O agronegócio
brasileiro vem pressionando a Presidência da República e o Congresso para
diminuir o papel do setor de saúde na liberação dos Agrotóxicos. O Brasil é o
maior consumidor desses venenos no planeta e a cada dia se torna mais
dependente deles.
Qual o impacto
que essas medidas terão na saúde da população brasileira? No Brasil, a cada
ano, cerca de 500 mil pessoas são contaminadas, segundo o Sistema Único de
Saúde (SUS) e estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS). Os brasileiros
estão consumindo alimentos com resíduos de Agrotóxicos acima do limite
permitido e ingerindo substâncias tóxicas não autorizadas.
Em outubro, a
Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) revelou que 36% das amostras analisadas
de frutas, verduras, legumes e cereais estavam impróprias para o consumo humano
ou traziam substâncias proibidas no Brasil, tendência crescente nos últimos
anos. Os Agrotóxicos afetam a saúde dos consumidores, moradores do entorno de
áreas de produção agrícola ou de Agrotóxicos, comunidades atingidas por
resíduos de pulverização aérea e trabalhadores expostos.
Mesmo frente a
esse quadro, mais dramática é a ofensiva do agronegócio e sua bancada ruralista
para aprofundar a desregulamentação do processo de registro no país. Qualquer
Agrotóxico, para ser registrado, precisa ser analisado por equipes técnicas dos
ministérios da Agricultura, Saúde e Meio Ambiente. Inspirados na CTNBIO,
instância criada para avaliar os Transgênicos, que até hoje autorizou 100% dos
pedidos de liberação a ela submetidos, os ruralistas querem a criação da
CTNAGRO, na qual o olhar da saúde e Meio Ambiente deixaria de ser determinantes
para a decisão.
Quem ganha e
quem perde com essa medida? Não há dúvida que entre os beneficiários diretos
está o grande agronegócio, que tem na sua essência a monocultura para
exportação. Esse tipo de produção não pode viver sem o veneno porque se baseia
no domínio de uma só espécie vegetal, como a soja. Por isso, a cada dia, surgem
novas superpragas, que, associadas aos Transgênicos, têm exigido a liberação de
Agrotóxicos até então não autorizados para o Brasil.
O mais recente
caso foi a autorização emergencial do benzoato de amamectina usado para
combater a lagarta Helicoverpa, que está dizimando as lavouras de soja de norte
a sul do país. A lei que garantiu a liberação desse veneno tramitou e foi
aprovada em um mês pelo Congresso e pela Presidência da República. A pergunta
que não quer calar é: no momento em que a população brasileira espera um Estado
que garanta o direito constitucional à saúde e ao ambiente, por que estamos
vendo o contrário? Na maioria dos estados brasileiros os Agrotóxicos não pagam
impostos.
O Estado
brasileiro tem sido forte para liberalizar o uso de Agrotóxicos, mas fraco para
monitorar e controlar seus danos à saúde e ao ambiente. Enquanto isso, todos
nós estamos pagando para ser contaminados…
Fernando
Carneiro é professor da UNB e coordenador de saúde e Meio Ambiente da
Associação Brasileira de Saúde Coletiva
Fonte : Jornal
O Globo
http://pv.org.br/2014/01/25/o-perigo-dos-agrotoxicos-anvisa-revelou-que-36-das-amostras-de-alimentos-estavam-improprias-para-o-consumo/