Cientistas medem distância entre galáxias com
precisão inédita
James
Morgan
Repórter de Ciência da BBC News
Cientistas mediram as
distâncias entre galáxias no universo com precisão inédita, de 99%.
O levantamento,
incrivelmente preciso, abrangendo 6 bilhões de anos-luz, é considerado
fundamental para o mapeamento do cosmos e da origem da energia escura.
O novo cálculo foi
feito pelo projeto Boss (Baryon Oscillation Spectroscopic Survey), usando o
Telescópio da Fundação Sloan no Novo México, Estados Unidos.
Os
resultados foram anunciados durante a 223ª reunião da Sociedade Americana de
Astronomia, em Washington.
O
principal pesquisador do projeto - o físico David Schlegel, do Laboratório
Nacional Lawrence Berkeley - disse que não existem muitas coisas nas nossas
vidas cotidianas que conhecemos com tal precisão.
"Hoje
sei mais sobre o tamanho do Universo do que sei sobre o tamanho da minha
casa", argumenta.
"Há
20 anos, astrônomos brigavam por causa de estimativas que diferiam em torno de
50%. Cinco anos atrás, o grau de incerteza foi reduzido a 5% e, um ano atrás,
ele era 2%. Precisão com margem (de incerteza) de 1% vai ser o novo parâmetro
durante muito tempo."
Distâncias intergalácticas
A
equipe do Boss usou oscilações acústicas dos bárions (BAOs, na sigla em inglês)
como "a régua-padrão" para medir distâncias intergalácticas.
BAOs
são as impressões "congeladas" criadas pela ondas de pressão que se
moveram logo no início do Universo - e que influem na distribuição das galáxias
que vemos hoje.
"A
natureza nos deu uma linda régua", disse Ashley Ross, astrônomo da
Universidade de Portsmouth, na Inglaterra. "E essa régua tem meio bilhão
de anos-luz de comprimento, então podemos usá-la para medir distâncias com
precisão, mesmo que desde muito longe."
Determinar
distâncias é um dos grandes desafios da astronomia: "Uma vez que você sabe
quão longe (algo) está, aprender todas as outras coisas a respeito disso
torna-se, repentinamente, muito mais fácil", disse Daniel Eisenstein,
diretor do Sloan Digital Sky Survey III.
Plano
As
distâncias disponibilizadas pelo Boss vão ajudar a calibrar propriedades
cosmológicas fundamentais - por exemplo, como a "energia escura"
acelera a expansão do universo.
Os
resultados mais recentes indicam que a energia escura é uma constante
cosmológica cuja força não varia no espaço ou tempo.
O
projeto também traz uma estimativa excelente da curvatura do espaço.
"A
resposta é, (o espaço) não é muito curvado. O Universo é extraordinariamente
plano", disse Schlegel.
"E
isso tem implicações sobre a questão da infinitude do Universo. Embora não possamos
dizer com certeza, é provável que o Universo se estenda para sempre no espaço e
continue para sempre no tempo. Nossos resultados são consistentes com (a
hipótese) de um Universo infinito."
Quando
o projeto Boss tiver sido completado, o levantamento terá reunido espectros de
alta qualidade de 1,3 milhão de galáxias, 160 mil quasares (misteriosos corpos
celestes encontrados nos confins do Universo que emitem quantidades imensas de
radiação) e milhares de outros objetos astronômicos.
Uma
análise dos dados atuais - 90% do total - foi publicada no server Arxiv. Os
resultados finais deverão ser divulgados em junho.
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