Pesquisador compila dados do
governo americano e mostra que lavouras transgênicas levaram a aumento no uso
de agrotóxicos
Número 610 - 30 de novembro de
2012
Car@s Amig@s,
Em outubro último a revista
científica Environmental Sciences Europe publicou a primeira pesquisa revisada
por pares analisando o impacto das lavouras transgênicas sobre o uso de
agrotóxicos, utilizando dados do Serviço Nacional de Estatística Agrícola (NASS,
na sigla em inglês) do Departamento de Agricultura do governo dos EUA (USDA).
A pesquisa é assinada pelo
Professor Charles Benbrook, da Washington State University, nos EUA. Para
analisar os dados, Benbrook desenvolveu um modelo capaz de quantificar, por
cultura e por ano, os impactos sobre o uso de agrotóxicos das seis maiores
culturas transgênicas do país durante o período de 16 anos: milho, soja e
algodão tolerantes à aplicação do herbicida glifosato; milho Bt tóxico à
lagarta-do-cartucho; milho Bt tóxico à lagarta-da-raiz-do-milho; e algodão Bt
tóxico a insetos da ordem Lepidoptera.
Os dados oficiais mostraram que
as lavouras tolerantes à aplicação de herbicida levaram a um aumento de 239
milhões de kg no uso de herbicidas nos EUA entre 1996 e 2011, enquanto as
lavouras tóxicas a insetos (Bt) reduziram a aplicação de inseticidas em 56
milhões de kg.
No cômputo geral, constatou-se um
aumento no uso de agrotóxicos aplicados da ordem de 183 milhões de kg entre
1996 e 2011 (cerca de 7%). O uso geral de agrotóxicos em 2011 foi cerca de 20%
maior em cada hectare plantado com uma variedade transgênica, em comparação ao
uso de agrotóxicos em áreas plantadas com sementes convencionais.
Especificamente sobre lavouras tolerantes a herbicidas, os números indicam que,
em 2011, o volume de herbicidas aplicados foi 24% maior nas lavouras
transgênicas do que nas áreas onde são plantados cultivos não transgênicos.
Em declaração publicada pelo
jornal New York Times, Benbrook afirmou que “o motivo pelo qual os agricultores
adotaram a tecnologia tão rapidamente foi que, nos primeiros anos, ela
funcionou muito bem”. Segundo o pesquisador, os dados do USDA mostram que nos
primeiros seis anos de uso comercial as lavouras transgênicas tolerantes a
herbicidas ou tóxicas a insetos reduziram o uso de agrotóxicos em cerca de 2%.
Entretanto, como era previsto (e
foi exaustivamente alertado), após esses primeiros anos, duas dúzias de
espécies de plantas invasoras tornaram-se resistentes ao glifosato, e muitas
delas estão se espalhando rapidamente, o que tem levado os agricultores a
aumentar as quantidades, tanto de glifosato, como de outros herbicidas
utilizados para controlar as chamadas “super-ervas-daninhas” – incluindo
venenos antigos e mais tóxicos que a tecnologia de tolerância a herbicidas
prometia substituir. Milhões de hectares nos EUA estão infestados com mais de
uma planta invasora resistente ao glifosato, o que tem elevado o uso de
herbicidas em 25% a 50%, aumentando, ao menos na mesma proporção, os custos com
o controle do mato.
Para Benbrook, a magnitude do
aumento no uso de herbicidas nas lavouras transgênicas anulou a redução do uso
de inseticidas nas lavoras Bt nos últimos 16 anos, e isso continuará a
acontecer no futuro.
Em suas conclusões, o autor da
pesquisa ressalta que a realidade contraria a repetida afirmação de que as
lavouras transgênicas reduzem o uso de agrotóxicos, relembrando que a solução
proposta pelas indústrias de biotecnologia-sementes-agrotóxicos para responder
à disseminação de ervas invasoras resistentes ao glifosato é o desenvolvimento
de novas variedades transgênicas tolerantes a múltiplos herbicidas, incluindo o
2,4-D e o dicamba (para quem não se lembra, o 2,4-D era um dos componentes do
Agente Laranja, desfolhante utilizado pelo exército americano na Guerra do
Vietnam que provocou milhares de mortes e malformações em mais de 500 mil
crianças; no Brasil, a CTNBio já autorizou o plantio experimental de soja
tolerante ao 2,4-D).
Benbrook afirma que esses
herbicidas antigos representam riscos ambientais e à saúde notavelmente maiores
do que o glifosato. Nos EUA, o milho tolerante ao 2,4-D aguarda autorização.
Segundo Benbrook, sua aprovação poderá levar a um aumento adicional de 50% no
uso do herbicida nas lavouras de milho.
Com relação às lavouras tóxicas a
insetos cabe ressaltar que, de acordo com dados citados no estudo, o volume de
toxinas Bt produzidas por hectare por plantas de milho e algodão transgênicas
excede, em quase todos os casos, o volume de inseticidas substituído pelo
plantio da variedade Bt. Por exemplo, o milho Bt desenvolvido para eliminar a
lagarta-da-raiz-do-milho e outros insetos próximos expressa de 0,6 a 2,8 kg de
toxinas Bt por hectare, ao passo que dispensou apenas cerca de 0,2 kg de
inseticida por hectare. O milho transgênico chamado SmartStax, que sintetiza
três proteínas tóxicas à lagarta-do-cartucho e três proteínas tóxicas à
lagarta-da-raiz-do-milho, produz cerca de 4,2 kg de toxinas Bt por hectare, 19
vezes mais que a taxa média convencional de aplicação de inseticidas em 2010.
O pesquisador alerta ainda que as
lavouras de milho e algodão Bt tóxicas a insetos estão também provocando o
aumento de insetos resistentes e começam a reverter a tendência de queda no uso
de inseticidas. À agência de notícias Reuters, Benbrook declarou que “a
relativamente recente emergência e dispersão de populações de insetos
resistentes às toxinas Bt expressas no milho e no algodão transgênicos já
começaram a provocar aumento no uso de inseticidas, e continuarão a fazê-lo”.
Em entrevista, ele explicou que, “para que os insetos que atacam o milho e o
algodão parem de desenvolver resistência à toxina Bt, agricultores que plantam
variedades transgênicas estão sendo orientados a pulverizar os inseticidas que
o milho e o algodão Bt foram projetados para substituir”.
Entre as conclusões da pesquisa,
o autor alerta que os níveis de glifosato e de toxina Bt no ambiente, na
alimentação animal e nos alimentos destinados ao consumo humano aumentaram
substancialmente, criando uma miríade de novas vias de exposição. Para ele,
muitas novas pesquisas serão necessárias para traduzir essa maior exposição aos
venenos em riscos para os humanos, os animais e o meio ambiente.
Com informações de:
- Major US Study Shows that GM Crops Have
Caused Increase in Pesticide Use - Third World Network Biosafety Information
Service, 29/10/2012.
- Pesticide Use Rises as Herbicide-resistant
Weeds Undermine Performance of Major GE Crops, New WSU Study Shows - Washington
State University, 01/10/2012.
- Superweeds, Superpests: The Legacy of
Pesticides - New York Times website, 05/10/2012.
- Pesticide use ramping up as GMO crop
technology backfires: study -
Reuters, 02/10/2012.
- Summary of Major Findings and Definitions of
Important Terms - “Impacts of genetically engineered crops on pesticide use in
the U.S. – the first sixteen years” by Charles M. Benbrook – Washington State
University, 01/10/2012.
O artigo “Impacts of genetically engineered
crops on pesticide use in the U.S. – the first sixteen years” (Published in
Environmental Sciences Europe, Vol. 24:24 doi:10.1186/2190-4715-24-24, 28
September 2012.) está disponível na íntegra no site da revista Environmental
Sciences Europe: http://www.enveurope.com/content/pdf/2190-4715-24-24.pdf
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Neste número:
1. Associação Brasileira de Saúde
Coletiva lança terceira parte de dossiê sobre agrotóxicos
2. Marco Maia e ruralistas podem
votar fim da rotulagem de transgênicos
3. Governo contraria regra e
aprova agrotóxico mais nocivo à saúde
4. Governo do MT diminui
distância de aplicação de agrotóxicos em relação a cidades e nascentes
5. PNUMA lança relatório
alertando sobre contaminação química
A alternativa agroecológica
Carta do VIII EnconASA evidencia
a Política Nacional de Convivência com o Semiárido
Dica de fonte de informação:
Assista à vídeo-reportagem sobre
agrotóxicos produzida pelo Ciência Hoje Online durante o 1º Seminário
Agrotóxicos e Câncer, realizado pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA), no
Rio de Janeiro, nos dias 7 e 8 de novembro. O vídeo dá sequência à reportagem
de capa publicada na Ciência Hoje em setembro passado, que trouxe à baila a
generosidade do mercado brasileiro em relação a produtos tóxicos já banidos em
diversos países.
Evento:
I Encontro Anual do Fórum
Estadual de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos – RJ
Data: 6 e 7 de dezembro
Local: Auditório do MPRJ: Av.
Marechal Câmara, 370 – Castelo
Centro – Rio de Janeiro - RJ
Vagas limitadas. Faça sua
inscrição no site do MPRJ.
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1. Associação Brasileira de Saúde
Coletiva lança terceira parte de dossiê sobre agrotóxicos
Foi lançada em 16 de novembro a
terceira parte do dossiê sobre agrotóxicos da Associação Brasileira de Saúde
Coletiva – ABRASCO. O lançamento ocorreu durante o congresso da entidade,
conhecido como Abrascão, que ocorreu em Porto Alegre, RS. As primeiras duas
partes do dossiê “Um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde” foram
lançadas também este ano.
“O conhecimento é o foco da Parte
3 do Dossiê Abrasco – Um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde.
Depois de contemplarmos a segurança alimentar e nutricional na Parte 1, e de
problematizar as inter-relações entre o modelo de desenvolvimento agrário e a
sustentabilidade, no contexto da Rio+20 e da Cúpula dos Povos, na Parte 2,
debruçamo-nos agora sobre aquilo que é a substância elementar de nosso trabalho
na pesquisa, na educação, nos serviços de saúde, e também tema do X Congresso
Brasileiro de Saúde Coletiva (Porto Alegre, 2012): Ciência para a Cidadania.”
O dossiê conta com um prefácio
escrito pelo intelectual português Boaventura de Souza Santos. “Gostaria de
destacar que o Dossiê, em sua última etapa, constrói com ousadia o que tenho
conceituado como a Ecologia de Saberes. Não basta somente reunirmos todo o
conhecimento científico produzido pela ciência moderna, mas construirmos um
verdadeiro diálogo entre as vozes que emergem dos territórios e que nos trazem
informações que não estão nas grandes bases de dados oficiais.”
Boaventura se refere ao segundo
capitulo do dossiê, que é formado por cartas escritas por diversas populações
atingidas pelos agrotóxicos, e que vêm produzindo alternativas de produção
agroecológica. O dossiê conta ainda com um capítulo dedicado “ao necessário e
urgente exercício reflexivo sobre a Ciência Moderna – e nela a Saúde Coletiva,
para analisar suas contribuições no enfrentamento da complexa questão dos agrotóxicos,
identificar desafios e percorrer novos caminhos.” A última parte do documento
traz indicações de políticas, pesquisas e ações que se mostraram necessárias
para reverter o quadro em que nos encontramos.
A terceira parte do Dossiê, junto
com as outras duas, pode ser baixada do site:
http://greco.ppgi.ufrj.br/DossieVirtual/
Campanha Permanente Contra os
Agrotóxicos e pela Vida, 22/11/2012.
2. Marco Maia e ruralistas podem
votar fim da rotulagem de transgênicos
A proposta que acaba com a
rotulagem é de autoria do deputado ruralista Luiz Carlos Heinze (PP/RS) e foi
colocada na ordem do dia de votação na Câmara pelo presidente Marco Maia
(PT/RS)
Manobra levou o projeto direto a
votação em plenário, pulando análise das comissões
O PL proposto pelo deputado
Heinze entrou na pauta do plenário em 21/11. Ele acabou não sendo votado, mas
poderá voltar à pauta a qualquer momento. Vale ressaltar ainda que a proposta
entrou em pauta no plenário da Câmara dos Deputados sem passar por análise de
outras comissões, como manda o protocolo legislativo.
Sendo ignorado o procedimento
adequado de análise nas Comissões de Desenvolvimento Econômico, Indústria e
Comércio e na Comissão de Defesa do Consumidor, além da Comissão de
Constituição e Justiça e de Cidadania, o projeto de lei entrou novamente em
pauta com modificações em seu texto e aguarda votação no plenário.
O que diz o PL 4148/08?
A proposta elimina a informação
no rótulo se não for detectável a presença do transgênico no produto final – o
que exclui a maioria dos alimentos (como óleos, bolachas, margarinas,
enlatados, papinhas de bebê etc.); (2) não obriga a rotulagem dos alimentos de
origem animal alimentados com ração transgênica; (3) exclui o símbolo T que
hoje facilita a identificação da origem transgênica do alimento (como tem se
observado nos óleos de soja); e (4) não obriga a informação quanto à espécie
doadora do gene.
Resumo dos principais argumentos
contra o PL:
1) Fere o direito à escolha e à
informação assegurados pelo Código de Defesa do Consumidor, nos artigos 6º, II
e III e 31 e desrespeita a vontade dos cidadãos que já declararam que querem
saber se um alimento contém ou não ingrediente transgênico (74% da população –
IBOPE, 2001; 71% – IBOPE, 2002; 74% – IBOPE, 2003; e 70,6% – ISER, 2005).
2) Representa um retrocesso ao
direito garantido pelo Decreto Presidencial 4.680/03 (Decreto de Rotulagem de
Transgênicos) que impõe a rastreabilidade da cadeia de produção como meio de
garantir a informação e a qualidade do produto (vale lembrar que a
identificação da transgenia já é feita para a cobrança de royalties).
3) Impedir a informação da
característica não geneticamente modificada do produto é um desrespeito ao
direito dos consumidores, dos agricultores e das empresas alimentícias que
optam por produzir alimentos isentos de ingredientes transgênicos e tem como
única finalidade favorecer a produção de transgênicos.
4) A rotulagem de transgênicos é
medida de saúde pública relevante ao permitir o monitoramento pós-introdução no
mercado e pesquisas sobre os impactos na saúde.
5) Pode impactar fortemente as
exportações, na medida em que é grande a rejeição às espécies transgênicas em
vários países que importam alimentos do Brasil.
6) Descumpre compromissos
internacionais assumidos no âmbito do Protocolo de Cartagena sobre
Biossegurança, Acordo Internacional ratificado por 150 países, do qual o Brasil
é signatário. De acordo com o Protocolo, os países membros devem assegurar a
identificação de organismos vivos modificados nas importações/exportações,
destinados à alimentação humana e animal (artigo 18. 2. a).
7) Por fim, o Projeto de Lei em
questão contraria manifestação da sociedade civil brasileira que recomendou ao
Governo Brasileiro que durante a reunião da 6ª MOP-COP, em Hyderabad, Índia,
(outubro de 2012) se posicionasse de acordo com a recomendação do Secretariado
Executivo do Protocolo de Cartagena, nos moldes do informe
UNEP/CBD/BS/COPMOP/6/9, a favor da utilização de tecnologias e segregação e
rastreabilidade, já implementadas em países desenvolvidos, a fim de facilitar a
identificação dos OGMs.
Com informações de Idec em Foco,
29/11/2012.
3. Governo contraria regra e
aprova agrotóxico mais nocivo à saúde
A Anvisa (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária) contrariou procedimentos internos e aprovou, em
fevereiro, a liberação de um agrotóxico mais nocivo à saúde do que outro que já
estava à venda, com o mesmo princípio ativo e para o mesmo fim.
O inseticida para cana Singular
BR, da Ourofino Agronegócio, passou pela avaliação da Anvisa e obteve registro
no Ministério da Agricultura mesmo sendo mais tóxico do que seu produto de
referência, o Regent 800 WG, da Basf, há anos no mercado.
O Singular e outros seis produtos
de quatro empresas estão no centro das denúncias do ex-gerente de toxicologia
da Anvisa, Luiz Cláudio Meirelles, exonerado enquanto fazia apurações internas.
A lei dos agrotóxicos, de 1989,
proíbe o registro de um novo produto que seja mais tóxico do que outro já
registrado para o mesmo fim. O registro é obrigatório para um defensivo ser
comercializado.
O propósito da lei é proteger a
saúde humana e a natureza e estimular as empresas a buscar soluções
tecnológicas menos danosas.
A Anvisa disse, em nota, que esse
é um processo que está sendo auditado e que, por isso, só irá se pronunciar
depois das apurações.
De modo geral, porém, a agência
afirmou que passou a aprovar neste ano registros de produtos mais tóxicos que
os de referência. Antes, a Anvisa orientava as empresas a reformulá-los, de
modo a torná-los menos nocivos.
A mudança se baseou em parecer da
AGU (Advocacia-Geral da União), favorável ao pedido de uma empresa.
O parecer, de março, é posterior
à aprovação do Singular BR. O inseticida está com registro válido no Ministério
da Agricultura e deve ser lançado no próximo mês.
A Ourofino é a mesma empresa que,
em 2011, emprestou jatinho ao então ministro da Agricultura, Wagner Rossi
(PMDB). O episódio acelerou sua saída do governo. (...)
Folha de São Paulo, 29/11/2012 –
via Em Pratos Limpos.
4. Governo do MT diminui
distância de aplicação de agrotóxicos em relação a cidades e nascentes
Maior produtor de grãos do país,
Mato Grosso é também o maior usuário de insumos agrícolas do Brasil
A produção de grandes
monoculturas de exportação como a soja, o milho e o algodão está associada a um
intensivo uso de agrotóxicos. Maior produtor de grãos do Brasil, Mato Grosso
também é o maior usuário de insumos químicos em suas lavouras do Brasil, com
média de 113 milhões de litros ao ano.
Porém, a despeito de estudos que
apontam para os riscos de contaminação do lençol freático de alguns municípios
e dos danos à saúde humana, de animais e de impactos no ambiente em geral, o
Estado deu, em setembro, um passo atrás na questão ambiental. O Decreto 1.362,
em vigor desde o dia 13 de setembro, diminui a distância de aplicação terrestre
de agrotóxicos de cidades e nascentes.
As distâncias variavam entre 150
m e 300 m e passou a ser de 90 m. A medida atende aos interesses do
agronegócio, um dos grandes propulsores da economia do Estado, mas é avaliada
por pesquisadores e ambientalistas como um duro golpe no meio ambiente.
O texto do decreto, publicado no
Diário Oficial do Estado, regulamenta a Lei 8.588 de 2006 e revoga o Decreto
2.283 de 2009. As três matérias tratam das regras para o uso, aplicação,
produção, comércio e transporte de agrotóxicos.
O decreto de 2009 estabelecia
distância mínima de aplicação de 300 m de cidades e mananciais de captação de
água para abastecer a população; 150 m de mananciais, moradias isoladas e
agrupamentos de animais; e 200 m de nascentes.
As consequências para a saúde
humana do contato com agrotóxicos são devastadoras. As substâncias são
cancerígenas, neurotóxicas - causam depressão e irritabilidade – e provocam má
formação, além de outros problemas. Os insumos ficam acumulados no corpo e
podem ser detectados no leite materno, na urina e até mesmo no sangue.
Em comunicado, o Indea-MT
(Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso), informou que acompanhou os
debates sobre o tema e que a legislação anterior era “praticamente
inaplicável". Na nota, o instituto diz que o novo decreto traz
“tranquilidade” aos produtores rurais de Mato Grosso.
Em entrevista por telefone dias
após a divulgação da nota, o presidente do Indea-MT minimizou a questão. “Foi
realizado um estudo técnico antes de esse decreto ser baixado pelo Governo. A
aplicação já estava sendo feita com essa distância, então isso só foi
regulamentado”, disse Jurandir Ribas.
Porém, ambientalistas e pesquisadores
estão longe de compartilhar a mesma serenidade em relação à medida.
“O Estado está indo na contramão
de tudo que está sendo feito em todo o mundo. Ao publicar um decreto como esse,
cria mais um problema ambiental. O reflexo disso é que a situação, que já não é
boa, vai piorar ainda mais”, critica o médico sanitarista e pesquisador
Wanderley Pignati, da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso), que estuda
efeitos dos agrotóxicos há 10 anos.
Pignati foi um dos responsáveis
pelo estudo divulgado em 2011 que constatou a presença de agrotóxicos no leite
materno de mulheres de Lucas do Rio Verde.
Ele afirma ainda que a legislação
que estabelecia a distância mínima na aplicação dos agrotóxicos, “que já era
pequena”, nunca foi respeitada e que o decreto vai aumentar o risco de
contaminação da população.
“Realizamos estudos que revelam
que o lençol freático de Campo Verde, Lucas do Rio Verde e Primavera [do Leste]
está contaminado por agrotóxicos. O seja, a contaminação está além das áreas de
plantio. Diminuindo ainda mais a distância da aplicação, vai aumentar o
impacto”, avalia Pignati. (...)
O consumo de agrotóxicos em Lucas
do Rio Verde cresceu cerca de 70%, passando de 3,65 milhões de litros em 2005
para 5,16 milhões em 2009. A quantidade de utilização de produtos extremamente
tóxicos caiu 29%, mas os classificados como altamente tóxicos e pouco tóxicos
cresceram 41% e 60%, respectivamente.
Em Campo Verde, o consumo de
agrotóxicos subiu 20%, de 4,15 milhões de litros em 2005 para 4,92 milhões em
2009. (...)
MidiaNews, 14/10/2012.
5. PNUMA lança relatório
alertando sobre contaminação química
O Programa das Nações Unidas para
o Meio Ambiente (Pnuma) lançou em setembro um relatório alertando para os
perigos da contaminação química nos países em desenvolvimento. A questão
agrária é uma das preocupações do Pnuma, já que, segundo a Organização Mundial
da Saúde, pelo menos três milhões de pessoas são intoxicadas, anualmente, em
decorrência do uso de agrotóxicos.
Ciência Hoje On-line, 22/11/2012.
A alternativa agroecológica
Carta do VIII EnconASA evidencia
a Política Nacional de Convivência com o Semiárido
A Carta Política elaborada pela
ASA nos cinco dias do VIII Encontro Nacional (EnconASA) – realizado na última
semana (19 a 23 de novembro), na cidade de Januária, em Minas Gerais – anuncia
a estratégia traçada por uma política nacional de convivência com o Semiárido,
que não foi concebida em gabinetes, mas se torna real à medida que a sociedade
civil ocupa espaços na concepção e implementação de políticas públicas.
“A Carta anuncia um conjunto de
elementos e indicadores que gradativamente vão construindo um Semiárido viável.
A nossa política é ir ocupando o Semiárido com boas experiências nas várias
dimensões da proposta de convivência e a perspectiva é que estas ações sejam
financiadas pelo governo”, assegura Naidison Baptista, coordenador executivo da
ASA pelo estado da Bahia.
Em pleno processo de construção,
esta Política é uma prova concreta da importância da atuação da sociedade civil
na implementação de projetos de desenvolvimento sustentável não só para o
Semiárido, como para todo o país. “Isso significa que para cumprir sua missão,
o Estado não pode preterir a participação forte e ativa das organizações
sociais na concepção, execução e no monitoramento de políticas públicas”,
reforça um trecho do documento.
Esta Carta pauta as ações políticas
da ASA e também funciona como um documento público que aponta as reivindicações
da sociedade civil junto aos governos. Escrito em três blocos, o documento é
iniciado contextualizando um conjunto de vitórias e conquistas alcançadas pela
ASA ao longo de seus 13 anos. “Estamos chegando perto da democratização da água
de beber, a implantação [de tecnologias que armazenam] da água de produção está
numa crescente e executamos boas experiências de acesso à água para escolas”,
elenca.
No segundo bloco, a Carta traça
os desafios estruturais que instalam um cenário de injustiça, exclusão e
desrespeito da população do Semiárido. “Esse desrespeito se dá por parte das
mineradoras, do agronegócio e dos grandes projetos do governo que excluem as
pessoas de seu ambiente sob o álibi de que são incapazes e incompetentes”,
analisa Naidison.
Na terceira e última parte da
Carta, a ASA diz como vai continuar sua trajetória. “Neste ponto, nós
questionamos a nossa ação e descobrimos lacunas e elementos que precisam ser
aperfeiçoados”, comenta o representante da rede.
Surgem aí questões cruciais para
a ASA como: a defesa da aprovação de uma legislação que regule a relação entre
o Estado e a sociedade civil, o resgate das sementes nativas que estão
desaparecendo da região, a ampliação e qualificação do P1+2 como estratégia
fundamental da articulação e também a perspectiva de ocupação dos serviços de
Ater, pleiteando uma reformulação na sua proposta para que se torne permanente
e agroecológica.
Além destas dimensões, a Carta
cita também outros elementos que reforçam a política de convivência, como a
democratização dos meios de comunicação no ambiente rural, o acesso à terra e
garantia dos direitos territoriais das populações tradicionais, a
auto-organização das mulheres e o acesso à água potável para a população rural
nos municípios com dificuldades de acesso à água, mas que não estão incluídos
no Semiárido Legal, e para as populações de pequenos conglomerados urbanos.
A Carta Política será encaminhada
para a presidente Dilma Rousseff e governantes dos estados e municípios da
região semiárida. Também está sendo planejado um dia de mobilização nas redes
sociais para divulgação do documento com a participação das organizações que
fazem parte da ASA.
Leia a Carta Política na íntegra.
AS-PTA, 30/11/2012 (da ASACOM).
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Campanha Brasil Ecológico, Livre
de Transgênicos e Agrotóxicos
Este Boletim é produzido pela
AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia e é de livre reprodução e
circulação, desde que citada a AS-PTA como fonte.
Para os números anteriores do
Boletim, clique em: http://aspta.org.br
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