/1.000. 000 da droga empregada (*). O gral, o pilão e a espátula devem ser
bem limpos antes de serem usados para outros medicamentos. Tendo sido bem lavados,
primeiro, com água morna, e seca, esses objetos, bem como a espátula, são postos em
uma caçarola de água fervente durante meia hora. Devemos tomar cuidado a ponto de
colocar estes utensílios sôbre carvões ardentes. (Hoje, passam-se no autoclave acima de
100 graus durante pelo menos meia hora.) (N. dos T.).
(*1) Estes são os três graus da trituração do pó seco, que, se efetuada corretamente será
um bom começo para a dinamização da substância medicinal.
(*2) O recipiente empregado para potencializar acha-se cheio até a altura de dois terços
de sua capacidade.
(*3) Talvez em um livro com capa de couro.
(*4) São preparadas por um confeiteiro, sob vigilância, com goma de açúcar, e os
pequenos glóbulos são libertados das partes finamente cobertas de pó, fazendo-os
passar por uma peneira. Passam então por um coador que permita somente a passagem
de 100 glóbulos, pesando apenas um grão, o tamanho mais útil para as necessidades de
um médico homeopata.
(*5) Pequeno vaso cilíndrico, com o formato de um dedal, feito de vidro, porcelana ou
prata, com uma pequena abertura no fundo em que se colocam os glóbulos para serem
dados como remédio. São umedecidos com um pouco de álcool medicinal dinamizado,
sacudidos e espalhados sobre papel de filtro, a fim de secarem rápidamente.
(*6) De acordo com as primeiras instruções, devia-se levar uma gôta do líquido de uma
potência menor para 100 gôtas de álcool para uma potencialização mais elevada. Esta
proporção do medicamento, de atenuação ao medicamento a ser dinamizado (100:1) foi
julgada demasiado reduzida para poder desenvolver completamente e a um grau
elevado o poder do medicamento, sacudindo-se diversas vezes sem se empregar muita
força, fato este que experiência cansativas me levaram a crer. Mas, se tomarmos apenas
um desses glóbulos, dos quais 100 pesem um grão, dinamizando-o com 100 gôtas de
álcool, obter-se-á uma proporção de 1 para 50.000, e maior, pois 500 desses glóbulos
mal podem absorver uma gôta para a sua saturação. Como esta razão desproporcionada
é mais elevada, entre o medicamento e o meio de diluição, diversas sacudidas sucessivas
do frasco cheio a dois têrços de sua capacidade, com álcool, podem produzir um
desenvolvimento de potência muito maior. Mas, com um meio de diluição tão diminuto,
com 100 para 1 do medicamento, se diversas sucussões fôrem dadas por meio de uma
máquina poderosa, obtêm-se medicamentos que, especialmente nos graus mais elevados
de dinamização, agem quase imediatamente, porém com violência demasiada, mesmo
perigosa, especialmente em pacientes fracos, sem que haja uma reação suave,
duradoura, do princípio vital. O método descrito por mim, ao contrário, produz
medicamentos com o maior desenvolvimento de potência, e de ação mais suave, que,
contudo, se bem escolhidos, atingem todas as partes curativamente. Nas febres agudas,
as pequenas doses dos graus menos dinamizados destes preparados assim aperfeiçoados,
mesmo os de medicamentos de longa duração (por exemplo, a beladona) podem ser
repetidas em breves intervalos. No tratamento de males crônicos é melhor começar com
os graus de dinamização menos elevados, e, quando necessário, passa para um maior,
mesmo mais poderoso, mas de ação suave.
Em casos muito raros, não obstante a recuperação quase completa, e com boa força
vital, se uma afecção local antiga permanecer, é inteiramente permissível como também
necessàriamente indispensável administrar doses progressivas do medicamento
homeopático que se tenha demonstrado eficaz, mas potencializado a um grau elevado
por meio de diversas sucussões dadas com a mão. Então a enfermidade localizada
geralmente desaparece de modo maravilhoso.
(*7) Essa assertiva não parecerá improvável se considerarmos que por meio desse
método de dinamização (as preparações assim produzidas, conforme descobri após
muitas experiências e contra-experiências, são as mais poderosas, e, ao mesmo tempo, as
de ação mais suave, isto é, as mais perfeitas), a parte material do medicamento é
diminuída com cada grau de dinamização 50.000 vezes e ainda incrivelmente
aumentadas em poder, de modo que a dinamização subseqüente de 125 e 18 zeros
alcança apenas o terceiro grau de dinamização. A trigésima assim progressivamente
preparada daria uma fração quase impossível de exprimir em números. Torna-se
extraordinàriamente evidente que a parte material mediante essa dinamização
(desenvolvimento de sua essência interna verdadeira, medicinal) se desdobrará
finalmente em sua essência individual e imaterial. Portanto, em seu estado bruto, pode
ser considerada como consistindo realmente apenas desta essência imaterial não
desenvolvidas.
Atualização da 6ª Edição:
Duas gotas do suco vegetal fresco, misturadas com partes iguais de álcool, diluem-se
com noventa e oito gotas de álcool e potencializam-se por duas sucussões, pelas quais
se efetua o primeiro aumento de poder. Repete-se esse processo em vinte e nove frascos,
cada qual cheio até os três quartos com noventa e nove gotas de álcool. Cada frasco
sucessivo é provido com uma gota do frasco anterior (que já foi sacudido duas vezes) e é
por sua vez duas vezes sacudido (*) da mesma maneira, até finalmente o trigésimo
aumento de poder (decilionésima diluição potencializada X), o mais geralmente usado.
(*) Com o fim de manter um padrão fixo e uniforme do aumento de poder dos
medicamentos líqüidos, múltiplas experiências e cuidadosa observação levaram-me a
adotar duas sucussões para cada frasco, de preferência ao número maior primeiramente
empregado (pelo qual os medicamentos eram demasiadamente potencializados). Há,
entretanto, homeopatistas que, nas suas visitas aos pacientes, carregam consigo os
remédios homeopáticos em estado fluído e não obstante asseveram que eles não se
tornam potencializados com o tempo, mostrando assim serem incapaz de observar
corretamente. Dissolvi num frasco um grão de soda em meia onça de água misturada
com álcool - o frasco ficou cheio até os dois terços e sacudi essa solução
continuadamente por meia hora: o fluído, em energia e potência, equiparou-se ao
trigésimo aumento de poder.
271. Se o próprio médico prepara seus medicamentos homeopáticos (*), pode usar a
própria planta fresca, visto que só um pouco da substância crua será necessária, se não
necessitar do suco espremido talvez para fins curativos. Ele coloca alguns grãos em um
recipiente e com 100 grãos de açúcar de leite, leva-os a uma trituração mínima (270)
antes de potencializar ainda mais uma pequena porção disso mediante sucussões,
prática a ser observada também com o resto das substâncias cruas quer sêcas ou
oleosas.
(*) Até que o Estado, no futuro, após haver atingido uma compreensão da necessidade
de medicamentos homeopáticos perfeitamente preparados, os fará preparar por uma
pessoa competente e imparcial, a fim de dá-los gratuitamente a médicos homeopatas
treinados em hospitais homeopáticos, que tenham sido examinados teórica e
pràticamente, e assim legalmente qualificados. O médico pode, então, convencer-se
desses instrumentos divinos de curar, e também dá-los gratuitamente a seus pacientes,
sejam eles ricos ou pobres.
§272. Esse glóbulo (*), colocado seco sobre a língua, é uma das menores doses para um
caso moderado recente de doença e apenas alguns nervos serão atingidos pelo
medicamento. Um glóbulo semelhante, esmagado com um pouco de açúcar de leite e
dissolvido em muita água (247) e bem mexido antes de cada vez que se dá, produzirá
um medicamento muito mais forte para ser usado durante vários dias. Cada dose, não
importa quão pequena seja, atingirá diversos nervos.
(*) Estes glóbulos (270) retêm sua virtude medicinal durante muitos anos, se forem
protegidos da luz solar e do calor.
§273. Em nenhum caso sob tratamento é necessário e, portanto, permissível
administrar a um paciente mais de uma única e simples substância medicinal de uma
vez. Não deve haver a menor dúvida quanto ao que é mais de acordo com a natureza e
mais racional, prescrever um único, simples medicamento (*) de cada vez em uma
doença, ou o acréscimo de diversas drogas de ação diferente. Não é absolutamente
permissível em homeopatia, dar ao paciente duas substâncias medicinais diferentes de
cada vez.
(*) Duas substâncias opostas, unidas em sódio neutro e seus sais por afinidade química
em proporções invariáveis, bem como metais sulfurados encontrados na terra, e os
produzidos por meios técnicos em proporções constantes de enxofre e sais e terras
alcalinas, por exemplo, (natrum sulph, e calcarea sulph.), bem como os éteres
produzidos pela destilação de álcool e ácidos, podem, juntamente com o fósforo ser
considerados como substâncias medicinais simples pelo médico homeopata e usados em
pacientes. Por outro lado, os extratos obtidos por meio de ácidos, dos chamados
alcalóides de plantas, são sujeitos a grande variedade em sua preparação (por exemplo,
o quinino, a estricnina, a morfina), e não podem, portanto, ser aceitos pelo médico
homeopata como medicamentos simples, sempre os mesmos, principalmente porque ele
tem, nas próprias plantas em seu estado natural (quina, noz-vômica, ópio), todas as
qualidades necessárias para curar. Além disso, os alcalóides não são os únicos
constituintes das plantas.
§274. O verdadeiro médico encontra nos medicamentos simples, administrados
exclusivamente e sem estarem combinados, tudo o que possa desejar; ele conhece o sábio
provérbio:” é errado tentar empregar meios complexos quando bastam os simples”, e
jamais pensar em dar como medicamento qualquer substâncias que não seja simples e
única; outro motivo é que os medicamentos simples são inteiramente experimentados, e
é ainda impossível prever como duas ou mais substâncias medicinais poderiam
conjugadas, mutuamente alterar e obstar as ações de cada uma no organismo humano;
sabe-se que a totalidade dos sintomas de uma substancia simples, presta ajuda eficiente
por si só, se for homeopaticamente escolhida; e supondo que o pior aconteça que não foi
escolhida rigorosamente de acordo com a semelhança de sintomas, não servindo,
portanto, é ainda tão útil (por promover nosso conhecimento de agentes terapêuticos)
porque, pelos novos sintomas excitados por ela em tais casos, os sintomas que esta
substância medicinal já havia demonstrado em experiências, na saúde do corpo
humano, se confirmam, vantagem esta que é perdida pelo emprego de todos os remédios
compostos (*).
(*) O médico que escolheu o remédio homeopaticamente perfeito para o caso de doença,
deixará à rotina irracional alopática a prática de dar bebidas ou estimulantes de
plantas diferentes, de injetar clisteres medicinais e de passar esse ou aquele ungüento.
§275. A conveniência de um medicamento para qualquer caso determinado de doença
não depende apenas de sua correta seleção homeopática; depende também da pequenez
da dose. Se dermos uma dose demasiadamente forte de um medicamento que possa ter
sido homeopaticamente escolhido, ela deve, não obstante o seu caráter benéfico inerente
revelar-se prejudicial apenas por sua quantidade, e pela impressão desnecessária,
demasiadamente forte que, em virtude de sua semelhança homeopática de ação, produz
na força vital que ataca e, por meio da força vital, nas partes do organismo que são
mais sensíveis e agora mais afetadas pelas doenças naturais.
§276. Por essa razão, um medicamento, muito embora seja homeopaticamente
adequado ao caso de doença, é prejudicial em cada dose que for excessiva, e, em doses
fortes, é ainda mais prejudicial, quanto maior a homeopaticidade e quanto maior a
potência escolhida (*), sendo muito mais prejudicial que qualquer dose grande de um
medicamento que não é homeopático e de nenhum modo adequado ao estado mórbido
(alopático). Doses demasiadamente grandes de um medicamento homeopático
corretamente escolhido, e principalmente quando freqüentemente repetido, causam
muitas dificuldades. Não raro, põem o paciente em perigo de vida ou tornam sua
doença quase incurável. De fato, extinguem a doença natural, no que concerne à
sensação do princípio vital, e o paciente não sofre mais da doença original desde o
momento em que a dose excessiva do medicamento homeopático agiu sobre ele, mas
acha-se conseqüentemente mais doente da doença semelhante, mas muito mais violenta,
de natureza medicinal que é dificílima de curar (**).
(*) Os elogios feitos nos últimos anos, por alguns homeopatas, às doses maiores devemse
ao fato de que escolheram potências pouco elevadas do medicamento (como eu mesmo
fazia há uns vinte anos, por não conhecer nenhum melhor), ou ao fato de que os
medicamentos escolhidos não eram homeopáticos e imperfeitamente preparados por seus
fabricantes.
(**) Assim, o uso contínuo de grandes doses de agentes alopáticos violentos à base de
mercúrio contra a sífilis desenvolve doenças causadas pelo mercúrio que são quase
incuráveis, quando ainda uma ou diversas doses de preparado à base de mercúrio,
suave, porém ativo, certamente teria curado radicalmente em poucos dias a doença
venérea, juntamente com o cancro, desde que não tivesse sido destruído por meios
externos (como sempre ocorre com a alopatia). Do mesmo modo, o alopata dá quina e
quinina diariamente em grandes doses, para febre intermitente, quando são
corretamente indicadas e quando uma pequena dose de quina altamente potencializada
seria de ajuda infalível (nas febres de pântano intermitentes e mesmo nas pessoas que
não foram afetadas por qualquer mal psórico evidente). Produz-se uma doença crônica
da quina (combinada, ao mesmo tempo, com o desenvolvimento da Psora), que, se não
matar o paciente aos poucos, danificando os órgãos internos mais importantes,
principalmente o baço e o fígado, deixá-lo-á, contudo, durante anos a sofrer com a
saúde muito abalada. Mal se pode conceber um antídoto homeopático para tal estado
produzido pelo abuso de grandes doses de medicamentos homeopáticos.
§277. Um remédio cuja escolha tenha sido corretamente homeopática, deve ser tanto
mais salutar quanto sua dose for reduzida ao grau de apropriada pequenez para um
efeito terapêutico suave.
§278 Aqui surge a questão: qual o grau de pequenez mais adequado para um efeito
medicinal certo e seguro? Em suma, qual o tamanho da dose de cada remédio
homeopaticamente escolhido que melhor realiza essa cura? Para resolver este problema,
e determinar para cada remédio qual a sua dose que deverá ser suficiente para fins
terapêuticos homeopáticos e ainda ser tão diminuta que a mais suave e rápida das
curas pode ser, então, realizada; como facilmente pode ser percebido, a solução do
problema não é trabalho de especulação teórica; por meio de raciocínio sutil, ou
sofisticação minuciosa, não podemos esperar obtê-la. É tão impossível quanto calcular
de antemão todos os casos imagináveis. Só mediante experiência pura, observação
cuidadosa da sensibilidade de cada paciente, e por prática é que se pode determinar isto
em cada caso particular, e seria absurdo aduzir as grandes doses de medicamentos
inadequados (alopáticos) da antiga escola, que não tocam o lado doente do organismo
homeopaticamente, mas apenas atacam as partes não atingidas pela doença, contra o
que a experiência pura declara no que respeita à pequenez das doses necessárias para as
curas homeopáticas.
§279. Esta experiência pura demonstra que se a doença não depende da deterioração
considerável de algum órgão importante (muito embora pertença às doenças crônicas e
complicadas) e se durante o tratamento todas as influências medicinais estranhas forem
afastadas do paciente, a dose do remédio homeopaticamente escolhido e altamente
potencializado, para o começo do tratamento de uma doença séria (especialmente,
crônica) não pode jamais ser preparada em regra, tão pequena que não seja mais forte
que a doença natural e que não possa dominá-la, pelo menos em parte, extinguindo-a
da sensação do princípio vital, efetuando, assim, o começo de uma cura.
§280. A dose do medicamento que continua a servir sem produzir novos sintomas
indesejáveis deve ser continuada, embora de modo crescente, enquanto o paciente, com
melhora geral, comece a sentir aos poucos o retorno de um dos velhos sintomas
originais. Isto indica uma cura próxima através de aumento gradativo das doses
moderadas modificadas (247). Indica que o princípio vital não mais precisa ser afetado
por uma doença medicinal semelhante, a fim de perder a sensação da doença natural
(148). Indica que o princípio vital, livre agora da doença natural, começa a sofrer
apenas de algo da doença medicinal conhecida como agravação homeopática.
§281. Para que possamos nos convencer disso, deixamos o paciente sem qualquer
medicamento por oito, dez ou quinze dias, e, neste ínterim recebe somente alguns pós de
açúcar de leite. Se as poucas últimas queixas devem-se ao fato de o medicamento
simular os sintomas da antiga doença original, então estas queixas desaparecerão em
alguns dias ou horas. Se durante esses dias sem medicamentos, embora continuando as
boas regras de higiene, não se vê nada mais da doença original, ele se acha,
provavelmente, curado. Mas, se nos próximos dias se apresentarem vestígios dos
antigos sintomas mórbidos, são eles remanescentes da doença original que não se
extinguiu totalmente, que devem ser tratados com doses mais potentes do remédio, na
forma indicada acima. Para obter uma cura, as primeiras doses devem, igualmente, ser
outra vez elevada gradativamente, mas menores, e mais devagar, com pacientes em que
se nota uma irritabilidade considerável, do que com os menos suscetíveis, em que o
avanço para a dosagem mais elevada pode ser mais rápida. Há pacientes cuja
impressionabilidade comparada com os de pouca suscetibilidade é de 1000 para 1.
§282. Seria sinal certo de que as doses são excessivas se, durante o tratamento,
principalmente nas doenças crônicas, a primeira dose acarretasse a chamada agravação
homeopática, isto é, um aumento notável dos sintomas mórbidos primitivos, e, do
mesmo modo, cada dose (247), embora um tanto modificada por sucussões antes de ser
administrada, (mais altamente dinamizada). (*).
(*) A regra para começar o tratamento homeopático de doenças crônicas com as
mínimas doses possíveis e apenas gradativamente aumentadas, está sujeita a uma
notável exceção no tratamento dos três grandes miasmas, enquanto ainda se achem na
pele, isto é, sarna recente, cancro ainda não tratado (nos órgãos sexuais, boca ou lábios,
etc.), e os condilomas. Estes não só toleram, mas também necessitam, desde o começo,
grandes doses de seus específicos de graus de dinamização cada vez maiores (talvez, até
diversas vezes por dia). Se fizer isto, não há perigo a temer, como ocorre no tratamento
de doenças ocultas no organismo (a dose excessiva, embora extinga a doença, por uso
constante, possivelmente produza um mau medicinal crônico). Durante as
manifestações externas destes três miasmas, tal não ocorre; pois, pelo progresso diário
de seu tratamento, pode se observar e julgar até que ponto a dose forte elimina, dia a
dia, do princípio vital, a sensação da doença; pois nenhuma destas três pode ser curada
sem, por meio de seu desaparecimento, dar ao médico a convicção de que não há mais
necessidade destes medicamentos. Visto que as doenças são, de modo geral, apenas
ataques dinâmicos sobre o princípio vital, não sendo de natureza material (materia
peccans) em sua base, não há, nestes casos, nada material a remover, nada a retirar,
atar, ou cortar, sem tornar o doente cada vez mais doente e mais difícil de curar
(Doenças Crônicas - Parte I), do que era antes de se iniciar o tratamento local destes
três miasmas. O princípio dinâmico prejudicial, exercendo sua ação na energia vital, é a
essência destes sinais externos dos miasmas malignos internos que podem ser extintos
apenas pela ação de um remédio homeopático sobre o princípio vital que o afeta de
modo semelhante, porém mais forte, e assim remove de tal modo à sensação de doença
externa e interna, espiritual (conceitual), que não mais existe para o princípio vital
(para o organismo) e assim liberta o paciente de sua doença, curando-o. A experiência
ensina que a sarna, além de suas manifestações externas, bem como o cancro, junto com
o miasma venéreo interno, pode e deve ser curado apenas mediante remédios específicos
internos. Se os condilomas têm perdurado por algum tempo sem tratamento, para sua
cura perfeita, requerem a aplicação externa de específicos, bem como, ao mesmo tempo,
internos.
§283. A fim de agir inteiramente de acordo com a natureza, o artista verdadeiro da
arte de curar receitará, com exatidão, o remédio homeopático mais indicado, em todos
os aspectos, e por isso mesmo, em dose muito pequena. Pois, caso se engane, por
fraqueza humana, em empregar um medicamento inadequado, a desvantagem desta
relação errônea para com a doença seria tão pequena que o paciente poderia, por sua
própria força vital, e opondo, em tempo (249) um remédio corretamente escolhido de
acordo com a semelhança de sintomas, extingui-la rapidamente.
§284. Além da língua, boca e estômago, que são mais comumente afetados pela
administração do medicamento, o nariz e os órgãos respiratórios recebem a ação de
medicamentos em forma fluída, por meio da olfação e inalação através da boca. Todo o
revestimento cutâneo é adaptado à ação de substâncias medicinais em soluções,
principalmente se combinar a fricção com a administração interna (*).
(*) O poder dos remédios que agem no lactente por meio do leite materno ou de ama é
maravilhosamente valioso. Cada doença de uma criança cede aos remédios
homeopaticamente escolhidos, dados à lactante, e são mais fácil e certamente
utilizados pelas crianças do que seria possível mais tarde. Visto que a maioria das
crianças geralmente recebe a Psora através do leite da ama, se já não a herdaram da
mãe, podem ao mesmo tempo proteger-se antipsòricamente pelo leite da ama assim
medicada. Mas no caso de mães em sua primeira gravidez, as dinamizações de enxofre
preparadas de acordo com as instruções baixadas nesta edição (270), são indispensáveis
a fim de destruir a Psora que lhes é hereditariamente transmitida; destruí-la em si
próprias e no feto, assim protegendo antecipadamente a posteridade; as grávidas assim
tratadas têm dado à luz crianças geralmente mais sadias e fortes, o que é mais uma
confirmação da grande verdade da teoria da Psora por mim descoberta.
§285. Desse modo, a cura de males muito antigos pode ser ativada pelo médico,
aplicando externamente (esfregando as costas, braços, extremidades inferiores), o
mesmo medicamento que aplica internamente e que demonstrou ter poder curativo.
Assim procedendo, deve evitar as partes sujeitas a dor ou espasmos, ou erupções de
pele(*).
(*) Assim se explicam as curas maravilhosas, embora raras em que pacientes crônicos
deformados, cuja pele era, não obstante, sadia e limpa, foram rápida e
permanentemente curados após alguns banhos cujos constituintes medicinais (embora
por acaso) eram homeopaticamente correlatos. Por outro lado, os banhos minerais com
grande freqüência acarretaram danos maiores nos pacientes cujas erupções de pele
foram erradicadas. Após um breve período de bem-estar, o princípio vital permite que o
mau interno, não curado, retornasse em outra parte mais importante para a vida e a
saúde. Em vez disso, às vezes, o nervo ocular paralisava-se e produzia amaurose, às
vezes se enuviava o cristalino, perdia-se a audição, seguiam-se a loucura sufocante, ou
uma apoplexia terminava com os sofrimentos do iludido enfermo. Um princípio
fundamental do médico homeopata é que jamais emprega para qualquer paciente um
medicamento cujos efeitos não tenham sido previa e cuidadosamente experimentados e
estudados por ele (20 21). Prescrever para o doente na base de mera conjetura de
alguma utilidade possível para o doente, ou por ouvir dizer, "que um remédio foi útil
em tal doença”; tal falta de consciência o homeopata filantrópico deixará para o
alopata. Um legítimo médico o praticante de nossa arte, portanto, jamais enviará o
doente a qualquer dos muitos banhos minerais, pois quase todos são até agora
desconhecidos quanto a seus defeitos exatos e positivos na saúde humana, e quando
mal empregados, constam-se entre as drogas mais violentas e perigosas. Deste modo, em
mil enviados aos mais célebres destes banhos por médicos ignorantes, alopaticamente
incurados e cegamente enviados, talvez um ou dois se curem por acaso, e, mais
freqüentemente, voltam apenas aparentemente curados, proclamando-se o milagre.
Centenas, contudo, retiram-se sem alarde mais ou menos pior e os outros preparam-se
para seu descanso eterno, fato que se comprova pela presença de numerosos cemitérios
que circundam estas afamadas estações de águas, (*).
(*) O verdadeiro médico homeopata, que jamais age sem fundamento correto, jamais
joga com a vida dos doentes que lhe são confiados, como se fosse uma loteria, em que a
proporção de ganho é de 1 para 500 ou mil (e onde os bilhetes brancos representam a
agravação ou a morte), e jamais exporá qualquer um de seus pacientes a tais perigos ou
mandá-lo-á a tais banhos, jogando com o acaso, como ocorre tal freqüentemente com os
alopatas, a fim de se livrarem airosamente dos doentes estragados por eles ou por
outros.
§286. As forças dinâmicas magnéticas, elétrica e galvânica não agem menos
poderosamente no princípio vital e não são menos homeopáticas que os denominados
medicamentos que neutralizam o mau ingerindo-se pela boca, ou esfregando-se pela
pele ou inalando-se. Pode haver doenças, especialmente doenças da sensibilidade e
irritabilidade, sensações anormais, e movimentos musculares involuntários que podem
ser assim curados. Mas o modo mais certo de aplicar os dois últimos, bem como os da
chamada máquina eletromagnética, ainda se acha muito obscuro para se fazer dele uso
homeopático. Até agora tanto a eletricidade como o galvanismo têm sido empregados
somente como paliativos, para grande prejuízo dos doentes. A ação pura, positiva de
ambos no corpo humano sadio foi até agora muito pouco experimentada.
§287. Os poderes de um ímã para fins curativos podem ser usados com mais certeza, de
acordo com os efeitos positivos detalhados na Matéria Médica Pura, sob os pólos norte
e sul de poderosa barra magnética. Embora ambos os pólos sejam igualmente poderosos,
opõem-se, contudo, de acordo com sua respectiva ação. As doses podem ser modificadas
pela duração do tempo de contato com um ou outro pólo, conforme os sintomas de pólo
norte ou sul indicarem. Como antídoto de uma aplicação muito violenta, bastará a
aplicação de uma chapa de zinco polido.
§288. Creio ainda ser necessário referir-me, aqui, ao magnetismo animal, ou melhor, ao
Mesmerismo (como deveria se chamar, em deferência a Mesmer, seu fundador) que
difere tanto em sua natureza de todos os outros agentes terapêuticos. Esta força
curativa, com freqüência tão tolamente negada, e desdenhada durante um século, age
de diversas maneiras. É um presente maravilhoso, incomensurável de Deus, para a
humanidade, pelo qual a vontade forte de uma pessoa bem intencionada sobre uma
doente, por contato, e mesmo sem este, e até a uma certa distância, pode trazer a
energia vital do mesmerizador sadio dotado deste poder para outra pessoa,
dinamicamente (assim como um dos pólos de poderoso magneto age sobre uma barra de
aço). Age em parte substituindo no doente, cuja força vital dentro do organismo achase
deficiente em diversos pontos, e em parte, em outros pontos onde a força vital se
tenha acumulado demais gerando desordens nervosas irritantes; ela a desvia, diminui e
distribui por igual e, de modo geral, extingue a condição mórbida do princípio vital do
paciente que é substituída pelo normal do mesmerita que age poderosamente sobre ele,
como, por exemplo, velhas úlceras, amaurose, paralisias parciais, etc. Muitas curas
rápidas aparentes realizadas em todas as idades por mesmeristas dotados de grande
poder natural, pertencem a essa categoria. O efeito do poder humano comunicado sobre
todo o organismo, foi demonstrado magistralmente na reanimação de pessoas que
haviam jazido aparentemente mortas, pelo poderoso desejo simpático de um homem em
pleno gozo da energia vital (*) e dessa espécie de reanimação a história encerra diversos
exemplos inegáveis. Se o mesmerista de qualquer sexo, capaz ao mesmo tempo de franco
entusiasmo (mesmo degenerado em carolismo, fanatismo, misticismo ou sonho
filantrópico), tornar-se ainda mais poderoso com esse desempenho filantrópico e
abnegado, poderá então dirigir sua vontade ao paciente que solicitou sua colaboração,
concentrar nele seu poder psíquico e operar, às vezes, milagres.
(*) Especialmente de uma dessas pessoas, que não são muitas, e que além de grande
aptidão de poderes físicos perfeitos, possui apenas desejo sexual muito moderado, que
lhe daria muito pouco trabalho suprimir inteiramente, em quem, conseqüentemente,
todos os excelentes fluídos vitais que seriam, de outro modo, empregados no preparo do
esperma, acham-se prontos a se comunicarem a outros, tocando-os e exercendo sua
vontade. Alguns poderosos mesmeristas, que conheci, tinham todas essas características
peculiares.
§289. Todos os métodos mencionados de prática do mesmerismo dependem de um
influxo de maior ou menor força vital no paciente, e daí serem conhecidos como
mesmerismo positivo (*1). Contudo, um modo oposto de empregar o mesmerismo, pois
produz o efeito contrário, deve ser denominado mesmerismo negativo. A este pertencem
os passes empregados para despertar de sono sonambúlico, bem como todos os processos
manuais conhecidos pelos nomes de calmar e ventilar. Esta descarga mediante
mesmerismo negativo da força vital acumulada em excesso em partes isoladas do
organismo de pessoas não debilitadas é mais certa e simplesmente efetuada fazendo-se
um movimento rápido com a palma da mão estendida, mantida paralela e a cerca de
uns dois centímetros de distância do corpo, desde o alto da cabeça, até a extremidade
dos pés (*2). Quanto mais rápido for o passe, tanto mais eficiente será a descarga.
Assim, por exemplo, no caso em que uma senhora que havia sido sadia (*3), pela mera
supressão de suas regras em virtude de choque mental, tem toda a aparência de morta,
a força vital que é provàvelmente acumulada na região precordial foi restaurada em
todo o organismo, mediante passes rápidos negativos e de novo a paciente voltou à
vida (*4) Do mesmo modo, um passe negativo suave e lento diminui a inquietação e
insônia excessivas acompanhadas de ansiedade muitas vezes produzida em pessoas
muito irritáveis por um passe positivo por demais poderoso etc.
(*1) Quando me refiro aqui ao poder curativo e certo do mesmerismo positivo,
certamente não me refiro a seu abuso, em que mediante passes repetidos desta espécie,
continuados durante meia ou uma hora, e, mesmo dia após dia, executados em
pacientes fracos, nervosos, resulta na monstruosa revolução do organismo humano que
se chama sonambulismo e clarividência, em que o ser humano é destituído do mundo
dos sentidos e parece pertencer mais ao mundo dos espíritos - estado este que é
altamente anormal e perigoso, método pelo qual muitas vezes se tentou curar doenças
crônicas.
(*2) É conhecida a regra de que uma pessoa ser positiva ou negativamente
mesmerizada não deve usar tecidos de sêda em qualquer parte do corpo; porém o que
menos se sabe é o resultado bem superior obtido se o mesmerizador está isolado do solo,
colocando debaixo de seus pés uma folha de sêda, graças à qual pode assim em sua
plena medida transmitir ao doente o seu fluído.
(*3) Pelo quê, um passe negativo, especialmente se fôr muito rápido é extremamente
prejudicial a uma pessoa delicada afetada de mal crônico e deficiente em força vital.
(*4) Um jovem camponês, robusto, de dez anos de idade, recebeu, de manhã, por causa
de uma ligeira indisposição, de uma mesmerita, diversos passes fortes com as pontas
dos polegares, desde a boca do estômago, ao redor das costelas inferiores, ficando,
instantâneamente, pálido como se estivesse morto, e caiu em um estado de
inconsciência e imobilidade que nada podia despertar, e foi quase dado como morto. Fiz
com que seu irmão mais velho lhe aplicasse um passe rápido negativo desde o topo da
cabeça até os pés, e num instante, recobrou a consciência e sentiu-se bem.
§290. Aqui se acha também a chamada massagem de uma pessoa vigorosa em uma
pessoa crônicamente inválida, que, embora curada, ainda esteja magra, com digestão
fraca e insônia devido a convalescimento lento. Os músculos dos membros, peito e
costas, seguros em separado, e moderadamente comprimidos e batidos, despertam o
princípio vital para alcançar e restaurar o tonus dos músculos e vasos sangüíneos e
linfáticos. A influência mesmérica desse procedimento é a característica principal e não
deve ser empregada em excesso em pacientes ainda hipersensíveis.
§291. Os banhos de água pura relevam-se em parte como paliativos, em parte como
ajuda homeopática na restauração da saúde em males agudos, bem como na
convalescença de pacientes crônicos curados, levando-se em conta as condições do
convalescente e a temperatura do banho, sua duração e repetição. Mas mesmo se bem
aplicados, trazem mudanças apenas fisicamente benéficas no corpo doente, não sendo
em si medicamentos verdadeiros. Os banhos mornos a 25 ou 27 R. servem para
despertar a sensibilidade da fibra no morto aparente (congelado, afogado ou sufocado)
que entorpecia a sensação dos nervos. Embora apenas paliativos, ainda freqüentemente
se revelam suficientemente ativos, principalmente quando dados junto com café e
esfregando-se com as mãos. Podem prestar ajuda homeopática nos casos em que a
irritabilidade acha-se desigualmente distribuída e acumulada em alguns órgãos, como
ocorre com certos espasmos histéricos e convulsões infantis. Do mesmo modo, banhos
frios a 10 ou 6 R. em pessoas medicamente curadas de males crônicos e com deficiência
de calor vital, age como auxiliar homeopático. Por imersões instantâneas, e mais tarde,
repetidas, agem como paliativos restaurador do tono da fibra exaurida. Com esse
propósito, tais banhos deverão ser mais prolongados, durar alguns instantes, até mesmo
vários minutos, deverão ser repetidos mais freqüentemente, e com temperaturas
progressivamente mais baixas; são um paliativo progressivamente mais baixas; são um
paliativo, que, visto agirem só fisicamente, não apresentam a desvantagem da ação
reserva, a ser temida mais tarde, como se dá com os paliativos medicinais dinâmicos.
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