A Fé do Muslim
Tem sido já mencionado que a Fé sem ação pratica é um
dilema sem saída, no que diz respeito ao Islam. Pela sua natureza, a Fé é
muito sensível e pode ser sumamente eficiente. Na falta de pratica ou
uso, logo perde a vitalidade e a força de motivação. A única maneira de
vitalizar a Fé e de fazer servir o seu próprio fim é a pratica. A
pratica é a que concede a Fé o seu alimento, sobrevivência e eficiência.
Em troca, a Fé é a que inspira ao homem a Constância na sua devoção e a
perseverança na sua pratica. Isso é porque a correlação entre a Fé e a
pratica é fortíssima, e a interdependência das duas é desde já
compreensível. Uma pessoa sem fé carece de qualquer fonte verdadeira de
inspiração e, portanto, não tem nenhum objetivo digno de realização ou
mesmo de aspiração. A vida tal pessoa carece de sentido, é viver o dia a
dia, o que não é viver. Por outro lado, a pessoa que reconhece a Fé,
mas não pratica engana-se a si própria, e de fato não tem Fé nenhuma;
neste caso, ela não é mais do que uma pobre criatura vazia e errante.
A correlação entre a Fé e a pratica no Islam reflete-se
vivamente em todos o edifício da religião e põe de manifesto a profunda
filosofia dos seus ensinamentos. O Islam não reconhece nenhuma separação
entre alma e o corpo, o espírito e a matéria, a religião e a vida,
Aceita o homem assim como Deus o criou e reconhece-lhe a natureza como
sendo composta de alma e corpo. Não negligencia a natureza espiritual do
homem, senão, este seria como qualquer animal. Nem menospreza as suas
necessidades físicas; senão, seria um anjo, o que não é e não pode ser.
Conforme o Islam, o homem fica no centro do fluxo da criação. Ele não é
puramente espiritual, porque os seres puramente espirituais são os anjos
e o único Ser acima dos anjos é Deus. Ele não é inteiramente material
ou físico, porque os únicos seres desta classe são os animais e outras
criaturas irracionais. Devido a esta sua natureza complementar, o homem
tem exigências paralelas e necessidades paralelas: espirituais e
materiais, morais e físicas. A religião capaz de ajudar o homem e de o
aproximar de Deus é a religião que leva em conta todas estas exigências e
necessidades, a religião que eleva o estado espiritual e disciplina os
desejos físicos. E esta é a religião do Islam.
A opressão de um dos dois lados da natureza humana, ou a
perturbação do equilíbrio, ou a inclinação para uma direção só, seria
uma contradição abusiva para com a natureza humana, assim como um
irresponsável desafio a própria natureza de que Deus criou o homem.
Por reconhecer completamente a natureza humana tal como é, e
por estar altamente interessado no seu bem-estar, tanto espiritual como
material, o Islam não considera a religião como um assunto pessoal ou
como uma entidade separada da vida quotidiana geral. Noutras palavras, a
religião só tem valor se os seus ensinamentos marcarem efetivamente a
vida pessoal e publica de cada ser. Por outro lado, a vida carece de
sentido se não for organizada e guiada pela Lei Divina. Isso explica a
razão porque o Islam estende o seu sentido de organização a todos os
campos da vida: comportamento individual e social, trabalho e industria,
economia e política, relações nacionais e internacionais, etc. Também
demonstra a razão porque o Islam não reconhece o “secularismo” ou a
separação da religião das ações diárias do homem. A interação entre a
verdadeira religião e a vida cheia de sentido é vital. Por isso, o Islam
penetra em todas as esferas da vida para guiar todas as atividades
humanas de maneira sã e integral, aceitável por Deus e bondosa para com o
homem.
Em resultado desta correspondência necessária entre a
verdadeira religião e a vida quotidiana, o Islam não segue a doutrina
dos “seis dias para o para mundo e um dia para o senhor”. Tal doutrina
parece-nos que enfraquece a vitalidade da religião. Além disso,
manifesta uma grave injustiça feita a Deus pelo homem e acabrunha a alma
deste por sérios prejuízos. É uma grave negligencia das necessidades
espirituais e morais que são tão importantes como os desejos materiais,
se não ainda mais importantes do que estes. É uma perigosa deformação da
natureza do homem, e tal desequilíbrio é sinal de degeneração. De modo
semelhante, se o homem estabelecer seis dias para a devoção ou meditação
exclusiva e um dia para si próprio, ele não seria nada melhor. O
equilíbrio não deixaria de estar perturbado. Portanto, a solução natural
e lógica é a oferecida pelo o Islam. Por ter uma natureza complementar e
por ficar no centro da corrente da criação, o homem correrá grave
perigos se negligenciar quer uma alma, quer o seu corpo, ou se permitir a
um dos dois dominar o outro. Alimentar os dois, sustentar os dois de
maneira sã e equilibrada, eis a mais difícil prova do sentimento humano
da justiça e da integridade assim como da força a passar esta prova, o
Islam tem-lhe acudido com o auxilio das praticas regulares da Fé.
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